Coral comemora cinco anos de luta contra problemas emocionais
Coral Vozes da Superação, em Santa Cruz de Minas, representa alternativa de superação e tratamento psiquiátrico e psicológico
“Quem canta seus males espanta”, diz o ditado popular que se tornou realidade em Santa Cruz de Minas. O motivo? A existência, que já comemora cinco anos, do Coral Vozes da Superação, promovendo a melhoria da saúde mental de pessoas com doenças, como ansiedade, depressão e problemas emocionais, através da música. Tudo isso longe dos tradicionais tratamentos nas clínicas.
Para a participante Ilda Gonçalves Santos, o coral significa um modo de apoio e convivência. “Cantamos para incentivar. Todos que aqui estão, estão no mesmo caminho. Superamos as mágoas e as tristezas, isso faz de nós uma família reunida, em que um auxilia o outro.”, afirma.
Com início no primeiro semestre de 2011, o grupo, em atividade, configura um programa do Projeto Bem Viver, da CISVER, com o apoio do CRAS de Santa Cruz de Minas. Após a contratação do terapeuta ocupacional, Marcelo Lima Rodrigues de Carvalho, foram delineadas, junto com os psicólogos, Gilmar Geraldo Ferreira e Danielle Aparecida Dantas, as propostas para a criação de grupos e oficinas terapêuticas no serviço público da cidade. Assim criou-se o grupo do coral, hoje, denominado, Vozes da Superação.
Segundo o psicólogo Gilmar Ferreira, um dos responsáveis pelo grupo, “a depressão faz com que as pessoas sintam não pertencerem a nada, nem ninguém. O grupo faz com que elas se sintam bem, se sintam parte de algo, do Coral Vozes da Superação”, explica.
O programa encontra-se inserido dentro da atenção à saúde mental, fundamentado nos princípios do SUS e da Reforma Psiquiátrica. Conforme o terapeuta ocupacional, Marcelo Lima, “a música é uma forma muito eficiente de se expressar, por isso damos ênfase na saúde mental. Se na época dos manicômios tivessem colocado as pessoas para cantar, atualmente elas estariam bem melhores”, alega.
E o aposentado Sebastião Fagundes de Carvalho confirma, contando sobre sua história pessoal, como antes o tratamento psiquiátrico, dado a pessoas com esses problemas de saúde, eram diferentes. “Eu trabalhava na prefeitura, levando, em um fusquinha com um policial do lado, pessoas com doenças emocionais para Barbacena. O sofrimento era imenso”, conta.
As reuniões do Coral, ocorridas semanalmente nas sextas-feiras, de 08h30 até 10h30, no prédio do CRAS de Santa Cruz, recebem, em média, o número de 15 a 20 participantes. Quantidade que varia muito, como explica os responsáveis. Além dos momentos de cantoria, de um repertório bem diversificado, de músicas que vão do profano ao religioso, os membros também participam de oficinas, como as de artesanato.
De acordo com a participante Cristiane Amélia Campos, “as músicas dizem o que sentimos. Nos primeiros dias, todos choram, e a superação acontece dia a dia. Existe muita vergonha, por parte daqueles que têm problemas emocionais, de vir até aqui procurar ajuda.”, declara.
O principal objetivo não é aprimorar conhecimentos relacionados à música, mas fazer com os participantes encontrem no Coral um ambiente propício à escuta de seus problemas pessoais. Por isso, o programa conta com o auxílio de dois psicólogos, um deles, músico, e de um terapeuta ocupacional. Para a estudante Sabrina Tamíres, antiga estagiária em Psicologia no conjunto, o diferencial do projeto é que “Ninguém aqui fala de doença, ninguém fala de dor, somente de alegria. É isso o gerador da superação destas patologias.”, atesta.
Como planos futuros, o Coral pretende aumentar o número de participantes, não pela quantidade, mas para que outros, que também necessitam deste tratamento, aproveitem essa experiência. Além do mais, uma comemoração, oficial, pelos 5 anos de existência do Vozes da Superação, está marcada para 18 de Maio, dia nacional da luta antimanicomial, em que os membros apresentarão seus trabalhos à comunidade.
Para a filha de um casal participante do grupo, Mariléia Gonçalves Freitas, os momentos de apresentação do Vozes da Superação representam “uma grande emoção, não sei se choro ou se rio. O Coral dá abertura para ser mais gente, e até eu, já fiquei interessada em participar.”, conta.
Qualquer pessoa, independente da idade, pode participar do Coral, basta frequentar as reuniões, sempre às sextas-feiras, com início às 08h30, no CRAS de Santa Cruz de Minas, situado na rua São Paulo, número 96.
TEXTO/VAN: Emanuel Reis & Graziela Silva