Município não recebe nenhuma compensação financeira de Usina
Hidrelétrica

Paulo Veloso

Os moradores de Ribeirão Vermelho (município pertencente à região geográfica imediata de
Lavras-MG) convivem a mais de 10 anos com as placas que indicam Rotas de Fuga e Pontos
de Encontro. Elas sinalizam os caminhos para alcançar áreas mais altas caso aconteça um
rompimento da barragem da Usina do Funil, localizada no Rio Grande, a cerca de 6 km da
sede do município.

Placa indicativa na entrada da cidade de Ribeirão Vermelho-MG Foto: Paulo Veloso

A Usina do Funil foi inaugurada em dezembro de 2002. Operada pela Aliança Geração de Energia S.A., seu lago inunda uma área de 40,49 km² , nos municípios de Lavras, Perdões, Bom Sucesso, Ijaci e Ibituruna. Através de um desnível de até 39 m consegue gerar 180 MW de potência.

A Barragem do Funil se encontra a cerca de 6km de Ribeirão Vermelho imagem: wikicomons

Embora não se situe na área alagada pela represa, Ribeirão Vermelho seria a cidade que mais
sofreria com o rompimento da barragem. Segundo as moradoras Nilce C. e Anésia C., as
placas não trazem uma sensação de segurança e sim de medo. Como moram próximas ao Rio
Grande, já experimentaram grandes inundações, que costumam ser constantes em Ribeirão.
Participaram da simulação de fuga promovida pela Defesa Civil, Bombeiros, Prefeitura e
outros órgãos, ocorrida em 2019 e se preocupam com os moradores da zona rural do
município.

A Usina do Funil foi implantada em 2002 e tem capacidade para fornecer energia a uma cidade de mais de 600 mil habitantes Foto: Usina Eng. José Mendes Júnior

Para Alberto dos Santos (Betinho), ribeirense ex-jogador do Fabril de Lavras, é impossível
não sentir medo com a situação. Embora more próximo ao Hospital de Ribeirão, um dos
pontos mais altos da cidade, a preocupação é grande com vidas que podem ser perdidas.
Também a perda das casas afetaria demais os moradores. Betinho viveu a tragédia de
1991-1992, quando a ponte rodoferroviária ficou submersa com a grande enchente. “A
história de Ribeirão Vermelho, a alma, é o setor ferroviário. A perda da Rotunda também
seria uma coisa muito triste.”, antecipa Betinho.

Para Betinho, a sensação de medo é inevitável. Foto: Paulo Veloso

Segundo informações da ANEEL, Ribeirão Vermelho não é beneficiada com pagamentos
realizados pela Usina do Funil (ver foto).

Esta situação deixa indignadas as professoras Ana Maria Alvarenga e Maria Tereza Rosse
que diz não estar convencida dos benefícios trazidos pela Usina para a cidade. Segundo ela,
as placas geram terror e afastam visitantes. Outra situação que a aborrece é a destruição das
placas indicativas de Rota de Fuga por vândalos e a não renovação das mesmas.

Ana Maria e Maria Tereza Rossi : “Os visitantes têm medo” Foto: Paulo Veloso

A reportagem checou in loco e concluiu ser pertinente a nota da professora. Algumas placas
estão encobertas por árvores. (ver foto)

Placa indicativa de Ponto de Encontro encoberta por árvore. Foto: Paulo Veloso

A ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) informa em seus relatórios gerenciais
relacionados à segurança de barragens das usinas hidrelétricas que a Barragem do Funil
possui e aplica procedimentos de inspeção e monitoramento. Por existirem pessoas que
ocupam permanentemente a área afetada à jusante da barragem, não pode ser descartada a
probabilidade de mortes, embora as condições das estruturas estejam em bom estado e os
relatórios de segurança sejam enviados periodicamente.
` Quanto aos impactos ambiental e sócio-econômico, pela grande concentração de instalações
residenciais e comerciais, agrícolas, industriais, de infraestrutura e serviços de lazer e turismo
na área afetada da barragem, o impacto socioeconômico é considerado alto. O impacto
ambiental é considerado significativo embora a área afetada da barragem não represente área
de interesse ambiental ou áreas protegidas em legislação específica.

A coordenadoria da Defesa Civil em Lavras informou que as entidades responsáveis pelos
procedimentos de segurança junto à população de Ribeirão Vermelho promoverão ainda
neste ano de 2023 uma nova simulação de evacuação para moradores da cidade.

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