Memórias da Exposição
A Avenida Leite de Castro nunca é tão movimentada durante a madrugada quanto no final de semana da primeira quinzena de Agosto. “Uma bota legal dessas de cano cumprido/O velho jeans e um cinto bom de couro curtido/O chapéu na cabeça e a jaqueta surrada/Confere tudo e vê se não ta faltando nada” para rumar sentido Parque de Exposições de São João Del Rei e curtir o bom e velho sertanejo.
Estilo musical que ganhou uma versão mais jovem e animada por volta dos anos 2000, o sertanejo universitário não poderia ter nome mais apropriado, vários de seus fãs são estudantes das mais variadas idades e locais. As letras falam de amor, festas e curtição, e deixam a dor de cotovelo para as duplas veteranas do sertanejo, como João Mineiro e Marciano, Milionário e José Rico, entre outras. Com carreiras de grandes sucessos, muitos desses nomes já se foram, infelizmente, e agora, nos resta ouvir suas músicas regravadas por outros artistas ou com a ajuda da tecnologia.
Mas não são apenas shows que a Del Rei Expo promove, o Torneio Leiteiro Regional das Vertentes tem seu início logo no primeiro dia e traz moradores rurais da região para competir pela maior retirada de leite bovino. Além disso, a Feira de Agricultura aproxima mais a cidade do campo.
E como já dizia a dupla Leandro e Leonardo, “Tem que ser bom violeiro/E também contar com a sorte/Quem sabe até ganhar um beijo doce/da rainha do rodeio”. Eleger a mais bela da cidade em exposições agropecuárias é tradição e aqueles que tentam uma chance com a eleita tem que fazer bonito e impressioná-la. E o cowboy que tiver a coragem, também tem que ser esperto. “Chegue de mansinho e abrace com carinho/senão vai acabar beijando o chão/não tente dominar, não tente segurar/A brasa vai queimar na sua mão/Não sei o que ela traz, mas sei do que é capaz/Aposto que ela é pura emoção”.
Todavia, é à noite “que o bicho pega e ninguém é de ninguém”. Para quem não pode acompanhar a programação durante à tarde, o festejo começa com um esquenta depois do trabalho ou aula. “Da faculdade/Eu fui pra festa/Tomar todas com a galera”. Alguns se reúnem no barzinho mais próximo, outros na casa de um parente e os universitários, claro, em alguma república. “Abre a porta da república, deixa nóis entrá/Nóis viemo preparado, nóis viemo pra cantá/Já avisa as muié que hoje vai ter festinha/E os homi que quiser, vem e traz uma caixinha”.
E quando o relógio bate dez horas é tempo de pegar a carona, lotar os ônibus que vão direto para o Parque de Exposições ou até mesmo ir a pé. Destino atingido: é só esperar! “Tá chegando a hora do show começar/O povo se agita e começa a gritar/As luzes se acendem como uma explosão/É o artista e o povo na mesma emoção”. “A festa começou/Ninguém vai ficar parado/A música no ar/O clima contagia/O show é pra você/Liberar a energia”.
A sensação de calor humano em meio ao frio de agosto deixa lembranças que, muito provavelmente, serão contadas paras nossos filhos e netos, algumas contendo lições outras histórias de uma juventude que muda a cada geração. É com esse pensamento que a avenida mais longa de São João Del Rei torna a se movimentar, desta vez em sentido contrário e com o pensamento de repetir a dose no ano seguinte. Afinal, vale a pena escolher um fim de semana do ano para se divertir. “A nossa vida não é brincadeira/Chegar em casa na segunda-feira/Depois de mais um final de semana/Cantando, zoando e na bebedeira”.
*Com trechos das músicas Galera do chapéu – Gino e Geno; Festa de rodeio – Leandro e Leonardo; Pura emoção – Chitãozinho e Xororó; Quem tem sorte é sortero – Gusttavo Lima; Bolo doido – Guilherme e Santiago; Pra acabar com tudo – Jads e Jadson; Festa louca – Edson e Hudson; Galera Coração – Edson e Hudson; Vamo mexê –Bruninho e Davi.
TEXTO/VAN: RAFAELA DOMINGUETI
FOTO: DIVULGAÇÃO