Ser estudante
As reivindicações dos alunos e as novas propostas de ensino
Aquela rotina de enfrentar vários professores de segunda a sexta não é para qualquer um. As pessoas mais velhas falam que a melhor fase da vida é a de estudante e, provavelmente, você não concorda, até porque sabemos que o ensino público enfrenta problemas desde sempre. É com esse pensamento que a voz foi dada a alunos de diversas instituições públicas de São João del-Rei.
João Pedro Sacramento tem 19 anos e se formou no ensino médio em 2015. Ele é ex-membro do Colegiado em sua antiga escola. Durante seu mandato, era comum que as reivindicações dos alunos fossem transmitidas pelos professores ou pela própria direção do colégio, para, em seguida, serem discutidas e votadas de acordo com o regimento escolar.
O ex-membro do colegiado conta que a reivindicação que gerou uma mudança mais drástica foi em relação ao uniforme usado durante a prática da educação física. “Os alunos pediram para que pudessem fazer a aula com uma outra roupa, pois voltavam para a sala suados, e a calça jeans, que é o uniforme padrão, atrapalhava na hora de praticar qualquer esporte”, comenta.
Não é sempre que situações como as de João Pedro se resolvem; é caso de João Vitor Santos, que tem 16 anos e está cursando o 2º ano do ensino médio. Ele comenta que sente falta de uma interação cultural com a música, as artes e dinâmicas dentro de sala, além da estrutura precária da escola. “A estrutura que a minha escola apresenta é muito ruim, a quadra tem um piso de cimento que é muito perigoso quando se trata de quedas. As salas são apertadas para o número de alunos e muitas delas não tem a iluminação apropriada”.
O caso de Sabrina Cruz de Brito não é muito diferente. Ela tem 12 anos e está cursando o 7º ano do ensino fundamental. A estudante conta que a segurança da sua escola é muito frágil, já que é comum ver pessoas usando drogas na própria entrada da instituição. Além disso, ela reclama da merenda escolar: às vezes, o cardápio permanece o mesmo durante uma semana. Há três anos ela estuda na escola, e a quadra poliesportiva não foi finalizada. “As reuniões do colegiado pedem providências, mas o diretor não toma atitudes”, desabafa.
Problemas como esses são muito comuns nas instituições de ensino públicas da cidade. Talvez, seja com esse pensamento que novas propostas estão sendo feitas para que se possa melhorar a qualidade de ensino para os estudantes.
Educação inclusiva
De acordo com dados do Censo Escolar 2014, do total de escolas da rede estadual mineira, 2.892 possuem matrículas de alunos com deficiência. Em São João del-Rei, não é diferente. Em 2016, todas as escolas da rede estadual tiveram que oferecer vagas para esses estudantes. Contudo, segundo a supervisora pedagógica da Superintendência Regional de Ensino (SRE), Leila Moura, existem escolas preferenciais para a matrícula de alunos com deficiência auditiva. “Os alunos são matriculados por zoneamento e eles têm o direito. Porém, existem escolas em que o atendimento à educação, por exemplo, em se tratando de surdos, já possuem pessoas capacitadas. Então, prioritariamente, os pais já encaminham os filhos para essas escolas”, afirma.
Leila também explica que, além do professor regente nessas turmas, as escolas possuem professores de apoio que devem ser nomeados pelo Estado. “Os alunos que têm dificuldade de comunicação ou dependentes têm o direito a um professor de apoio. E, de acordo com a legislação, esses professores devem ter cursos na área; não são o professor regente do aluno, cuidam de adaptar a aula para aquele aluno”, salienta.
Além disso, a SRE possui uma equipe de monitoramento, que faz visitas mensais nas escolas para verificar se o auxílio ao aluno especial está sendo feito. “Todos os alunos da educação especial têm o direito a um Plano de Desenvolvimento Individualizado (PDI). Então, os professores têm a obrigação de fazer isso e de mudar de acordo com a adequação”, informa Leila.
Educação integral
Outra forma de educação que já esteve em funcionamento anos anteriores e que neste ano voltou a entrar em vigor foi a educação integral. Nessa modalidade, os alunos têm o direito de permanecer nas escolas nos turnos que não são os de aula, podendo participar de várias oficinas.
Leila explica que nem todas as instituições de ensino oferecem esse horário em razão da falta de profissionais e espaços adequados. Entretanto, as autoridades competentes estão se esforçando para que isso se torne realidade para mais estudantes. “O menino fica na escola em contraturno para atendimentos especializados; existem escolas que começam no meio do ano e outras que já estão fechando o projeto neste ano. As atividades são escolhidas por cada escola, mas contam com oficinas como dança e artesanato, além de aulas de reforço”, reforça.
Hoje, em toda a região em que a SER atua, há cerca de 20 escolas com 40 turmas que oferecem o horário integral. Ainda há professores para serem contratados e uma forma de monitoramento da frequência desses alunos.
Durante o mês de julho, a Superintendência Regional de Ensino designou cerca de 50 novos professores para atuarem nos ensinos fundamental e médio, em diversas cidades do Campo das Vertentes. Além disso, ainda há vagas para novas designações, disponíveis para consulta no site da Superintendência.
TEXTO/VAN: Amanda Rodrigues e Clara Rita
COLABORAÇÃO: Camille Galo