Tapetes efêmeros, emoções permanentes
Este ano, a Semana Santa em São João del-Rei foi marcada mais uma vez por um atrativo que há anos encanta os sanjoanenses. Coloridos e emocionantes, os tapetes de rua atraíram muitos turistas e moradores da cidade. Montados na quinta-feira, dia 04, e na sexta-feira santa, os tapetes no largo do São Francisco foram organizados e confeccionados pelo grupo Atitude Cultural (projeto que realiza inúmeros eventos sócio-culturais e pesquisas junto à comunidade e região), juntamente com a participação de crianças, da comunidade e de artistas locais.
Atuando desde pequeno na confecção dos tapetes de rua, Hugo Haddad cria mandalas centrais nos tapetes há cinco anos. O estudante de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) comenta que sua mãe o incentivou a fazer os tapetes: “A tradição é muito bacana e não só os artistas estão fazendo, mas muita gente vem ajudar e quem quiser podia ter ajudado. É uma causa que é feita em união, na qual todos que querem participam”.
Os tapetes começam a ser planejados com meses de antecedência, já que precisa se estudar um novo tema, com desenhos milimetricamente esboçados, o que faz da arte de sua confecção uma grande manifestação da fé e da cultura nacional, valorizando as tradições religiosas expressivas da história.
É o primeiro ano que Clélia Regina Rodrigues participa da confecção dos tapetes. Artesã há muito tempo, ela diz que a arte está no sangue: “A confecção de tapetes é uma tradição milenar, dos tempos de Cristo. Aqui na cidade começamos a recuperar isso há mais ou menos 12 anos. Está acabando tudo, queremos resgatar”.
“É um atrativo para todos os turistas, não só brasileiros, mas também do exterior. Os tapetes e as cerimônias são lindas, acontecem coisas que não vemos em nenhuma parte do mundo”, afirma Nilton Rios. O turista deixa Belo Horizonte todos os anos para participar da Semana Santa em São João del-Rei, mesmo não tendo família na cidade. Rios ressalta a importância da valorização da cultura e a tradição da cidade, que para ele é interessantíssima: “São João del-Rei está de parabéns! Este é o primeiro ano que acompanho a confecção, porque sempre via os tapetes prontos. Estou achando maravilhoso. O mais interessante é ver a participação da juventude. Estou com a câmera e vou registrar tudo”, completa.
Arte correndo nas veias
A coordenadora do Atitude Cultural, Alzira Agostini Haddad, ficou muito satisfeita com a montagem dos tapetes de rua desse ano: “Eu fiquei muito feliz, achei muito bonito. O trabalho, todo mundo trabalhou super bem, foi ótimo”.
A produção destes tapetes é uma tradição que, ainda hoje, é percebida em várias cidades mineiras que foram fundadas durante a colonização portuguesa nas Minas Gerais. Tradição herdada dos portugueses e açorianos, os tapetes de borra de café, serragem, areia, flores e outros materiais são inspirados em crenças religiosas, enaltecidas pelo período da Semana Santa.
O escultor sanjoanense Fernando Pedersini participa da confecção dos tapetes de rua desde 2000. Pedersini vê que atualmente o apoio e admiração pela arte adquiriram um campo “cem vezes maior” que antigamente. E acrescenta: “Já soube de muitos turistas que vieram à cidade de São João del-Rei durante a Semana Santa não só pela religiosidade, mas também pela arte dos tapetes”.
Pedersini é amante da arte representativa e religiosa e acredita que para confeccionar os tapetes é preciso disposição, boa vontade, bom humor e sempre a consciência de que o que está sendo feito não é apenas para os que coordenam ou observam e sim por uma causa maior.
Reportagem: Rômer Castanheira.
Fotos 1 e 3: Rômer Castanheira.
Foto 2: São João del-Rei transparente.
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