Foram os sussurros que me mataram: no jogo de Tuoto, Mel Lisboa está no quarto do líder
Por Igor M. Chaves
Dias antes de entrar em um reality show, uma celebridade lida com a perseguição da mídia, o apelo de seus fãs e a pressão de seus patrocinadores, ao mesmo tempo em que se preocupa com o futuro incerto após tamanho passo em sua carreira. Soa familiar? A nova ficção distópica de Arthur Tuoto, “Foram os Sussurros que me Mataram”, é mais real do que se pode imaginar.
Exibido na 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes, o longa, com pouco mais de uma hora, deu continuidade à sessão “Olhos Livres”, espaço dedicado a diferentes abordagens na linguagem cinematográfica. Na última segunda (22), o Cine-Tenda deu boas-vindas a equipe produtora do filme, incluindo Tuoto, veterano da Mostra, membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (ABRACCINE) e conhecido por trabalhos como “Aquilo que Fazemos com as Nossas Desgraças” e o experimental “Não me Fale sobre Recomeços”. Chegando ao seu 4º longa-metragem, ele toma liberdade para brincar com o desconforto do estrelato e as inúmeras vantagens que essa posição pode oferecer, porque “Foram os Sussurros que me Mataram” é, em sua totalidade, uma história sobre poder.
Ingrid Savoy é uma espécie de Deus. Ela é adorada por multidões, suas ações ditam o percurso a ser seguido e sua assinatura em um contrato vale ouro. Todos a querem, sejam os fãs, os haters, as grandes redes e a mídia, e aquele que a tiver por inteira ganha o maior prêmio: a relevância. Mas isso é impossível, porque Ingrid Savoy também é humana e ela já está quebrada há muito tempo. É nesse cenário que Mel Lisboa encanta: seu magnetismo é capaz de sustentar o filme por inteiro, sendo a principal razão pela qual o espectador mantém os olhos na tela. Suas expressões e linguagem corporal compõem a verdadeira história, muito mais do que os diálogos ou os acontecimentos que a rodeiam, porque Mel Lisboa entende a posição de Ingrid Savoy no jogo da comunicação e sabe como articular com as peças que tem.
Em contrapartida, existe o ritmo. “Foram os Sussurros que me Mataram” foi rodado em uma única locação, com pouquíssimos personagens e diálogos com um quê nada natural. É muito fácil o espectador perder a atenção, ainda mais quando os acontecimentos não chegam em lugar algum. As visões premonitórias, o ataque de paparazzis e os atentados anarquistas compõe a trama, mas não apresentam consequências, e quando seus desdobramentos finalmente culminam no grande final, são pouco impactantes. As muitas perguntas feitas e as poucas respostas dadas seriam mais intrigantes se o mistério fosse melhor desenvolvido ou, ainda, se a mensagem do filme não fosse recitada nos últimos minutos do longa, com uma das personagens olhando diretamente para câmera e falando diretamente com o público.
Assim, “Foram os Sussurros que me Mataram” ganha pontos ao apresentar uma fotografia muito bem construída, seja com as luzes oscilando entre vermelho e azul ou a imagem de Ingrid contra o espelho redondo do banheiro, lembrando uma pintura sacra; Contudo, perde pontos ao tentar ser mais do que consegue ser. É uma crítica que já foi vista antes, montada de uma maneira diferente, oscilando entre o ame ou odeie, beirando o monótono.