Pra hoje, uma história
As pequenas e boas histórias da minha infância com avós
Eu não gosto de fazer depoimentos nem declarações. Mas, hoje, acordei com uma saudade muito grande no peito. É um sentimento que não me entristece nem me deixa de cabeça baixa. Acordei com uma saudade boa, de quem já se foi, mas que já fez muito por mim e por muita gente.
O dia 26 de julho é considerado Dia dos Avós aqui nas terras tupiniquins e em Portugal. Mas por que essa data? Quem deu esse dia para os nossos avós? Contam que, em 1879, o Papa Leão XIII consagrou o dia aos avós de Jesus Cristo, Joaquim e Anna, pais de Maria.
O fato é que 26 de julho é uma data muito especial. É dia de comemorar os nossos avozinhos, para quem ainda tem, e agradecer por eles serem quem são. Eu, que não tenho mais, me lembro do rosto do meu avô materno, seu João Alípio, quando chegava em casa com uma sacola de balas e salgadinhos para mim e meus irmãos. Dava gosto ver ele contando prosa e rindo das peripécias que a gente aprontava. Ele foi embora cedo, mas, ainda assim, lembro-me do seu jeitinho. Já minha avozinha só recordo por foto, como a dona Aparecida, vó paterna, que não conheci.
O outro avô, o Zé Virgílio (que meu deu o sobrenome Cácia), também já se foi, mas está sempre no coração. Era mais ranzinza, mas tinha uma sabedoria enorme. Benzedor de primeira, um dos poucos que eu conheci até hoje. O jeito cabeça dura e a mania de gostar de café veio dos dois lados, e o amor pela natureza também.
Ser avô ou avó deve dar trabalho. Ser pai dos pais que hoje têm seus netos deve dar orgulho também. É quase a mesma coisa de ser pai ou mãe novamente, mas poder mimar mais e cuidar também. Eu vejo esse negócio de cuidar como um escudo, de poder fazer arte e pedir proteção, sabe?
Quem nunca mexeu em coisa que não devia e foi chorar pra vó e dizer que não tinha culpa? Isso só pra mãe ou o pai não te baterem ou chamarem a atenção. E eles protegem mesmo, dão mimo, carinho e têm uma comida deliciosa, coisa de vó, né?
O aconchego de suas casas e o cheiro de suas roupas são inexplicáveis, fazem a gente se sentir bem, como se estivéssemos mesmo em nossa casa, o que não deixa de ser verdade, já que casa de vó é quase sempre sinônimo de carinho e amor. O dengo do dia a dia, a preocupação de saber se estamos bem e comendo direitinho fazem parte dos mandamentos dos avós. Entupir a gente de doce e de comida, de contar histórias de quando eram jovens e dizer que somos a cara dos nossos pais são frases corriqueiras desses velhinhos gente boa.
Pra hoje, eu tenho uma história contada, da qual um dia serei protagonista (ou não). Coisa importante é ter um dia assim, reservado, especial e único. Mas, deveríamos, na verdade, nos lembrar deles todos os dias; lembrar dessas pessoas fantásticas que ajudaram a construir nossas vidas. Para quem tem seu vovô e sua vovó, dê um abraço carinhoso e fraterno e agradeça por todas as vezes que eles que te mimaram e te encheram de carinho. Pra você, como eu, que não tem, lembre-se daqueles momentos gostosos, da comida e da saudade.
TEXTO/VAN: Andreza de Cácia