Sobre remelexos desengonçados e risadas descontroladas
Sou pequena e me sinto menor ainda. Escuto um som que batuca e envolve meu corpo todo vindo lá do alto da ladeira. Os ritmistas seguem descendo a rua de pedra com fôlego, força e compasso. O som vai tomando conta do que sou e de repente sinto lá dentro, no fundo do peito, aquele batuque ritmado tocar.
Olho pela calçada, todas as pessoas amontoadas, com o olhar fixo para o mesmo lugar e um sorriso no rosto de quem esperou por isso o ano todo. O clima é quente, o que faz com que a alegria efervesça mais ainda em cada gesto, gingado, molejo e canto. É como se o tempo parasse, coo se as preocupações e as correrias diárias sumissem desse plano. O que importa aqui são apenas os detalhes de um mundo colorido, sonhado, pensado e elaborado para arrastar multidões pelas ruas da cidade.
E é um sucesso!
Pessoas conhecidas ou não, remexem o corpo, se jogam na batida, sorriem a cada rebolado engraçado, a cada momento inesperado. Sorriem umas para as outras, se esbarram sem se importar. Não existe diferença, não existe impedimento, não existe complicação. A folia se torna grande e a imensa avenida, de repente, se torna pequena. Paro e reparo naquela imensidão de mar de gente, todas reunidas pelo mesmo sentimento que as deixam levar, alegria e sorrisos que deixam leveza no olhar.
As fantasias pesadas e quentes não são nenhum impedimento para que os foliões se remexam e sigam a coreografia ensaiada, demonstrando aos olhos presentes o quão contagiante isso é. Os foliões são inundados da imensa satisfação que o momento proporciona, em que não existe cor, classe, religião ou posição política, existe o carnaval.
E que momento!
Homens, mulheres, crianças, cachorros e quem mais vier se embalam, se misturam, se alegram, uns atrás dos outros. Pulam, se divertem, caem na folia! Olho para dentro de alguns olhares ali presentes e me remonto a minha pequenez novamente, em como sinto a batida dentro de mim, tomando conta do meu corpo, do batimento cardíaco do meu peito e da emoção daquelas pessoas.
Gostaria que o carnaval perdurasse mais tempo que esses poucos dias de muito samba e rebolado. As pessoas aqui, nessa avenida, não parecem nem um pouco cansadas ou entediadas com o mundo lá fora. Esse mundo aqui, dentro desse compasso ritmado mostra suas cores de proporções imensuráveis. Tá no olhar de cada um, tá no remelexo desengonçado, tá nas risadas descontroladas, tá na fusão de pessoas, batuques e cores.
Só caindo nessa folia para entender do que é que tô falando! Você não vai ficar de fora, vai?
TEXTO/VAN: Vanessa Vicente