A Retórica da Arte Sacra na Modernidade das Vertentes
Por: Ana Luiza Fagundes, Késsia Carolaine, Maria Eduarda Cardoso e Vincent Otoni
A arte sacra em São João del-Rei e região tem uma longa história, que se entrelaça ao decorrer dos anos com artesãos e escultores que moldam a época que viveram. Por isso, põe-se em discussão a evolução da arte em uma cidade predominantemente sacro enquanto resquícios da modernidade chegam por meio de pichações e movimentos culturais.
O artista Fagner Ezequiel da Silva sempre teve sua vida ligada à arte. Desde a primeira infância, desenhava e fazia esculturas, até que se encontrou como artesão de esculturas de ferro. Graças aos turistas que visitam a cidade, ele consegue manter sua família. Essa realidade é semelhante a de inúmeros moradores são-joanenses que usam suas mãos e aprendizados passados de geração em geração para conseguir o sustento.
A artista Sandra Oliveira Rodrigues faz elementos para mesa posta à mão e compartilha que durante a pandemia da Covid-19 os tempos foram difíceis, sem contar que entregar suas peças pelo correio demandava muito dinheiro. Após essa fase, seu negócio voltou com força devido ao interesse das pessoas em reunir a família depois de muito tempo longe.
A modernidade adentra os muros e vielas da cidade, tentando encontrar um espaço entre a história, porém, nem sempre é fácil. Em uma cidade dominada pela tradição, os novos artistas tentam se encaixar e somar às belezas da cidade. Um esforço para que isso se torne realidade é a Lei Paulo Gustavo, que visa ajudar os novos artistas a se integrarem na comunidade artística das regiões em que estão inseridos.
O argentino Daniel Andrés Doval, apesar de ser agnóstico e não religioso, trabalha com arte sacra em Tiradentes. Ele não frequentou faculdade ou curso, mas lia livros e desenvolveu técnicas de fotografia a partir de sua experiência. Iniciou sua carreira na fotografia, em Buenos Aires, em uma agência. Em seu trabalho na arte, Daniel diz que a fotografia é um trabalho também sobre comunicação e uma ferramenta para se comunicar.
Ele diz que quando começou a fotografar, adquiriu a percepção de uma nova linguagem, que o representava e lhe dizia algo. Ele mesmo prepara os químicos e em algumas ocasiões até os fabrica, já que são elementos difíceis de serem encontrados. Daniel revela suas fotos em casa, onde tem uma sala vermelha. Inicialmente, sua câmera era de madeira e ele chegou a fazer fotos em máquinas digitais. Atualmente, ele construiu sua própria câmera.
Segundo Daniel, é possível viver da arte no Brasil, mesmo que a apreciação da obra seja diferente em relação à Argentina. Dentro do mesmo país, a arte pode ser consumida de formas diferentes. Daniel relembra que quando morava em Olinda, não era comum os turistas pedirem desconto, o que hoje é recorrente. “(…) Me pedem para fazer um preço mais barato por duas fotos, por exemplo. Mas se você estivesse em um restaurante, você não pediria um desconto por duas cervejas. As fotos não são uma mercadoria. O homem cita exemplos de outras formas artísticas, como a música: não é material, não se pode guardar, é um som. É uma troca afetiva, o músico que toca e recebe os aplausos.”
Daniel diz ainda que não sente falta de auxílio financeiro partindo do governo brasileiro: “Esse investimento acaba voltando para nós. Os impostos que pagamos acabam indo para a cultura e isso circula, os turistas veem uma cidade limpa e isso volta para nós.” Mas de modo geral, ele questiona a falta de acesso a lugares para os artistas trabalharem.
A religiosidade da cidade de Tiradentes é um ponto positivo para Daniel, que vê no diferencial do seu trabalho o principal atrativo para os turistas.
Relembrando as memórias em fotos marcantes, o artista conta que, ainda em Buenos Aires, um senhor lhe perguntou o valor da foto, ele disse e o homem seguiu em frente com sua esposa e três crianças. Daniel se sensibilizou e percebeu que não era um dinheiro que ele poderia gastar com sua arte. Assim, ele os presenteou com uma fotografia e a menina de oito anos disse “Olha! Estamos todos juntos!”.
Outro relato emocionante foi quando uma tradutora japonesa disse a Daniel que um homem, também japonês, gostaria de tirar uma foto. Ele explicou aos estrangeiros que os químicos demoravam um pouco para agir. O homem se emocionou ao receber a foto, já que era a primeira foto em preto e branco que alguém havia tirado dele. Ele era executivo da Canon, e estava indo visitar a câmera.
Desse modo, o fotógrafo acrescenta que seu trabalho o permite conversar com as pessoas e criar vínculos. “É fundamental saber fazer tudo o que se tem: atuar, fotografia, música, pintura. Todas são formas de se comunicar. Sempre vai haver um público e sempre vai haver um artista.”