Por Júlia Diniz e Júlia Resende

Homem e criança juntos.
Imagem: Reprodução/Pinterest

‘’A ausência de um pai durante o início da vida em espécies biparentais também tem implicações profundas para o desenvolvimento da prole, embora seja muito menos estudada do que as influências maternas’’, aponta um estudo realizado pelo departamento de psicologia da Cornell University. Essa pesquisa, realizada em ambiente controlado em ratazanas (por haver um aparato genético semelhante ao nosso), nos concede uma amostra de parâmetro do que seria o impacto na presença cuidadora parental humana, consecutiva a impactos duradouros dependendo, muitas vezes, de um cuidado aprimorado. Dessa forma, pressupõe-se o efeito reverso, em casos de ausência paternal total ou não bem desempenhada, como igualmente impactante. 

Dessa forma, quando se trata do Dia dos Pais, é ainda mais delicado, uma vez que a paternidade carrega toda uma problemática, na qual muitos não a desempenham ou não a cumprem completamente, sequer atendendo às necessidades básicas envoltas em cuidar de uma criança. Tal fator se prova em estatísticas, bem como apresentado pelo Portal da Transparência do Registro Civil, em que quase duas mil crianças nasceram em Minas Gerais no ano de 2023 sem registro do pai. Isso corresponde a 6,3% do total de nascidos no estado, percentual 1,6% acima dos dados de 2022 no mesmo período. 

Tendo em vista esse alto índice, programas de incentivo ao reconhecimento da paternidade foram desenvolvidos pelo governo. Um deles é o mutirão “Direito a Ter Pai”, da Defensoria Pública de Minas Gerais (DPMG), em que são feitos exames de DNA gratuitos, assim como é disponibilizado o reconhecimento de paternidade espontâneo e/ou socioafetivo. O intuito é garantir o direito a ter o nome do pai ou da mãe no registro de nascimento, previsto na Constituição Federal.

Sendo assim, atrelando os fatores apresentados (falta de afeto, impacto na percepção e reação dos filhos e a falta de registro como meio comprobatório da defasagem no meio paternal) à cultura de demonstração de afeto por meio de presentes, é inegável a alteração dos índices de compra no Dia dos Pais. Assim como apresentado por análise de dados do Google em parceria com o Serasa e pesquisas internas, houve um aumento de 34% na busca pelo termo ‘’Dia das Mães’’, enquanto sobre o ‘’Dia dos Pais’’ o aumento é de só 19%. Pode-se dizer que este precedente está associado a um aumento maior no volume de vendas nas lojas no Dia das Mães em detrimento do volume de vendas no Dia dos Pais. 

Ainda que haja um aumento das vendas no Dia dos Pais em relação ao comércio rotineiro, vendedores da cidade destacam que é algo já mais defasado. Conversamos com a gerente da loja da Boticário em São João del-Rei e ela pontua que, de fato, o movimento de compra é maior no Dia das Mães e notou que os valores gastos nos presentes do Dia dos Pais também são menores no dia da celebração maternal. O mesmo fator foi pontuado pela caixa da loja Hering ‘’Tanto no dia das mães, como no dia dos pais, os valores disponíveis pelos clientes para comprar presentes diminuíram. Agora, procuram mais por uma lembrancinha’’.

Fontes:

https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0018506X24001302?via%3Dihub

https://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/servicos/reconhecimento-de-paternidade.htm

https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2023/08/13/em-um-ano-quase-12-mil-recem-nascidos-foram-registrados-sem-o-nome-do-pai-em-minas.ghtml