Projeto Ferrovia Oeste de Minas é encerrado com seminário no anfiteatro da UFSJ
Na última semana, foi realizado no Anfiteatro do Campus Santo Antônio da UFSJ, o Seminário de Encerramento do Projeto Ferrovia Oeste de Minas: Memória e História, idealizado e organizado pelo historiador e coordenador José Roberto Câmara Vitral. O projeto está em sua 2ª edição e, de acordo com a Secretária do Patrimônio Cultural de Santos Dumont Ana Maria, é preciso “que se trabalhe o resgate cultural, para a manutenção da memória ferroviária. Uma educação patrimonial é obrigação da escola”.
Contando com a participação de ONGs, ex-funcionários da ferrovia, instituições governamentais e a comunidade, o seminário, que encerrou as atividades dessa 2ª edição do projeto, teve início com a exibição do documentário “Trem das Águas Santas”, que foi também distribuído por escolas do municípío. O documentário apresenta depoimentos de antigos funcionários da ferrovia e destaca sua importância histórica. O trem citado teve suas atividades encerradas em 1966.
A Diretora de Secretaria de Cultura de Santos Dumont, Cláudia Rocha Jorge destacou a importância das ferrovias na cultura das cidades mineiras e a necessidade de sua preservação histórica, apresentando vídeo da reforma da locomotiva a vapor, Série 300, Zezé Leone (assim chamada em homenagem a 1ª miss Brasil), que foi reformada. A história da locomotiva foi narrada pelo Sr. Nilton: “A Zezé Leone foi doada pelo Rei Alberto I da Bélgica ao governo brasileiro, no início do século XX, e ficou ativa até o ano de 1968, no trem “Xangai”, que fazia a ligação entre Juiz de Fora e Matias Barbosa. Mas, com a privatização, as atividades foram encerradas. Existem apenas duas dessas locomotivas no Brasil: uma em Santos Dumont e outra no Museu do Imigrante, em São Paulo. Foi criada, em 2008, a AMAFER – Associação para Preservação da Memória Ferroviária, que visa garantir a manutenção e operacionalidade da locomotiva Zezé Leone.”
Luciana Guadalupe, estudante de Direito da Universidade Federal de Lavras (UFLA) e vice-presidente da Associação Comunitária Rural dos Moradores de Coqueiros e Região (ACRMCR) apresentou, em um relato emocionado, o trabalho realizado na restauração da estação de Coqueiros, no município de Nazareno, que se encontrava abandonada, e o uso da mesma como sede da associação comunitária. Segundo Luciana, “as pessoas têm que se associar, têm que incentivar e conscientizar as pessoas dessa força que é a associação”. O morador de Nazareno, Antônio Honório dos Santos (79), conhecido como Antônio Berô é ex-funcionário da ferrovia, e afirma que, apesar do fim da ferrovia, vê com satisfação o novo uso da estação.
Jéssica Mônica de Carvalho e Ana Cecília Ramos, ambas graduandas de História pela UFSJ, esclareceram que o projeto tem como meta informar, educar e despertar o interesse dos jovens pela história da Ferrovia Oeste de Minas, através de visitas mensais ao museu existente na estação ferroviária. Essas visitas foram organizadas entre Outubro de 2013 e Maio de 2014 com alunos de várias escolas de São João Del-Rei, de diferentes faixas etárias, projeto que já foi assunto de uma matéria na VAN. As crianças, segundo Ana Cecília, mostram um grande interesse pelo assunto, porém há resistência em visitar museus, sendo necessário realizar um trabalho de desmistificação, aproximando as pessoas da cidade da história de ferrovia. “História essa que se confunde com a própria história de São João”, completa Ana Ramos.
O Superintendente de Cultura da Secretaria Municipal de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer de São João del-Rei, Ulisses Passareli, trouxe à tona a questão sobre responsabilidade e preservação do patrimônio, informando que existe um projeto para captação de recursos destinados à recuperação do complexo ferroviário, com valor estimado em R$ 41,5 milhões, sendo que 50% desse valor será destinado ao complexo ferroviário, que ficará sob a responsabilidade do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e 50% destinado aos demais monumentos da cidade, valor que será administrado pela Prefeitura Municipal, através da Secretaria.
Tramita na Prefeitura, segundo Passareli, um projeto que visa transformar o município em parceiro da iniciativa privada na manutenção e administração do Patrimônio Histórico e Turístico da Ferrovia Oeste de Minas, assim como o incentivo fiscal buscando apoio dos empresários, dada a importância da ferrovia no turismo.
No encerramento, Luiz Carlos de Souza, da cidade de Lavras, destacou que a conservação do patrimônio ferroviário depende do apoio das prefeituras e demais entidades públicas, porém esse apoio tem faltado, segundo palavras do mesmo.
Texto: VAN/Humberto Lanna
Foto: Humberto Lanna