Por Lídia Oliveira

eu te amo

porque os caminhões nos atropelam

e ainda saímos vivos

sempre estou lá para tirá-lo

das ferragens e chorar de perto

as dores que elas lhe causam

porque eu sonhei com caminhões

que vinham com tudo para cima de nós

e me assusta o fato de eu ter gritado

eu te amo, eu te amo é tão estranho

como acordar chorando por tê-lo visto

sorrindo depois da queda

eu te amo é tão estranho quanto

esperar a dor passar

você entre as ferragens

uma infestação de formigas nas folhas

em que você escreve

estamos presos entre ferragens

e levantar caminhões para dizer

eu te amo é tão estranho

as tuas mãos

escrever um poema com as tuas mãos

é escrever a revolução dos dias

entrelaçar nossos dedos numa noite escura

passar pelos becos sem temer os passos

os pés enormes pisando histórias

os pés que ouvimos de cor

na cor sem força das tuas palavras

eu não poderia, ainda que fosse necessário

dizer ao tempo, sem dor nem asma

há quanto tempo espero as tuas mãos

dentro desta casa


* Lídia Oliveira nasceu em Ibertioga (MG), em 1993. É poeta, professora, pesquisadora, mestre em Teoria Literária e Crítica da Cultura pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), com ênfase em poesia de autoria feminina. Atualmente, graduanda em Comunicação Social – Jornalismo pela UFSJ, publica textos autorais em seu blog pessoal.