Nas minúcias da maternidade encontram-se motivos para manter a vila em pé
Neste segundo domingo de maio comemora-se mais um Dia das Mães
Por Clarice Muscalu
Cambaleava, com a filha no colo, quando o ônibus passou por mais uma lombada. Já eram quase onze horas da noite. O dia tinha sido – como todos os outros – pra lá de cansativo. Tudo o que mais desejava era chegar em casa, em direção aos braços da vó e ao colo da mãe, colocar o neném pra dormir e cair no sono. Claro que tudo se repetiria no dia seguinte, e no outro, e no outro, e no outro… Já estava acostumada: foi assim com a mãe e com a avó, por que não seria com ela?
Não era de se esperar a ajuda dos pais. Os filhos tinham-nos como seus unica e exclusivamente. No fundo, no fundo, sempre souberam que seriam só elas, já que nem elas próprias conheceram os pais. A gente sabe que, dos homens, as mulheres recebem pouco amor e respeito. “Profundo ver o peso do mundo nas costas de uma mulher”, já dizia Emicida.
Mas, no meio disso tudo, conseguiram tirar leite de pedra: juntas, criaram sua própria vila. Estabeleceram laços, proteção e afeto. Construíram um lar. Se entenderam num mundo que nunca as entende. Mas, ainda sim, esse mundo é cruel demais e ser mãe nunca foi uma tarefa fácil.
No fim das contas, falar sobre maternidade é entender que, por mais que muito recompensador, é, de fato, um trabalho difícil. Se ser mãe, por si só, já traz consigo muitos desafios, a tarefa torna-se muito mais complicada quando não desejada. Porque, afinal, ser mãe não é – mas deveria ser – uma escolha, diferente da paternidade, que não carrega a mesma carga semântica e social da “maternidade”.
Apesar de tudo, parafraseando Rachel de Queiroz, mães, aquelas as quais citei logo acima, sabem o que valem e há, além de tudo, muita graça, amor, afeto e doçura nas minúcias da maternidade. Há o suficiente para tornar o peso moral da vida em sociedade mais suportável e encontrar, entre os ônibus lotados e os abusos no trabalho, motivos para manter a vila em pé.