O menino da base
Texto: Eduardo Statuti
Revisão: Samantha Souza
Ele está ali no banco de reservas. Você que torce para outro time sequer deve conhecer seu resto. Mas para a torcida, ele é a maior esperança de gol. “Menino rápido, habilidoso e corajoso. Tem que colocar no jogo, professor”, bradam os torcedores durante a partida.
Para os diretores do clube, ele é um ativo, quase uma ação na bolsa. “Aquele menino vai virar ouro!”, afirmam. Logo, aos 16 anos, o jovem já é assunto nos jornais esportivos. A diretoria do clube corre para renovar seu contrato por mais seis anos e com uma multa contratual exorbitante.
Para seus pais, muitas vezes pessoas muito humildes e pobres, é a principal chance de ter uma vida melhor. Largam empregos, deixam de comer, abandonam totalmente suas vidas para viver um sonho de menino que pode mudar a realidade de muitas pessoas.
Para o menino da base, ele é apenas um garoto jogando bola. Ninguém falou que teria que sustentar a casa aos 16 anos. Ninguém disse que receberia ameaças de morte na academia. Ninguém disse também que com idade de estar se preparando para um vestibular, ele ganharia status de herói e salvador da pátria.
E o que ele faz? Depende. Às vezes consegue se blindar de tudo isso. Entra aos 35 minutos do segundo tempo, recebe a bola na direita, dribla dois jogadores e vira a partida. E é bom que consiga, porque, caso contrário, ele poderá ser lembrado para o resto da vida como mais um menino da base.