Uma arte que guia entre vários retratos e  muitos devaneios

Caronte - Gustave Doré

No dia 25 de julho, é comemorado o Dia Nacional do Escritor. Essa data não só tem o intuito de dar mais visibilidade ao profissional da escrita, mas também serve para celebrar a importância da profissão, que, muitas vezes, passa despercebida.

A data comemorativa foi estabelecida em 1960, por João Peregrino Júnior e Jorge Amado, respectivamente presidente e vice-presidente da União Brasileira de Escritores (UBE) na época, após sucesso do I Festival do Escritor Brasileiro, promovido pela instituição. O amplo alcance do Festival foi essencial para o decreto governamental que instituiu a data.

Ao checar alguns dicionários, a definição mais comum de escritor que encontrei é de “indivíduo que escreve”. Apesar de óbvia e um tanto quanto desnecessária aos distraídos, destaco essa descrição, pois ela reflete a imagem distorcida que muitos têm da profissão. Sartre disse que “não se é escritor por ter escolhido dizer certas coisas, mas sim pela forma como as dizemos”, apresentando um outro ponto de vista a respeito do ofício, que, de certa forma, complementa a definição dicionarizada, ao valorizar também a técnica e o domínio da escrita.

O ato de escrever surgiu como uma necessidade de organização, expressão e registro. Os sons emitidos para comunicação assemelhavam-se muitas vezes, e, assim, a interação tornava-se caótica. Além disso, essa oralidade é efêmera por natureza, uma vez que depende da memória, que se desgasta com o passar da pequena parcela de tempo característica da vida humana. Eça de Queiroz ressalta tal função do escritor, afirmando que “só um livro é capaz de fazer a eternidade de um povo”. Religião, educação, legislação, enfim, a sociedade depende desse tipo de registro.

Por fim, fico com a explicação de um menino careta que conheci. Ele dizia que escritor é como um barqueiro. Assim como Caronte que, por moedas de ouro, transportava almas pelas águas dos rios Estige e Aqueronte, o escritor, pelo preço da atenção, guia mentes por muitos rios, nos diversos universos e realidades que flutuam por aí.

Para todos que criam universos, para todos que recortam e destacam pedaços dos existentes, para todos que mudam vidas com suas histórias, feliz Dia do Escritor.

 

TEXTO/VAN: Hugo Pacheco

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