Mestre Telê e a sua trajetória em São João del-Rei
Quem poderia imaginar que um dos maiores técnicos da história do futebol mundial saiu do campo na Avenida Leite de Castro? O franzino garoto Telê Santana da Silva foi jogador e filho do fundador do América de São João del – Rei. Aos 18 anos, foi para o Rio e Janeiro e começou uma das mais ricas trajetórias do futebol brasileiro.
Nascido em Itabirito, em 1931, Telê foi criado pela tia, porém com o falecimento de dona Maria Faustina da Silva, o garoto teve que se mudar para a casa dos pais, em São João del-Rei. Chegando à cidade, o jovem não poderia ter encontrado um cenário melhor: Seu pai João Veríssimo da Silva, tinha fundado o América Recreativo e Futebol. “O Sr. Zico (pai), era presidente e treinador, ele dominava a coisa, era bravo e não admitia moleza em campo”, conta o Sr. José Dilascio Teixeira, primeiro secretário do clube, hoje com 88 anos.
Em São João del-Rei, o adolescente prosseguiu com sua vida. Ex-colega de classe de Telê, Dona Zouma Maira Bassi lembra de uma curiosa história: “Eu ganhei de presente do meu avô uma caixa de lápis com 24 cores. O Telê pediu um, e eu falei que, se tirasse, ficaria incompleto. Ele foi na minha ausência e pegou um, eu briguei com ele e, como recompensa, ele meu deu uma caixa nova”, conta ela, que foi a primeira rainha do América e esposa do Sr. José Teixeira.
João Veríssimo da Silva?
A paixão pelo futebol de Telê Santana era algo comum na família. Seu pai foi goleiro do América Mineiro entre 1927 e 1928. Um fato curioso sobre o Sr. Zico era que, até a adolescência, era conhecido por outro nome. Segundo seu sobrinho Jorivê Jr., quando seu tio foi buscar o documento de identidade em Belo Horizonte, deixou sua impaciência falar mais forte: “Quando vovô saiu do interior – e naquela época tudo era mais difícil – para procurar sua certidão de identidade, chegou lá, tinha uma com o nome João Veríssimo. A partir daí, ele adotou esse nome, se casou e foi sepultado com ele”, conta Jorivê.
Há controvérsias
Após se destacar nos gramados são joanenses, Telê despertou a atenção de pessoas ligadas a clubes cariocas. Porém, sua saída do América rendeu várias histórias. Para muitos, o jogador foi para o Rio de Janeiro jogar no Fluminense. Entretanto, há uma história, contada pelo seu sobrinho, Jorivê Jr., de que, na verdade, Telê teria ido para o Botafogo. Na sede do time da estrela solitária, um olheiro do Fluminense teria pedido ao jogador que “pulasse o muro” para ir jogar na equipe das Laranjeiras.
Seu pai, que se importava com a palavra empenhada, não queria que o filho jogasse no Fluminense, pois já tinha se comprometido com o Botafogo. Apesar dos esforços do Sr. Zico, Telê vestiu a camisa tricolor.
Jogador e Treinador
No time carioca, Telê ganhou reconhecimento nacional. Tanto que foi organizado o concurso “Dê um slogan para Telê Santana e ganhe 5 mil cruzeiros”. O apelido escolhido foi “Fio de esperança”, pois o jogador era franzino, pesava 57 kg. Ainda como jogador, teve passagens por Guarani, Madureira e Vasco da Gama.
Iniciou sua carreira de treinador nas categorias de base do Fluminense. Posteriormente, treinou o time profissional. Foi campeão carioca pelo time tricolor, em 1969. Pelo Atlético Mineiro, foi campeão brasileiro em 1971. Passou pelo Botafogo, Grêmio e Palmeiras, até chegar à Seleção Brasileira, em 1980, que, para muitos, foi o melhor time de todos os tempos. Após os derrotas nas Copas de 1982 e 1986, Telê foi taxado de “pé frio”, mas nem por isso se deixou abater. “Telê era um cara centrado, nunca se lastimava, sempre focado. Muito alegre na família e muito carrancudo fora”, revela o sobrinho Jorivê Jr.
Apesar de ter retornado algumas vezes a São João del – Rei, alguns integrantes da velha guarda do América ficaram ressentidos com a ausência de Telê na cidade. Segundo José Teixeira, primeiro secretário do clube, o treinador não deu atenção ao clube são joanense.
Depois das derrotas em copas, Telê deu a volta por cima, consagrando-se bicampeão mundial pelo São Paulo.
O mestre Telê faleceu em abril de 2006, aos 74 anos. O vice-presidente do América Celso Pinto se comprometeu a manter viva a memória do treinador: “Faço questão de procurar os clubes que Telê tem uma história, para fazer viva a sua memória. Fala-se muito em Itabirito, mas a verdadeira história foi em São João del-Rei. Foi a escada para alcançar algo maior na vida.”
Texto: VAN/Diego Cabral, Barbara Barreto e João Henrique Castro
Foto de Capa: Face do América, divulgação
Foto Documento: Diego Cabral
Foto Final: Divulgação