Entre os dias 12 e 14 de outubro
aconteceu a 2ª Festa da Cana em Vitoriano Veloso, distrito da cidade de Prados,
mais conhecido pelo nome de Bichinho. A festa contou com atividades para
crianças, além de atrações musicais. No Centro Social foram montados estandes, onde
foram expostos produtos derivados da cana-de-açúcar. Os visitantes tiveram a
oportunidade de acompanhar o processo de produção do açúcar, melado e rapadura,
e provar quitutes inusitados, como o bombom e o brigadeiro de pinga.

No estande do restaurante “Bandeira Peruana”, de Prados, o chef Pedro
Cardoso Ferreira expôs suas criações culinárias, em que mistura ingredientes
peruanos à cozinha mineira, destacando o escabeche de linguiça. “Escabeche é um
tipo de conserva que leva vinagre, azeite e açúcar e normalmente coloco um
pouco de vinho do porto. No caso do festival da cana, eu usei garapa e açúcar
mascavo”, conta. Neste prato, Pedro usa o ají especial, um tipo de pimenta
peculiar de seu país, para dar um tempero peruano à tradicional lingüiça mineira.
Já a sócia da padaria Luize, de Bichinho, Luisa de Fatima Cunha de Souza,
confeccionou os deliciosos bombons e brigadeiros de pinga. Os doces são
saborosos, seguindo a tradição doceira de Minas, feitos com leite condensado,
pinga e manteiga. “Quando já está no ponto, que está soltando da panela, você
vem com a pinga e torna a dar o ponto com ela. O álcool evapora e fica só o
gostinho da pinga”, conta a doceira com um grande sorriso. Em sua padaria ela
também faz um bolo de banana, que leva açúcar mascavo no lugar do açúcar
refinado.
     
Sem vergonha de ser cachaça
E como não podia deixar de ser, a cachaça foi a personagem principal da
festa. Nando Chaves, alambiqueiro há 22 anos, apresentou a cachaça Século
XVIII, de Coronel Xavier Chaves. Completamente branca, ela é produzida seguindo
a mesma receita há mais de 250 anos, em um dos engenhos mais antigos do Brasil
ainda em funcionamento, segundo a Embratur. Conta-se que um de seus primeiros
donos foi o padre Domingos da Silva Xavier, irmão de Tiradentes. A produção é
completamente artesanal, o que influencia diretamente na qualidade da cachaça.
Nando Chaves é da 7ª geração da família e conta que é executado “o mesmo processo
de produção, desde o plantio ao corte da cana, moagem, fermentação e destilação,
há 150 anos sempre da mesma maneira, no período de safra, que ocorre de maio a
novembro – que é o período de estiagem da nossa região”. Nando afirma
orgulhoso: “Ela é branquinha, sem vergonha de ser cachaça”. Explica ainda que a
família cultiva há mais de 80 anos a mesma variedade de cana, o que proporciona
homogeneidade ao produto.
Ao lado dos estandes, Dalton Ladeira da Cunha, fazendeiro da cidade,
atendia os visitantes curiosos que queriam observar a produção de melado,
rapadura e açúcar. Ele explica que aquecendo o caldo de cana no tacho ele vai
secando e engrossando. O primeiro ponto deste caldo será o melado, o segundo a
rapadura e enfim se chegará ao açúcar. Com cerca de 25 litros de caldo no
tacho, a depender da intensidade do fogo, pode-se obter açúcar em até duas
horas.
Ivete Cerqueira Moura, membro da comissão de eventos do Centro Social de Vitoriano
Veloso, explica que o evento une a comunidade: “Nós mostramos nossa
gastronomia, nosso folclore e escolhemos a cana porque aqui todo mundo tem cana
plantada na horta”, conta. Só na comunidade de Bichinho existem três
alambiques.
Não apenas os moradores aproveitaram as atrações. Os turistas, que buscam
a cidade de Prados por sua paisagem e gente acolhedora, tecem elogios ao
evento. Maria Salete Ávila, técnica de enfermagem, de São João del-Rei, esteve
na festa no ano passado trabalhando, mas neste ano foi apenas aproveitar. Levou
seu filho Alexandre, que até subiu ao palco para cantar algumas músicas. “Eu
gosto do pessoal daqui, o ambiente é muito bom, o povo é muito acolhedor, com
todo mundo que vem”, diz entusiasmada. Ela explica que Prados é uma cidade que
recebe muitos turistas, então a população local está acostumada a este fluxo e
recebe bem os visitantes: “É uma festa boa para vir com a família, pode-se
deixar a criançada à vontade”.
Ao som dos seresteiros, e provando dos saborosos doces e salgados ou da estrela
maior do evento – a pinga –, quem visitou a exposição pôde experimentar um
sabor de tradições mineiras, tão presentes em Bichinho, como no sorriso
acolhedor dos moradores do local, gente hospitaleira, que fez com que a festa
parecesse um grande encontro de família.

Reportagem e foto: Dani da Gama.

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