Dados mostram uma grande distância entre as escolas públicas e particulares em São João del-Rei e no Brasil

Turma do 3º ano do Ensino Médio do Frei Seráfico. Foto: Elaine Maciel.

A educação das escolas particulares e públicas no Brasil apresenta um grande desnível. É o que nos aponta dados fornecidos pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA). Essa pesquisa, divulgada em 2015, avalia a educação nos âmbitos de ciências, matemática e leitura.

No âmbito de Ciências, por exemplo, a rede particular obteve 487 pontos – 93 pontos a mais do que a rede estadual e 158 na frente da municipal, enquanto na Leitura, a rede particular alcançou 493 pontos, enquanto a rede estadual e municipal fizeram 402 e 325, respectivamente.

 A diferença continua na comparação dos resultados do Enem. Das 50 escolas com melhores resultados no Exame Nacional do Ensino Médio, apenas duas eram públicas (o Colégio de Aplicação da UFV – COLUNI e o Colégio Politécnico da Universidade Federal de Santa Maria) e ambas pertencem à rede federal de ensino.

 A primeira escola estadual a aparecer nessa classificação é a Escola Técnica de São Paulo, com uma média de 656 na prova objetiva e de 712 na redação, bem menor do que a média da melhor escola segundo o índice, o Objetivo Colégio Integrado, que alcançou uma média de 751 nas provas objetivas e 813 na redação.

 Em São João del-Rei, a escola mais bem sucedida foi o Centro Educacional Frei Seráfico (CEFS). O colégio, que pertence à rede privada, obteve média de 636 na prova objetiva e 852 na redação. Nas duas provas o resultado foi bem superior ao de outras instituições de ensino da cidade, principalmente se comparado ao das escolas públicas são-joanenses. A Escola Estadual João dos Santos, foi a que se saiu melhor entre as públicas, conseguindo uma média de 536 na prova objetiva e 623 na redação.

 Diretora do Frei Seráfico comenta sobre os diferenciais da escola. Foto: Elaine Maciel.

Segundo a diretora e fundadora do CEFS, Alcimara Zanetti, de 70 anos, o diferencial da escola está no investimento de um ensino personalizado. “Eu queria fazer uma escola pequena, que fizesse com que os alunos passassem no vestibular sem precisar ir para cidades maiores. Para isso fiz o Frei Seráfico, que desde o início tinha ensino integral, com monitorias e plano de estudos individualizado na parte da tarde para os alunos que quisessem”, explica.

 A metodologia da escola muda conforme o crescimento da criança. Se nos ensinos fundamentais havia espaço para aulas alternativas após o horário das aulas, no Ensino Médio o foco é apenas no exame. “Agora, perto do Enem, a gente está tendo aula três, quatro dias a tarde. E tem os simulados do Bernoulli, que são no estilo do Enem e a gente tem a correção no mesmo sistema e dá até para a gente simular a nossa nota no SISU. E a gente também não tem prova aberta aqui, o que é um pouco polêmico. Só temos os simulados e muitas redações”, comenta a aluna Beatriz Ribeiro Costa, de 17 anos.

Estudantes do Frei Seráfico comentam como é a preparação para o Enem na escola. Foto: Elaine Maciel.

Um ponto negativo identificado pelos alunos é o estresse causado pela preparação do Enem. “A gente acaba se cobrando e acabamos não conseguindo fazer tudo certo o tempo inteiro. Talvez se não existisse tanta cobrança sobre a gente, que a gente acaba colocando por causa desse meio, seria uma coisa muito mais tranquila. É complicado. Acho que a gente precisa de um incentivo, mas não precisaria ser com tanta pressão”, conta Beatriz.

 A pressão é um problema reconhecido pela diretoria da escola. “O estresse pode prejudicar os alunos, então o que a gente faz? A gente tem psicólogo, a gente faz atividades como jogos internos, que param as atividades durante três dias, atividades artísticas e viagens. A gente diversifica as atividades oferecendo para eles horas de lazer”, diz Alcimara.

 A pressão psicológica da prova não se limita aos alunos do Frei Seráfico. A aluna Maria Clara Zenaide de Sousa Nascimento, que estuda na Escola Estadual João dos Santos afirma que a pressão ainda é um agravante: “Ela atrapalha muito, mas os professores da escola são comprometidos com uma educação de qualidade e há um trabalho contínuo no ensino médio direcionado  para a preparação  dos alunos para o Enem”.

 A aluna Caroline Bastos Silva, que também estuda João dos Santos afirma que há um nível inferior de aprendizado na Escola ao do cursinho devido à dificuldade de concentração durante às aulas: “Alguns professores até passam uma lista de exercícios para fazer em casa com os assuntos mais abordados no Enem, o que facilita, mas eles não dão oportunidades para a gente praticar a redação, por exemplo”.

 Procurada diversas vezes pela equipe de reportagem, a diretora do João dos Santos não compareceu às entrevistas agendadas. Porém, a Superintendente Regional de Ensino, Adriana Leitão, diz que as escolas estaduais tentam preparar os alunos para os exames. “Nós vamos oferecer um simulado, tentando colocar a situação o mais parecida possível com o que os nossos estudantes vão encontrar no Enem, mas a preparação é feita ao longo do ano letivo. E nós temos conseguido bons resultados, com destaque para a Escola João dos Santos”.

 Contudo, Leitão não nega que existam diferenças entre as escolas públicas e privadas. “Em termos de estrutura talvez possa haver uma diferença. No nosso corpo de professores temos muitos profissionais que atendem tanto a rede estadual quanto a particular. A diferença às vezes é o comprometimento da família, que infelizmente, na rede pública é menor que na rede privada”.

Romeo Scommegna fala sobre os problemas da educação. Foto: Talita Tonso.

O advogado trabalhista Romeo Scommegna, concorda que a desigualdade entre as escolas públicas e privadas tem influência das famílias.  “Eu acredito que a diferença não esteja na qualificação do professor ou no mérito do aluno e sim em três fatores: a condição de trabalho da instituição privada que é superior por ter mais recursos financeiros, a pedagogia de escolas públicas que são menos elaboradas e menos firmes do que escolas particulares e os alunos que, normalmente, têm estruturas familiares diferentes o que reflete no seu desempenho escolar” comenta.

 O Sindicato Único dos Trabalhadores da Educação de Minas Gerais (Sind-UTE) vem lutado para melhorar a educação na rede pública. Entre as principais demandas do Sind-UTE estão o cumprimento do piso salarial dos professores e a não aprovação da reforma da previdência. A representante do sindicato em São João del-Rei, Fufa Santos, não foi encontrada para dar uma entrevista sobre o tema.

 Para o futuro nas escolas estaduais, Adriana Leitão vê um Ensino Médio em período integral. “Nós começamos em 2015 com 8% das nossas escolas com educação integral. Hoje esse número chega a 80%, mesmo com toda a dificuldade financeira que estamos passando. São dificuldades grandes, mas temos conseguido vencer e fazer um bom trabalho.”

 

Texto/Vertentes Histórica: Ana Resende Quadros, Elaine Maciel e Talita Tonso
Colaboração: Thaís Fernanda

 

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