Vamos falar sobre autismo?
Texto: Louise Zin
Revisão: Samantha Souza
Nos dias 4 e 5 de novembro, aconteceu o “V Encontro de Psicanálise – Autismos: Modalidades de Laços do Sujeito“. O evento online foi organizado pelo programa Pintando o Setting: Clínica do Autismo. Além da abertura com os coordenadores do programa, o Dr. Roberto Calazans e a Dra. Maria Gláucia P. Calzavara, o evento contou com 3 mesas. A primeira, que ocorreu no dia 4, com a Dra. Kelly Cristina Brandão e a Ma. Jaquelina Vieira Rangel, abordou o tema “Educação e Inclusão”. Já no dia 5, com a temática “Autismo e Família”, palestraram o Dr. Roberto Calazans e a Ma. Jéssyca Carvalho. A terceira e última mesa, composta pela Dra. Inês Catão e Dra. Maria Eugênia Pesaro, abordou o tema “A Clínica do Autismo com Bebês”.
De acordo com o Manual de Diagnóstico DSM-5, o transtorno do espectro autista (TEA) tem um diagnóstico fluido, variando em níveis e sintomas apresentados em cada caso. É frequentemente associado com um comprometimento no intelecto e fala, gerando preconceito e exclusão do indivíduo na comunidade. É importante enfatizar que o transtorno do espectro autista se encaixa em um grupo chamado Transtornos Invasivos do Desenvolvimento. Estes estão ligados aos mecanismos cerebrais de sociabilidade, o que faz com que pessoas dentro do espectro tenham mais dificuldade em se desenvolver no meio social, cognitivamente e na área da comunicação, o que pode trazer prejuízos para interações sociais.
Jéssyca Carvalho, Psicóloga Clínica pela UFSJ e integrante do Programa de Extensão Pintando o Setting, ressalta que eventos como este trazem à tona várias questões que podem esclarecer impasses comuns no discurso sobre autismo, pois, segundo ela, a psicanálise amplia os horizontes e prepara para um processo de desestimatigação, que é fundamental para o convívio social de uma pessoa no espectro e seus familiares. Ela ainda afirma que o diagnóstico autista sempre gera impactos não apenas para o indivíduo, mas também para sua família.
Daniele Muffato, presidente da ASPAS – Associação Pró Autistas, afirma que os temas abordados no evento são de grande importância, especialmente, porque trazem a discussão da inserção do autista na sociedade. Ela afirma que as famílias que chegam em seu projeto são munidas de informações, principalmente, para que o medo que envolve o estereótipo do diagnóstico não se concretize. A entrevistada destaca que as famílias, assim como as pessoas dentro do espectro, devem ser acolhidas, cuidadas e protegidas.
Renata Gonçalves, doutoranda em Psicologia pela UFSJ e integrante do Projeto Pintando o Setting, foi a mediadora do evento, ela conta que sua experiência foi surpreendente:
— “Fiz parte da organização do evento junto a outros colegas integrantes do projeto e aos professores Roberto Calazans e Glaucia Calzavara. Desde o início, pensamos em estruturar o evento com mesas que dialogassem entre si e que trouxessem questões relevantes como educação, inclusão, famílias e clínica com bebês. As questões pontuais e atuais tratadas nas mesas possibilitaram que tivéssemos um retorno positivo do público. Fiquei surpresa e contente com o feedback daqueles que estiveram presente e que nos procuraram para dialogar após nosso evento.”
Sobre a importância de eventos como esse, Daniele afirma:
— “O movimento de conscientização sobre o autismo é importante para toda a comunidade, pois ele explica o que é o autismo e como se manifesta, mesmo que se manifeste em cada um de uma forma. Ensina a todos nós a refletir e a aprender a lidar com as questões mais complexas do TEA, principalmente trazendo o próprio autista para esse lugar de fala.”