Rede Trem Natural: Agroecologia na prática
Por Igor Chaves
Nas últimas décadas, vê-se emergir um movimento que segue o caminho contrário dos grandes modelos de produção, ainda baseados nos preceitos da revolução verde. Essa “contrapartida”, cada vez mais, visa resgatar práticas que levam em conta a sustentabilidade ambiental, social e econômica, buscando a harmonia entre o ambiente, a agricultura e a comunidade. A essa abordagem dá-se o nome “agroecologia” e é a partir dela que surgiu a Rede Trem Natural (RTN), uma Organização de Controle Social (OCS) formada por agricultores e consumidores, além de técnicos e parceiros institucionais atuantes nas microrregiões de Barbacena e São João del-Rei.
Fabiana Daniele Jaques, coordenadora da Rede, conta que a mesma foi criada em 2017 com intuito de facilitar a comercialização para agricultores que estão na chamada “transição agroecológica”. Para ela, a organização é um espaço de busca e desenvolvimento, onde produtores se unem em prol da manutenção de um ambiente rural e urbano sustentável. A “transição agroecológica”, por sua vez, caracteriza um movimento de mudança das bases de produção, uma transformação que é tanto interna (no campo), quanto externa (no mercado). Nos últimos anos, a RTN tem marcado a união desses dois eixos, fortalecendo as famílias produtoras e democratizando não só o acesso a alimentos saudáveis como o saber, por meio dos “intercâmbios agroecológicos”.
Intercâmbios Agroecológicos
Segundo Fabiana, “Intercâmbios agroecológicos são encontros entre as famílias agricultoras, consumidoras da Rede e colaboradores. Esses encontros são organizados pelos próprios agricultores, de forma que o conjunto de pessoas que compõem a Rede Trem Natural possam conhecer as propriedades e participar do processo de verificação [da transição agroecológica]”. No último dia 02, ocorreu o 23º Intercâmbio Agroecológico da RTN, realizado na horta da produtora Aparecida (“Cida”), no Distrito do Rio das Mortes, em São João del-Rei. Na ocasião, houveram debates sobre trabalhos e experiências práticas com a agroecologia, mutirão de vivência em hortas agroecológicas, além de uma roda de conversa sobre a Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária (JURA).
Para a coordenadora da RTN, o intercâmbio é importante pois promove a troca de conhecimentos e estreita os laços entre quem produz e quem consome. Ainda, há um destaque para promoção da soberania alimentar, responsável por caracterizar um sistema de manejo e consumo autossuficiente. Essa abordagem objetiva desenvolver a produção e o comércio local, preservar o meio ambiente e fortalecer a autonomia das comunidades, garantindo que toda a população obtenha alimentos saudáveis, nutritivos e culturalmente apropriados, segundo os princípios da segurança alimentar e nutricional no Brasil.
Colhendo os frutos
Quanto à atuação da Rede de forma autônoma e interligada com instituições, Fabiana comenta sobre ações e atividades que vêm a ser difundidas como, por exemplo, a valorização de plantas e saberes tradicionais; a proteção de áreas de preservação permanente; e a valorização da mulher no contexto produtivo. “Geração de autonomia, fortalecimento de grupos e famílias locais, maior investimento e aumento da produção agroecológica e, ampliação do reconhecimento da Rede pelas comunidades” também são alguns dos resultados observados pela coordenadora ao longo dos anos.
Agora, sobre o futuro, a agroecologia ainda tem muito para avançar, afinal, esse modelo de produção ainda depende de políticas públicas incentivadoras, além da abertura de mais mercados que reconheçam esse como o futuro dos sistemas agroalimentares. Quanto à Rede, Fabiana mostra desejo em expandir, orientando-se pelas seguintes diretrizes: “Obter mais parcerias concretas que auxiliem tecnicamente os produtores na produção e gestão financeira e comercialização para conseguir que mais produtores sejam cadastrados no MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária); ter maior visibilidade no Campo das Vertentes; e, por fim, gerar mais iniciativas agroecológicas em outros municípios”.
SERVIÇO
Para mais informações sobre a Rede Trem Natural:
Youtube: Canal Rede Trem Natural
Facebook: Rede Trem Natural
Instagram: @rede_trem.natural
Site Agroecologia em Rede: https://agroecologiaemrede.org.br/
Lara, Lívia Mara de Oliveira. Transição agroecológica na Rede Trem Natural – MG: conhecimentos, processos e práticas. Dissertação apresentada à Universidade Federal de Viçosa. Viçosa-MG: UFV. 2021. Disponível em: https://www.locus.ufv.br/bitstream/123456789/29777/1/texto%20completo.pdf