Moda e sustentabilidade: Semana Fashion Revolution marcou presença em São João del-Rei
Clara Gonçalves, Jakeline Azevedo e Lara Cristina Reis
Nesse fim de semana, o maior movimento ativista de moda do mundo, o Fashion Revolution, ocupou as ruas de São João del-Rei. Levando questões ambientais e sociais para o universo da moda, a organização tem equipes em mais de 75 países e atua na cidade desde 2020 com sua principal campanha, a Semana Fashion Revolution.
Nas palavras de Monique Silva, representante do movimento na cidade, o Fashion Revolution busca promover “a reforma da indústria da moda” e a transparência da produção. “Isto inclui, desde a produção do algodão à fabricação do tecido; quem costura e como as produções chegam aos clientes”, conta ela.
O Fashion Revolution surgiu depois de um desastre: em abril de 2013, o Rana Plaza, prédio de confecções situado em Dakha, Bangladesh, desabou, resultando na morte de mais de 1100 pessoas, além de mais de 2500 feridos. O movimento nasceu com o objetivo principal de promover a conscientização sobre os impactos socioambientais do mundo da moda.
Marcando presença em São João del-Rei pelo quinto ano consecutivo, a Semana Fashion Revolution contou com rodas de conversa, um workshop e um cine debate.
Durante o Workshop, no sábado (20), Monique Silva e Marcelo Fernandes apresentaram diversos tipos de tecidos, tramas, texturas e composições, durante uma dinâmica com os inscritos no evento, e contaram um pouco mais sobre o processo de produção e de reciclagem de cada material.
Já no domingo (21), a Praça Doutor Salatiel hospedou a exibição do documentário “O Ponto Firme”, dirigido e roteirizado por Laura Artigas. O longa-metragem traz registros do projeto do estilista Gustavo Silvestre e mostra desde as aulas de crochê, ministradas pelo estilista a detentos de São Paulo, até o desfile da SPFW, onde a coleção produzida por Silvestre e seus alunos ganhou espaço. Ao fim da exibição, iniciou-se um debate sobre a relação entre a moda e o projeto social.
MODA E SUSTENTABILIDADE
O mundo da moda é um dos maiores poluentes do nosso planeta. No Brasil, apenas 20% dos resíduos têxteis são reciclados, enquanto o restante vai para aterros ou é descartado incorretamente, o que é contrário ao conceito de sustentabilidade, o qual afirma que deve-se consumir pensando em evitar ameaçar o planeta e causar danos ambientais para as gerações futuras.
Criadora de conteúdo sobre consumo consciente e sustentabilidade nas redes sociais desde 2018, Monique utilizou o espaço para apontar os impactos ambientais em consequência do consumo de certos tecidos. “O Poliéster é um tipo de plástico, que é proveniente do petróleo, um dos maiores poluentes da natureza, sem contar que é um recurso não renovável.” afirma.
Ao longo do evento, Monique também destacou outro problema comum: a falta de pontos de descarte de resíduos têxteis no Brasil e a dificuldade da reciclagem de tecidos mesclados no processo de produção, algo que é feito para baratear o processo.
Para ela, uma das maiores dificuldades para a promoção da sustentabilidade está na conscientização da população. A ativista também comenta sobre a participação das empresas nesse processo, destacando a falta de comprometimento dessas instituições com o futuro do planeta, “Uma marca sustentável faz mais que somente vender seu produto”.
Ao ser questionada sobre a importância de ligar a sustentabilidade à moda, Monique respondeu que “é a sobrevivência da humanidade” e completou: “Precisamos mudar urgentemente.”
Além dessas questões, Monique cita o impasse para a mobilização governamental. Segundo ela, é fundamental que o governo não flexibilize leis anti-sustentáveis e que esteja sempre fiscalizando e protegendo o meio ambiente, “Haja vista tantas mudanças climáticas em que a moda afeta diretamente”.
Apesar de apontar os diversos problemas gerados pela Indústria da moda, a criadora de conteúdo ressalta o movimento de conscientização que vem ocorrendo. “Hoje já existe um grande número de pessoas conscientes que entendem as consequências do Fast Fashion, e que estão valorizando as produções do Slow Fashion, de marcas locais, o consumo em brechós e que estão questionando às marcas quem fez suas roupas. (…) É a busca por uma moda justa socialmente, falando sobre raça e gênero”.