Tradição e comunicação integram a história do Jornal do Poste, fundado em São João del-Rei, na década de 50
Nome foi inspirado no costume de Dona Adelina, que fixava notícias curiosas e fofocas nos postes da cidade
Por Júlia Resende
Pregado em pontos estratégicos da cidade, de grande movimento, o Jornal do Poste é a representação histórica do jornalismo sanjoanense. Com foco nas notícias da região, o informativo é divulgado em forma de mural, atraindo leitores mesmo após décadas de sua criação. Ele funciona como veículo de comunicação muito utilizado pelos órgãos públicos, para divulgar informações relevantes para a população no geral.
Em 2010, a professora doutora Eliana Tolentino iniciou um projeto de catalogação, digitalização e armazenamento dos exemplares do ‘Jornal do Poste’. Em entrevista, ela explica que estava procurando um objeto de estudo para o Mestrado e, por isso, frequentava a Biblioteca Municipal Baptista Caetano, em São João del Rei. Numa dessas visitas, a funcionária falou que precisava despachar os arquivos do Jornal do Poste, o que motivou Eliana a buscar autorização para levar o Jornal para a UFSJ, tendo resultado positivo. Nesse contexto, além de fonte de informação, o jornal foi minuciosamente estudado e preservado.
Já para Dejair José, 67 anos, leitor do Jornal do Poste, o folhetim é uma forma de se manter atualizado e ficar por dentro do noticiário local. Mas, o que muitos não sabem, é que foi inspirado em uma prática de fixar notícias curiosas nos postes do centro da cidade, adotada por Dona Adelina Corroti, em 1910. Alguns anos depois, Joanino Lobosque Neto, sócio do irmão de Tancredo Neves e músico violinista, decidiu fundar o Jornal do Poste em 1952.
Na época, a redação funcionava no mesmo local que Joanino mantinha um salão de festas, onde reunia vários amigos, incluindo muitos políticos. A professora Eliana revela que durante sua pesquisa, foi possível traçar alguns elementos da comunicação utilizados por Joanino em suas produções, como a mudança de linguagem de acordo com o público (políticos, moradores da zona rural, moradores da cidade).
Em uma fase de pouca veiculação local de notícias, o Jornal do Poste funcionava como principal fonte confiável de informação da cidade e, muitas vezes, a população recorria ao seu fundador para verificar a veracidade e para saber de notícias quentes.
Com a morte de Joanino, em 1985, Firmino Monteiro foi quem comprou o Jornal do Poste de seus herdeiros. A Era de Firmino no veículo foi marcada pela sua ousadia e independência ao se expressar, o que originou processos de leitores descontentes. Ainda assim, muitas vezes, ele conseguia grandes furos jornalísticos, principalmente em assuntos políticos. O Jornal passou por momentos de grande ascensão, em que conquistou credibilidade pela sua originalidade, veracidade e praticidade, tendo sido reconhecido como impresso rápido a nível nacional, por ter soltado até cinco edições por dia, segundo Eliana.
Motivado por manter a tradição, Cláudio Monteiro, 52 anos, foi quem assumiu o Jornal do Poste após a morte do pai (Firmino Monteiro) em 1991. Em entrevista, ele conta que quando iniciou seu trabalho, a sede do Jornal ainda era no Largo do Carmo, por onde permaneceu pelos próximos 13 anos. Após esse período, montou a redação em um espaço próprio no bairro Tejuco, próximo à ponte conhecida como “Ponte das Águas Férreas”.
Hoje, ele já recebeu vários pesquisadores e veículos de comunicação que contam a história do famoso folhetim sanjoanense, dentre eles, a Rede Globo, a Tv Record e estudantes da Universidade Federal de Brasília, que gravaram um curta-metragem sobre o tema para um concurso da faculdade.
A produção das edições com a evolução dos meios de comunicação
Durante esses anos, Cláudio percebeu uma evolução na forma de apurar e contar histórias. Ele se recorda que já cobriu muitos crimes cometidos em São João, principalmente assassinatos, e que ele mesmo fazia as fotos com sua câmera, revelava o filme e publicava nas matérias. Com o tempo, fez curso de datilografia e informática, criando uma forma de imprimir as edições em folhas compridas até hoje, mantendo a diagramação original do Jornal do Poste.
Sobre os detalhes técnicos da produção, o jornal é postado semanalmente em pontos da cidade, sendo três no Centro: ao lado da sede da Prefeitura Municipal, no antigo terminal rodoviário e no Calçadão; um no bairro Tejuco, ao lado de uma padaria e um no bairro Matosinhos. Cláudio planeja voltar a postar na UFSJ, como era feito há alguns anos. Quanto às editorias, afirma que o que atrai os leitores é o fato do noticiário ser local.
Cada edição conta com um espaço destinado a informativos da Prefeitura, assim como a editoria policial. Ele explica que a Prefeitura, que contratou o serviço do Jornal, já manda os informativos a serem publicados, assim como a Polícia Militar encaminha releases e fotos das principais ações. Além desses temas, também são publicados assuntos que estão acontecendo na cidade. Mesmo durante a pandemia, as edições continuaram, servindo como forma de disseminar as informações de saúde pelo Poder Público Municipal.
Dessa forma, é evidente que o Jornal do Poste passou por várias transformações em suas várias décadas de existência. A mais recente atualização foi a construção do site, há cerca de um ano,e que, segundo Cláudio, veio para valorizar o trabalho e atingir um público maior.