Por Geovana Nunes, Letícia Vilela e Rebeca Costa

Crédito da imagem: Geovana Nunes

 

O coração acelerado. Adrenalina correndo e pulsando. O aconchego chega a ser um abraço pelas casinhas de uma rua cheia de memórias. As luzes penduradas de uma ponta a outra da rua não eram tão promissoras ou brilhantes como o futuro.

O corpo chegava a tremer de emoção ao subir pelas pedras. Era quarta-feira. E a semana não era a mesma sem o som das batucadas de um forró. E era lata, garrafa, papel, cigarro, guardanapo e adesivo de político, de república, de comércio. Era papel. Era lixo subindo pelas paredes.

A rua estreita apinhada de gente. Gente de todo tipo, todo gosto, todo cheiro, todo sabor, toda cor. As casas, mais velhas que andar para trás, com mensagens escritas de amor, prosperidade, glória e ode a uma vida.

Mas tinha vida, que não era vista. O lixo não subia e sumia. Alguém tirava ele de lá. Mas era muita falação, uma música meio estranha. Era uma mistura de som. Nem dava para ouvir a latinha sendo amassada. Pisadas e reviradas. Latas que às vezes não eram apenas de bebidas. Eram de líquidos que derretiam isopor. 

Todo lixo ia para o chão. Não tinha lixeira. Lixeira nenhuma. Em toda extensão da rua. Mas… sinceramente, que bêbado procura lixeira no meio da muvuca? No meio de uma rua escura, quase sem poste? É tão simples deixar a lata correr pelos dedos… escorrer pelas mãos. 

E era meio místico, até. As latas desapareciam! O papel sumia! Era o tempo de um gole e outro e tcharam! Sumiu! 

E a noite seguia, a vida seguia. O lixo só incomodava quando o cheiro batia à porta. Quando o corpo do porco morto aparecia na beira do rio. Na beira da rua. Perto do seu supermercado do coração, de onde você sai com um bolo de chocolate cheio de açúcar, dentro de uma sacola. Porque só incomoda quando te perturba. Quando você pisa no chorume e precisa desviar das sacolas e sacolas de lixo fedorento. Quando a sua avenida está em obra e não dá para atravessar. Quando é com você. Porque pimenta nos olhos dos outros é refresco.

Mas quem são os outros? São aqueles que pegam as latinhas no chão? Quem são aqueles? Quem são eles? E quem é você? Existe mesmo um abismo entre essas possibilidades de existir? Você vê os outros? Ou só vê você? 

Porque a quarta segue para mim, para você, para eles. Para nós.