Homenageando a psiquiatra Nise da Silveira, o evento levanta discussões sobre as nuances da loucura em manifestações artísticas

O Festival ocorre nas cidades de São João del-Rei e Tiradentes, entre 8 e 18 de setembro | IMAGEM: Divulgação
O Festival ocorre nas cidades de São João del-Rei e Tiradentes, entre 8 e 18 de setembro | IMAGEM: Divulgação

As construções de relevância patrimonial e arquitetônica de Tiradentes e São João del-Rei recebem, entre os dias 8 e 18 de setembro, o Festival Artes Vertentes. O tema deste ano é “Elogio à loucura”. O evento conta com mais de 50 atividades e manifestações nas áreas de cinema, teatro, música, artes visuais, literatura e muito diálogo.

 

Nise da Silveira – a loucura de um tratamento humanizado

A temática remete à homenageada do Festival, Nise da Silveira (1905-1999), psiquiatra alagoana que se recusou a propagar o tratamento agressivo que envolvia a lobotomia e o eletrochoque dentro de uma cultura manicomial. Em vez disso, propôs uma abordagem psiquiátrica mais humanizada, fazendo o uso das artes no processo de reabilitação dos pacientes.

Foi através de um tratamento humanizado que Nise revolucionou a reabilitação de seus pacientes por meio das artes plásticas | FOTO: Mostra Virtual Centro Cultural do Ministério da Saúde
Foi através de um tratamento humanizado que Nise revolucionou a reabilitação de seus pacientes por meio das artes plásticas | FOTO: Mostra Virtual Centro Cultural do Ministério da Saúde

O trabalho que ela desenvolveu no Setor de Terapia Ocupacional do hospital carioca Pedro II gerou diversas peças de artes plásticas – forma que ela encontrou de se comunicar com pacientes esquizofrênicos graves, que se expressavam pelas telas de pintura. Esse tratamento chamou atenção de pesquisadores na área de saúde mental e também de críticos de arte: em 1952, foi inaugurado o Museu de Imagens do Inconsciente no Rio de Janeiro.
Algumas dessas pinturas, feitas pelo artista Fernando Diniz, ex-interno do Hospital Psiquiátrico de Barbacena, ficam expostas no Solar da Baronesa, em São João del-Rei, a partir do dia 12 de setembro.

O professor da Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), Walter Melo Junior esclarece que “as atividades expressivas são desenvolvidas em ambiente acolhedor, onde se tem total liberdade, e a afetividade fundamenta as relações entre os frequentadores das atividades”. Essa abordagem acabou possibilitando uma transformação cultural através do diálogo que estabeleceu com as artes e formando novos profissionais.

Walter também estuda a atuação de Nise da Silveira na área de Psicologia Social. Para ele, a forma de tratamento proposta por ela foi e, ainda é, importante na disseminação de novas ideias, pois  “o permanente diálogo com as artes cria condições favoráveis para levar temas referentes à saúde mental para um debate com a sociedade, favorecendo uma mudança de concepção sobre os modos de tratamento”, explica.

 

Programação – a loucura em discutir ideias

A programação do Festival também conta com o Ciclo de Ideias – uma parceria entre a organização e a UFSJ – que trará nomes como o diretor e curador do Museu de Imagens do Inconsciente, Luis Carlos Mello; o escritor Evandro Affonso Ferreira e a atriz Teuda Bara, para diversas palestras e debates sobre as nuances da loucura no âmbito artístico.

A autora do premiado livro Holocausto Brasileiro, Daniela Arbex, vai contar sobre o processo de apuração e construção da obra que levou a conhecimento público a realidade por trás dos portões do Hospital Colônia de Barbacena. Para a jornalista, a discussão sobre a loucura é fundamental, principalmente em meios sensíveis como a arte “porque contribui para colocar fim ao estigma que envolve pessoas com doenças mentais”, argumenta. Sobre o Festival, Arbex considera ser “um instrumento importante na mobilização em favor da valorização do sujeito e do tratamento em liberdade”.

O evento é aberto ao público, mas para participar  do Ciclo de Ideias é preciso se inscrever por e-mail. A diretora executiva da produtora de eventos culturais responsável pelo festival (Ars et Vita), Maria Vragova, esclarece que os alunos da UFSJ que participarem terão direito a um certificado de horas, gerado em parceria com a Pró-Reitoria de Extensão (Proex). “Em cada palestra, teremos uma lista de presença”, ressalta. Confira a programação completa no site oficial do Festival.

A exposição das obras de Fernando Diniz e a exibição do filme “Nise – o coração da loucura” também fazem parte do IX Seminário de Saúde e Educação, que será realizado de 12 a 16 de setembro no anfiteatro do campus Dom Bosco da UFSJ. Para mais informações sobre palestras e debates, acesse o site do Núcleo de Estudo, Pesquisa e Intervenção em Saúde (NEPIS).

 

TEXTO/VAN: Rebeca Oliveira

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