Antônia da Percíla fala sobre sua paixão pela música
No último dia 22, foi comemorado o Dia do Músico, data em que é celebrado o dia de Santa Cecília, padroeira dos músicos. A profissão do Músico, como profissão regulamentada, surgiu com a promulgação da Lei Nº 3.857, de 22 de dezembro de 1960.
Por todo o país, há importantes músicos que se destacaram em diferentes épocas, muitos tocando em conjuntos, bandas, outros em carreira solo ou ainda como cantores. Há também os profissionais, aqueles que realmente “vivem da música”, enquanto alguns têm a música como hobby. Por fim, há aqueles que lançam mão da música para contribuírem com a comunidade de alguma forma, tocando em espaços religiosos e não religiosos ou ensinando sua arte para crianças e adultos. Dentre estes, se encontra Antônia Geralda Santiago – a Antônia da Percíla.
Moradora da cidade de São Tiago, Antônia da Percíla tem, desde a infância, grande afinidade com o encantado mundo dos acordes. Ainda jovem, aprendeu as teorias fundamentais da música no canto e em diversos instrumentos. Com esse talento, começou a cantar em corais da igreja, bandas de música da cidade e, ainda, fundou corais infantis com o objetivo de ensinar música à crianças do seu bairro.
Em entrevista realizada pela VAN/UFSJ, ela conta um pouquinho da sua história, relembra pessoas e fatos importantes que a música a fez viver.
VAN/UFSJ: Como nasceu a sua relação com a música?
Antônia: “A minha relação com a música começou na minha infância. Já gostava de cantar, dançar. Vim de uma família com raízes na música. Minha mãe foi cantora, meu pai gostava muito de música. Me lembro quando era bem pequenina, São Tiago era muito pequena, e existia aqui no Bairro Cerrado um boteco e meu pai me levou em sua companhia para eu ver e ouvir um senhor do Capão. Lá, ele cantava e seu irmão tocava sanfona, e meu pai se alegrava muito.”
VAN/UFSJ: Quem influenciou você nesta arte?
Antônia: “O tempo foi se passando fui ficando moça e, naquela época, as pessoas jamais conversavam sobre os dons ou aptidões que a pessoa possuía para aprender algo. E, com isso, cresci mais um pouco e via as pessoas tocarem violão e outros instrumentos. Eu tinha o desejo de fazer isso também. O Sr. Guguti tinha um chorinho e, nas apresentações teatrais da escola, tocava para a gente cantar. Como vendia biscoitos na cidade, eu aproveitava para passar lá ao final das vendas e ficava apreciando. Acabava aprendendo quando observava ele tocando ou quando me mostrava uma partitura. O Sr. Quinzinho ensinou música à minha mãe Percíla, e Maurício Jefferson Pinto, o filho dele, me ensinou. Já na juventude, não tive condições de ter um violão, que era meu grande sonho. Somente anos mais tarde, quando já era casada, ganhei meu primeiro violão de presente. Foi um momento especial na minha vida quando peguei o violão. Aquelas duas posições que haviam me ensinado estavam ali, gravadinhas na minha cabeça. Lembrava-me como se fosse naquela época o Sr. Guguti fazendo. Consegui também fazê-las direitinho. Depois já tinha estudo música na Orquestra da Banda, resolvi aprender a tocar um instrumento de sopro, mas infelizmente não se tinha instrumentos com fartura, então tive que pegar um bombardino já bem usado e um pouco estragado. De lá para cá, com o princípio do violão, comprei um cavaquinho que era tocado pelo Sr. Vicentão nas Folias de Reis, esse já falecido. Logo pensei: quem iria me ensinar? Mas disse a mim mesma: ‘são quatro cordas, o violão são seis, aqui eu começo de baixo para cima, sobrou duas para baixo, a posição está feita’. Depois, tinha um bambolim no coral da Raegina Coelli da dona Ilza Rosa, que foi comprado no tempo do saudoso Sr. Cardoso, que foi músico nesta cidade há muitos anos. Resolvi pegar e tentar observar como se fazia para tocar. Deu certo! Consegui também tocar. Até aqui já estava tocando violão, bombardino, cavaquinho e bambolim. Agora, ganhei uma sanfoninha tem poucos meses, mas já consigo tocar algo e cantar junto, sem ninguém me ensinar. Depois de todos esses instrumentos, vem o violino. Tinha na minha cabeça a esposa do Sr. Joaquim Pinto Lara (Sr. Quinzinho), que foi maestro da nossa banda, tocando violino no coro da Igreja Matriz antes da reforma. O tempo passou, não falava com ninguém sobre o meu desejo de tocar violino, mas apenas guardava em meu coração. Um dia, meu filho Davi acho que me ouviu conversando sobre o violino, pois estava todo contente em conhecer o Conservatório de Música de São João del-Rei. Então ligou para a professora dele, conseguiu comprar um para mim. Com pouco tempo, chegava para mim de presente o tão sonhado violino. Fui um tempo no conservatório a fim de aprender mais esse instrumento especial.”
VAN/UFSJ: Qual o estilo que mais admira?
Antônia: “Admiro muitos estilos musicais, sobretudo o sertanejo, caipira e o religioso, que é a minha vida, minha alegria. Possuo em minha casa um baú bem grande cheio de partituras com diversos repertórios. Em casa existem músicas para determinados eventos. As músicas são preparadas para cada momento ou celebração. Tenho para qualquer ocasião e tudo arrumadinho.”
VAN/UFSJ: Já participou de algum evento de grande importância?
Antônia: “Sim. Já participei de eventos escolares importantes, quando estudava era sempre a da frente. Não perdia nada, sempre estava lá! Depois que fui crescendo, participei de encontros de bandas, quando era integrante da Banda Lira Imaculada Conceição. Também participei de Show de Calouros aqui em São Tiago. momentos religiosos e festivos na cidade. Já apresentei numa igreja em Belo Horizonte. Em São João del-Rei, me apresentei no Conservatório.”
VAN/UFSJ: Já realizou algum projeto voltado à música?
Antônia: “Sim. O projeto que realizei foi a criação dos corais da Igreja do Rosário. Fiz para se ter na igreja um coral aqui do bairro que pudesse estar presente nas celebrações das missas. Assim, resolvi chamar pessoas aqui do Cerrado que tocassem e pudessem sustentar o canto litúrgico. O que deu muito certo! Bem mais para frente, criei corais voltados para crianças, o das Pastorinhas, um com Folia de Reis para o Natal com instrumento tocando os instrumentinhos com músicas do nascimento de Jesus, também com o objetivo de aprender mesmo a tocar”.
VAN/UFSJ: Deixe uma mensagem.
Antônia: “Vou deixar aqui a mensagem para todas as pessoas não só da nossa terra, mas do mundo inteiro. A música e o cantar são dois remédios bons para a saúde, pois quando estamos com a cabeça atormentada com preocupações, tristes, sem saber o que fazer e tem-se que cumprir as obrigações diárias, a música é uma forma de relaxar, distrair, entreter, dá uma sensação de bem estar. Quando assim estou, faço uso da música no meu dia a dia! Daí, vou lá, pego um instrumento, toco, canto e me sinto bem. É como se fosse um remédio. Cante e vai melhorar!”
VAN/Marcus Santiago
Foto: Marcus Santiago