SJDR não tem política pública para recolhimento do lixo eletrônico
Iniciativas individuais tentam solucionar problema, mas 43% da população descarta pilhas, celulares e baterias junto aos resíduos comuns
O problema do lixo em São João del-Rei não se prende apenas às influências do passado. Ainda que seja uma cidade com grande apego às tradições, seus moradores também percebem os impactos do progresso mundial em suas vidas. Com a presença cada vez maior de aparelhos tecnológicos no cotidiano das pessoas, surge um novo problema: o descarte desse tipo de equipamento gera um novo tipo de resíduo, o lixo eletrônico, também conhecido como e-waste.
Quando despejado no meio ambiente, o e-waste pode causar diversos problemas. E a falta de um local apropriado para descarte torna inevitável o despejo do lixo eletrônico junto com os outros tipos de lixo.
Segundo o diretor de Meio Ambiente da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Sustentabilidade de São João del-Rei, Dalmar Trindade de Moura, não há informações sobre o despejo de lixo eletrônico na cidade: “A gente sabe que não existe separação. Quando as pessoas descartam, descartam tudo junto”.
A cidade não possui projetos públicos de recolhimento ou de conscientização da população, o que dificulta a educação e o descarte correto por parte dos moradores.
A ausência de dados não vem só do poder público municipal e é um grande dificultador para entender a real situação do lixo eletrônico em São João del-Rei. O escritório do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na cidade não possui qualquer informação sobre esse assunto, assim como a Associação dos Catadores de Material Reciclável de São João del-Rei (Ascas).
A estudante de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), Karen Alves, utilizou do espaço acadêmico para diminuir o impacto do descarte incorreto do lixo na cidade . Para seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), a futura engenheira realizou um projeto que visava a analisar a aplicação de um programa de coleta de lixo eletrônico em São João del-Rei.
Karen conta que a coleta aconteceu no dia 8 de julho deste ano, entre 8h e 16h, com o apoio da empresa Mlj Ferro Velho e Reciclagem, que disponibilizou caminhão e motorista no dia da coleta para levar o material recolhido à destinação correta. Nas oito horas de arrecadação, foram recolhidos 1.710 kg de lixo eletrônico.
Karen aponta alguns dos problemas que fizeram com que ela optasse por esse tema para seu TCC: “Por vivermos numa sociedade cada vez mais capitalista, o volume de lixo eletrônico descartado está cada vez maior. E por conter metais pesados, é altamente nocivo ao homem e ao meio ambiente”.
Os números do E-waste em SJDR
Junto com a coleta, foi aplicado um questionário a 384 pessoas, a fim de buscar entender o grau de conhecimento do são-joanense sobre o assunto. Do total de entrevistados, 85,7% alegaram saber o que é o lixo eletrônico, enquanto 14,3% admitiram não ter conhecimento sobre o assunto.
Quando perguntados sobre o que faziam com esse tipo de material, 47% responderam que o deixam em casa, enquanto 43% descartam-no como lixo comum. Já 24% doam para instituições ou pessoas que reaproveitam o material, e 5% devolvem o produto para a loja ou empresa onde o adquiriram. Os resultados não somam 100% porque foi permitido marcar mais uma opção no questionário.
Apenas 13% do lixo eletrônico produzido no mundo é reciclado
Ásia é o continente que mais descarta lixo, enquanto o Brasil é o campeão na América Latina
O fenômeno do lixo eletrônico é global, como aponta a estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU). Apenas 13% do lixo eletrônico produzido mundialmente é reciclado. Ainda segundo a ONU, o Brasil produziu, só em 2014, em média, 1,4 milhões de toneladas de lixo eletrônico, reciclando apenas 2% desse montante.
No ano seguinte, a GSM Association, organizadora mundial de operadoras e fornecedores de telecomunicação, realizou uma pesquisa sobre o descarte de telefones celulares no mundo. O Brasil foi o país que mais descartou lixo eletrônico em toda a América Latina, correspondendo a 3,5% do lixo produzido no mundo.
Ainda segundo essa pesquisa, a Ásia é o continente que mais descarta lixo eletrônico no mundo, com um montante 16 mil toneladas em 2014. seguido da Europa (11 mil), América do Norte (7 mil), América do Sul (3 mil), África (1 mil) e Oceania (600).
As previsões para 2018 não são animadoras. Se esse ritmo continuar, os latino-americanos devem descartar 4,8 mil toneladas de lixo eletrônico, 70% a mais do que em 2009. A população brasileira pode ter um aumento de até 1 kg per capita de lixo eletrônico descartado por ano – totalizando 8,3 kg por pessoa todos os anos.
Cerca de 80% de todo o lixo eletrônico produzido pelos países desenvolvidos é transportado ilegalmente para os países pobres, sobretudo da África, do Oriente Médio e da Ásia, de acordo com o documento “O Impacto Global do Lixo Eletrônico: Lidando com o Desafio”, divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 2013. O documento também diz que esse lixo acaba em centros de reciclagem informais, predominantemente em cidades de países como China, Índia, Gana e Nigéria.
Mas, afinal, o que pode ser considerado e-waste?
Todo equipamento eletrônico que é descartado pode ser considerado lixo eletrônico. Computadores, aparelhos de TV, telefones celulares, pilhas e baterias estão entre os detritos eletrônicos mais comuns. Como o uso desses tipos de dispositivos tem aumentado em todo o mundo, a tendência é que os resíduos gerados por eles também aumentem.
Como fazer o descarte correto do lixo eletrônico?
Desde a aprovação da Lei 13.576/09, em 2009, novas normas para a reciclagem de lixos eletrônicos foram estipuladas no estado de São Paulo. Essa lei diz que fabricantes e comerciantes desses produtos devem reciclar ou reutilizar o material eletrônico que é descartado. Caso a reutilização não seja possível, o impacto desse lixo deve ser reduzido.
A repercussão dessa lei não ocorreu apenas em São Paulo, mas em todo o país A partir daí, aumentou o número de fabricantes que praticam a coleta desse material no Brasil. Em 5 de agosto de 2010, foi aprovada a Lei Federal nº 12.305, conhecida como Política Nacional de Resíduos Sólidos no Brasil, a qual obriga fabricantes a destinarem corretamente todos os resíduos sólidos, incluindo os eletrônicos.
Caso o aparelho ainda esteja em bom estado, o usuário pode doá-lo para entidades de cunho social ou pessoas conhecidas que não possuem a condição de ter um aparelho novo. Algumas empresas e lojas de informática de diversas cidades fazem a coleta desse tipo de material.
Os equipamentos eletrônicos devem receber atenção extra ao serem descartados. Seu despejo incorreto pode acarretar contaminação do solo e da água, além daqueles que entram em contato com ele. Isso acontece porque esses materiais contêm diversos elementos químicos em sua composição, os quais, em contato com pessoas e com o meio ambiente, podem ocasionar problemas.
Uma solução para o descarte correto desse tipo de material são as cooperativas de reciclagem presentes em diversas cidades do país, que conseguem ajudar o consumidor a fazer o descarte correto.
Texto/Dobras e Sobras: Clara Mattoso e Marcos Coelho
Foto/Dobras e Sobras: Clara Mattoso
Reportagem na íntegra: dobrasesobras.wordpress.com/