Crônica – O instinto pela sobrevivência em “Alien: Romulus”
Por Oswaldo C. Almeida
Em uma colônia mineira onde o sol nunca chega, Rain sonha em viajar para um mundo recém colonizado enquanto trabalha em uma regime de semi servidão para a Weyland-Yutani, uma mega-empresa que explora outros planetas. Ela arrumou esse trabalho depois da morte do pai nas minas de carvão, que antes de ir, trouxe um irmão chamado Andy, que é na verdade um sintético defeituoso, programado por seu pai com apenas uma diretiva, fazer o que for o melhor para a irmã.
As coisas não iam bem na colônia, com a expectativa bem baixa e um descaso da empresa. Mas Rain dá de ombros e continua, pois ela cumpriu as horas obrigatórias de trabalho para pedir sua viagem. Só que logo a esperança morre: a meta aumentou e ela será realocada para o mesmo lugar que seu pai morreu.
A única coisa que poderia trazer uma vida melhor para Rain e seu irmãos é uma missão com seus colegas: furtar as câmeras criogênicas de uma nave dupla, Romulus e Remus, desativada em órbita do planeta em que vivem, permitindo-os fugir dali em êxtase, para uma viagem de anos. O que poderia dar errado?
Devo dizer que é a minha primeira vez vendo um filme da franquia criada pelo Ridley Scott na década de 70. Isso se deve a muito as péssimas recepções aos filmes mais recentes dirigidos pelos próprios e ao fato de eu ser um covarde. Logo, foi muito bom ver um filme no cinema que é verdadeiramente bom – e apavorante.
Alien: Romulus foca no conceito da franquia, um horror espacial, que se passa 20 anos depois dos eventos do filme original. Aqui, não temos a questão dos deuses astronautas que foi vendido nos filmes mais recentes, mas sim, a pura luta pela sobrevivência contra um organismo perfeito. O diretor dessa fez foi Fede Álvarez, o uruguaio responsável pelo renascimento de outra franquia de terror, The Evil Dead, onde demonstra mais uma vez seu talento com produções do gênero.
Uma das principais questões que me saltou os olhos durante a exibição no Cine Glória foi a beleza. Parece irônico falar disso no terror e talvez um pouco preocupante, mas o diretor de fotografia, Galo Olivares, juntamente com o Álvarez, produziu cenas deslumbrantes, mesmo na escuridão. Ao lado da construção de cenários baseados na estética do Retrofuturismo e nas pinturas do Hans Ruedi Giger, as vezes me fez esquecer da tensão para olhar os detalhes. Eles contam uma história sem precisar de diálogo.
Não coloco responsabilidade disso na equipe dos efeitos práticos, pois embora a maior parte do filme tenha sido supostamente feita sem o uso de CGI, ainda existe aquele toque de edição e computador. Por isso, coloco os créditos na mão da direção
Fede Álvarez é alguém que desejo acompanhar toda a carreira, pois ele sabe usar bem uma câmera. Ela parece uma pessoa observando a história, e, em outros momentos, é a criatura, andando pelos ambientes e estudando os personagens. Tudo isso constroi um ritmo perfeito para cada arco, incluindo a construção da tensão.
Estamos falando de um filme de terror onde os personagens que nos apegamos tanto estão enfrentando algo supostamente imparável. Poderia aqui ficar horas e horas falando do Xenomorfo, mas sem a nave Romulus e Remus, sua ameaça seria reduzida. Não estou aqui dizendo que as famosas criaturas aparecem pouco, na verdade, aparecem muito rapidamente no filme – a cena dos Facehuggers é traumatizante, odeio esses bichos -, apenas que seu impacto seria reduzido sem o ambiente junto à filmagem.
Quando falamos de roteiro, não irei comentar o que todos falam, Alien: Romulus é uma colagem do primeiro Alien, porque não vi – ainda – o primeiro filme. No entanto, posso afirmar que ele promete e cumpre o que se propõe, como retoma o conceito de humanos contra o desconhecido, ao mesmo tempo que faz uma metáfora já conhecida da franquia sobre assédio. Não é atoa que uma das revelações do roteiro gira em torno disso, causando ainda mais desconforto.
A motivação inicial da protagonista é a sobrevivência. Ela morreria na colônia, assim como morreria se ficasse na estação com o personagem, mas se recusa a desistir para garantir uma vida melhor para si e Andy. Isso se reflete em todos os personagens, incluindo o antagonista, um instinto de sobreviver mesmo ao impossível.
A única questão que parece desconexa ao todo da obra é seu final. Sem spoilers aqui, mas sinto que faltou conexão no terceiro ato para isso acontecer, embora tenha sido bem construído. É apenas um incômodo que provavelmente muitos discordaram de mim, mas acredito que 10 minutos a mais resolveria esse problema
Tudo isso torna Alien: Romulus um dos melhores filmes do ano, que deve reviver a franquia. Se tiver coração bom, recomendo aproveitar quando tiver a chance.