Dia Internacional do Agricultor Familiar: O campo em perspectiva
Por Igor Chaves
Tudo começa no campo. O ser humano precisa se alimentar do nascer ao morrer — é vital para que o corpo produza, trabalhe e avance. Não é facultativo: o alimento é essencial e sua origem sempre será a terra. É do chão que crescem os legumes, as frutas e verduras. É da terra arada, semeada e bem cuidada que florescem as mais diversas culturas de produção. É no campo onde tudo começa, e a terra também é aquela que molda o agricultor.
O Dia Internacional do Agricultor Familiar foi instituído por meio da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), no ano de 2014. Para a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), a profissão engloba todos aqueles que trabalham em pequenas extensões de terra, dirigindo as atividades e utilizando mão-de-obra da própria família. São mais de 11 milhões as pessoas que encontraram no campo sua perspectiva, futuro e amor.
Contexto regional
Foi também no campo que começou a história de Ana Paula Pinheiro e Marcelo Correa da Silva Junior. Bisnetos de agricultores, o casal belo-horizontino foi dos vasos pequenos à horta familiar, escolhendo o plantar como ofício. Agricultores agroecológicos, cultivam e vivem do Quintal Floresta, produzindo pimentas, mudas de ervas, temperos e hortaliças. No último ano, deixaram a capital em troca de Dores de Campos, município com pouco mais de dez mil habitantes. “Aqui, como o custo de vida é mais baixo e temos moradia, conseguimos ter tempo e um pouco mais de dinheiro para investir na nossa produção”.
Dores de Campos é vizinha de São João del-Rei. A cidade está na rota de programas e organizações de controle social (OCS) voltadas para a agroecologia, como a Rede Trem Natural. O casal participou do último intercâmbio agroecológico da RTN, realizado em junho de 2024 e, para Ana Paula, a integração foi sinônimo de inclusão: “Conectando agricultores em uma comunidade, incluindo a gente em um grupo onde nos encontramos com nossos pares e conseguimos enfrentar juntos os problemas e pensar juntos as soluções”.
Nos últimos anos, programas como a Rede Trem Natural têm celebrado o agricultor familiar e possibilitado a proteção da biodiversidade no meio rural. Até o final de 2024, a RTN ainda terá dois intercâmbios agroecológicos, enquanto, em Barbacena, promove às quintas a feira da Casa Verde – IVERT, com variedades de frutas, verduras e legumes.
Contexto nacional
Iniciativas assim compreendem uma articulação sistêmica essencial, já que impactam na qualidade de vida dos agricultores e no fornecimento de alimentos saudáveis para a população. A fim de fortalecer e promover o modo de vida levado pelas famílias no campo, há ainda o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que desde 2009 garante que 30% de seus recursos sejam direcionados à compra de produtos vindos da agricultura familiar.
Falando em PNAE, em São João del-Rei foi tornado público o Processo Administrativo nº 095/2024, cujo objetivo é a aquisição de gêneros alimentícios através da agricultura familiar. O edital, disponível a partir de 29/07, busca por agricultores da região que tenham interesse em se candidatar como fornecedores, visando atender Escolas Municipais, Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) conveniadas junto ao Programa. Essa movimentação pública valoriza gêneros alimentícios produzidos em âmbito local e incentiva o sonho da Ana Paula e do Marcelo: a agricultura familiar devidamente reconhecida.
De volta ao campo
Quando pensamos nas Vertentes, o mais é sempre bem vindo: mais espaço, mais direitos, mais incentivo. O casal de Dores de Campos concorda — eles aguardam ansiosos o despontar da região: “Coletivamente sonhamos que a região das Vertentes possa ser uma potência em agroecologia, que consigamos proteger nossas nascentes, nosso solo e alimentar nosso povo com comida de verdade”.
Comida de verdade: talvez seja essa a essência da agricultura familiar. Ao falarmos da comida que colocamos em nosso prato, devemos lembrar que a diversidade alimentar é o que caracteriza o trabalho do pequeno produtor. Segundo a CONTAG, a agricultura familiar continua sendo responsável por parte significativa na produção dos alimentos que chegam à mesa da população brasileira, garantindo a segurança alimentar e nutricional. Para Ana Paula e Marcelo, é nesse ponto onde encontramos a maior beleza dessa profissão: “Poder ver todo dia o que plantamos, se desenvolver, crescer, frutificar e depois ir para as mãos de outra pessoa alimentar uma família”.
Agora, antes de seguirmos em frente, devemos olhar para o caminho que trilhamos até aqui. Como Ana Paula bem lembrou, a agricultura existe há mais ou menos 11 mil anos e, ao longo de todo esse tempo, o ser humano desenvolveu a habilidade de cultivar seu alimento, selecionando e melhorando os cultivos. Ao longo de toda sua história, a agricultura familiar resiste e o trabalho do agricultor familiar persiste: “Que a gente confie na nossa verdadeira tradição de cuidado com a terra, plantando comida de verdade e cuidando cada um do seu pedacinho de chão”, porque tudo começa no campo, e quem não vive dele, depende dele para viver.
Fontes
GOMES, Pauline de Amorim Uchôa Maia; COSTA, Árquiro Sânio Correia; CLEMENTE, Pâmmela Kalyne Lima. Agricultura familiar e a nutrição social. In: BRASIL, Carla Cristina Bauermann (org.). Alimentos, nutrição e saúde. Ponta Grossa – PR: Atena, 2021. Cap. 9, p. 96.
SALIM, Leila; ANGELO, Claudio. Será que vai chover? [livro eletrônico]: é a tal mudança climática?. Piracicaba, SP: Laboratório do Observatório do Clima (LABOC); CONTAG, 2024
Serviços
Quintal Floresta
Instagram: @quintalflorestaqf / Telefone e catálogo: 32 998242736
Rede Trem Natural
Site Agroecologia em Rede: https://agroecologiaemrede.org.br
Youtube: Canal Rede Trem Natural / Facebook: Rede Trem Natural / Instagram: @rede_trem.natural
Associação de Agricultura Familiar e Agroecológica de São João del-Rei
Endereço: Sítio Felizardo (Rua Otávio Angelo Calsavara, 01, Colônia do Giarola, São João del-Rei ,MG)
Instagram: @cestaprogramadasjdr / Telefone: 32 9922-5344
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