Caminhabilidade em São João del-Rei: a busca por acessibilidade
Apesar de projetos da Prefeitura Municipal, a realidade de moradores são-joanenses com deficiência física é preocupante.
Por Christopher Faria e Clarice Muscalu
Revisado por: Samantha Souza
De acordo com o Instituto de Transportes de Políticas e Desenvolvimento (ITPD), o termo “caminhabilidade” pode ser compreendido como “a medida em que as características do ambiente urbano favorecem a sua utilização para deslocamentos a pé”. Entende-se também nessa temática a importância da acessibilidade e da inclusão.
Em São João del-Rei, o tópico da acessibilidade ainda é um assunto pouco levantado. Segundo Cláudio Dinali Lombelo, cadeirante, pesquisador e ativista do Grupo de Acessibilidade Arquitetônica e Urbanística (GRAAU), a dificuldade de se deslocar pela cidade é enorme e se dá pela falta de rampas nas ruas e em prédios públicos, pelas ruas esburacadas e por transportes públicos inacessíveis.
-“É extremamente difícil usufruir o meu direito de ir e vir”, afirma Lombelo.
Cláudio relata algumas dificuldades quanto à falta de acessibilidade na cidade. Em consultas médicas, por exemplo, o atendimento é feito na rua devido ao espaço mal planejado para sua cadeira de rodas. Ademais, afirma que não consegue participar das reuniões públicas na Câmara Municipal por não ser um ambiente acessível e que isso é decepcionante, uma vez que não pode exercer seu direito à cidadania.
– “É uma grande exclusão não permitir que um cidadão, que contribui com as suas obrigações municipais, não possa participar ativamente no seu município”, Cláudio Lombelo.
Nesse cenário, a prefeitura de São João del-Rei providenciou, em dezembro do ano passado, 98 cadeiras de rodas às pessoas com deficiência. O intuito do projeto era estimular uma cidade mais acessível. No entanto, os moradores, assim como Cláudio, demonstraram insatisfação com a iniciativa, dado que não solucionou efetivamente as questões de caminhabilidade para pessoas portadoras de deficiência.
Em 2019, a Comissão de Mobilidade Urbana da prefeitura desenvolveu um Plano de Mobilidade Urbana atualizado, porém não foram realizadas consultas públicas ou audiências em razão da pandemia da Covid-19. Na proposta, o plano seria a base para a abordagem da estrutura física das ruas, rampas e calçadas. Fernanda Nascimento Corghi, professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ) e coordenadora do grupo “Design Para Todos”, afirma que a topografia da cidade não se preocupa com o pedestre nem com o transporte público. Para ela, a cidade não tem um traçado coerente com a topografia, muito menos com as necessidades do ser humano.
Corghi afirma que as calçadas não fazem uma boa transição, nem com as ruas nem com os lotes, impedindo a locomoção dos cadeirantes:
-“O que temos na cidade são ilhas de acessibilidade, isso quando um lote sequer é acessível”.
– “Temos uma cidade irregular, que cresce irregularmente, e que não tem impedimentos legais para isso.”, Fernanda Nascimento Corghi.
*Quando procurada, a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras não respondeu.