Documentário “Só para Loucos” retrata cotidiano de Ventania
Ao chegar a São Thomé das Letras, no sul de Minas, ele seguiu para a casa de um dos ícones da cidade. A campainha não tocava, provavelmente não estava funcionando. Então gritou, para ver se notava a presença de alguém na casa. Eis que chega Ventania, “com uma humildade surpreendente, para nos atender”, narra Diego Alexandre – graduando em Comunicação Social pela Universidade Federal de São João del-Rei – que, recentemente, embarcou em direção ao seu primeiro documentário, “Só para Loucos”.
Conhecido por levar uma vida transcendental, Ventania é associado ao ritmo “rock estroncho”, que resgata valores da identidade hippie marcantes na década de 70. Em entrevista concedida à Vertentes Agência de Notícias, Diego Alexandre relata as experiências e intenções com o documentário, que traz um olhar mais intimista sobre a vida, a família e a carreira de um dos hippies mais famosos do Brasil.
Vertentes Agência de Notícias: Como começou a ideia de criação do documentário sobre o Ventania?
Diego Alexandre: Eu não conhecia a obra do Ventania, mas tenho uma amiga que tinha ido a vários shows dele e sempre falava. Um dia, por curiosidade, resolvi ouvir, e curti bastante. Pesquisei sobre ele na internet, li, vi a entrevista dele com o Danilo Gentili. Pensei: “por que ninguém fez um documentário sobre este cara?”. Entrei em contato com o empresário dele e conversamos sobre minha vontade. Ele passou a ideia para o Ventania, que também achou legal e, por fim, agendamos. Procurei o pessoal da produtora Pato Preto, para eles entrarem com equipamento e com a produção. O Léo, integrante da produtora, me ajudou. Montamos uma equipe e fomos para São Thomé.
VAN: Quanto tempo durou o desenvolvimento do roteiro e início das filmagens? Quais foram as dificuldades durante o trabalho?
Diego Alexandre: Em pouco menos de três meses, foram feitas a criação do roteiro e a gravação em São Thomé das Letras. Como não o conhecia e nunca tinha ido para São Thomé, não montei um roteiro pensando em um lugar. Eu assisti entrevistas com ele e fui anotando coisas legais que ele poderia contar. Eu queria que ele contasse a inspiração das canções. Fica claro nas músicas uma ligação direta com a vida dele.
Foram três dias de filmagens, dois dias com o Ventania e, no último, fizemos externas da cidade. No primeiro dia fez sol. Pensei “que legal! Nós vamos gravar tudo em externa!”, pois essa era minha ideia original, gravar tudo pela cidade, na Pedra da Pirâmide e na Pedra da Bruxa. No segundo dia, o tempo “fechou”, não dava para gravar nos lugares de São Thomé. Era um lugar frio, de muita neblina. No terceiro dia, já choveu. Nada foi do jeito que planejei. Foi tudo na casa dele e, em parte, foi legal. A gente pegou momentos íntimos dele almoçando com a família, com a sogra dele que, às vezes, dá “uma força” para a mulher dele. Filmamos a relação dele com o filhinho pequeno, o Raul. A gente pegou uma coisa bem íntima mesmo. Como ele mesmo disse, estava contando coisas que nunca tinha falado em entrevista nenhuma.
VAN: As gravações dentro da casa dele trazem um olhar mais próximo do dia a dia do artista, como pai, marido e morador de São Thomé. Qual foi sua percepção durante os dias de filmagem?
Diego Alexandre: Ventania é uma pessoa muito simples. Você chama do lado de fora, porque a campainha não funciona, e ele já te chama para ver quem é. Tem sempre um monte de gente que vai a São Thomé e que quer conhecê-lo. Durante a gravação, chegou um pessoal de um moto clube, com um cara levando o filho dele de 15 anos, que é cego e sempre quis conhecer o Ventania. A gente pegou este momento, do menino cantando e ganhando um CD autografado.
Teve coisa que a gente não vai mostrar até o lançamento do documentário, como a “bíblia dos loucos”. Muita gente vem procurando, é um livro artesanal. Ele conta a vida dele, mas não conta em uma narrativa linear. Ele vai jogando coisas e pensamentos. Músicas, “viagens” que ele tem, ele vai colocando ali. Tem mais de 600 páginas, e ele perdeu algumas coisas. Tem umas histórias legais, como quando ele fala pela primeira vez da família dele, da mãe, do pai. Teve um depoimento muito curioso sobre sua espiritualidade. Ele fala sobre a bíblia – ele sabe passagens da bíblia e estuda isto- , e não é uma coisa que você imagina. Ele fala que “uma pessoa sem fé é uma pessoa vazia”.
VAN: O que você vai procurar mostrar neste documentário?
Diego Alexandre: Depoimentos do Ventania, da esposa dele e do amigo que toca com ele. A gente tem muito depoimento e muito material, tanto que penso em fazer um filme maior. A minha ideia mesmo é mostrar a intimidade dele. Claro que vamos enfocar a obra dele, mas acho que tudo é misturado. O Ventania artista não tem diferença do Ventania em casa, é uma figura totalmente original. Ele é uma pessoa natural, aquela pessoa que chama para comer na casa dele, arrota, tudo na frente da câmera. Ele gosta, não é deslumbrado pela fama.
O lançamento do documentário deverá ser em janeiro do ano que vem e, provavelmente, será veiculado na Mostra de Cinema de Tiradentes, caso seja aprovado.