Em seu primeiro fim de semana, a mostra de artes cênicas

levou a Tiradentes apresentação especial da atriz

 

A edição 2018 da mostra Tiradentes em Cena, ao explorar o tema liberdade nas artes cênicas, celebra a “luta política de uma mulher negra por meio da resistência artística” e faz uma homenagem especial a Zezé Motta, uma das atrizes mais importantes da Teledramaturgia Brasileira. São comemorados 50 anos de carreira da atriz, repletos de trabalhos inesquecíveis, por meio de uma exposição de terça a domingo no Centro Cultural Sesiminas Ives Alves, durante todo o evento.

Zezé Motta durante apresentação na Igreja Matriz de Santo Antônio, durante a mostra Tiradentes em Cena (Foto Rafael Nascimento)

No domingo (6), o público assistiu ao belo espetáculo “Zezé Motta em Divina Saudade”. Realizado em pleno salão da Igreja Matriz de Santo Antônio, em Tiradentes, a atriz reverenciou uma expoente da Música Popular do Brasil, Elizeth Cardoso. Descalça, esbanjando alegria e o inconfundível prazer em cantar, Zezé interpretou canções eternizadas, entre elas “Canção de Amor”, “A Noite do Meu Bem”, “Chega de Saudade”, “Estrada Branca” e “Barracão”. Zezé mobilizou a plateia, que tanto se uniu em coro à intérprete como se levantou para sambar, a passos leves, a irresistível peça de Ary Barroso, “Isto Aqui, O Que É?”.

Tendo como palco Tiradentes e também São João del-Rei, no período de 4 a 12 de maio, a 6ª edição do Tiradentes em Cena vem oferecendo ao público uma programação rica e diversificada, mesclando teatro, dança, artes plásticas – como a pintura ao vivo (estilo live painting) e instalações diversas, entre elas a inigualável Máquina de Histórias.

Abrindo a programação do evento, às 19h de sexta (4), no Yves Alves, a performance “Pacha Harvey Mama Zulu, dança solo de Morena Nascimento, de Salvador (BA), que entende o ato de dançar como “colecionar intensidades no corpo […] saber tocar fogo e saber ser água”.

Após “O Batizado”, cortejo de artista e público percorre as ruas até o Largo das Forras, em Tiradentes (Foto Lorene Souza)

Às 10h de sábado (5), na Igreja Matriz de Santo Antônio, teve lugar a encenação “O Batizado”, seguido de cortejo conjunto dos inconfidentes representados, do público e do grupo Congado Escrava Anastácia até o Largo das Forras, numa volta ao passado histórico do século XVIII e finalizado com mensagem do ideal da inconfidência declamada “aos quatro ventos”.

No início da tarde, em Tiradentes, paralela à exposição fotográfica “Liberdade e Reconhecimento”, de André Frade Andrade, sobre o cotidiano e as pessoas de Tiradentes, teve lugar no Largo do Rosário a rodada de “Pintura ao Vivo”. Integrantes do movimento Rota do Atelier, que reúne renomados artistas de Tiradentes e de outras localidades da região, utilizaram técnicas de pintura em tela, em assemblage (em colagem) e escultura com argila ao vivo, numa forma de improvisação performática.

Artistas “em cena” durante a mostra em Tiradentes: (sentido horário): Zélia Mendonça, Lilian Morais, Jayme Reis, JB Lazzarini e Valéria Lima (Foto Rafael Nascimento)

A artista plástica Valéria Lima, afirmou, sobre sua participação na mostra: “fui convidada para fazer esta performance e fiquei muito feliz, pois neste meu terceiro momento da vida, me apego à arte para que ela tenha significado”. Já o artista JB Lazzarini, a respeito da pintura que definiu para a ocasião, explicou: “estou participando deste evento, que tem como tema a liberdade, então resolvi fazer uma tela sobre o Lula, com o tema ‘Lula Livre’”.  Lilian Moraes, artista que reside em Salvador (BA) há 27 anos, esteve viajando de ônibus para Minas Gerais durante quatro dias e disse estar participando desta vez mais como performista do que como artista visual, declarando: ”estou performando aqui no festival e estou amando os mineiros”.

Às 16h, abriram-se as cortinas da Máquina de Histórias no Largo das Forras, uma iniciativa do grupo Aldeia Teatro de Bonecos, que surgiu em Belo Horizonte, em 1988. Divertida, a Máquina de História busca apresentar ao público o universo do teatro de Objetos (inspirada nas “Máquinas do Teatro Inconsciente”, do grupo italiano La Voce de Le Cose), por meio da oferta de dois micro-espetáculos, Chapeuzinho Vermelho e Joãozinho e Maria, nos quais o participante atua ora como manipulador, ora como espectador.

No Adro Museu de Sant’Anna, às 17h, foi a vez do monólogo “Camille Claudel”, executado pela atriz Ivana Andrés. Sob a direção de Luciano Luppi, a peça resgata parte da história de genialidade e rebeldia que levaram à internação de Claudel em um hospício, até a sua morte, além de relembrar a tumultuada relação de amor e arte de Camille com o escultor Auguste Rodin e também o relacionamento agitado com o irmão Paul Claudel.

Encerrando a programação de teatro do sábado, foram apresentados os monólogos “A Descoberta das Américas”, com Júlio Adrião e direção de Alessandra Vannucci, no Yves Alves, e “A Jagunça”, com Michelle Ferreira e direção de Ildeu Ferreira, no Museu da Liturgia. Fechando a noite, às 20h30, no Largo das Forras, o espetáculo “Na Esquina”. Construído de forma espontânea por um elenco com performances e inter-relações diversificadas, como mastro chinês, trapézio fixo, lira, malabares, acrobacia de solo e o mão-a-mão, “Na Esquina” foi criado, em 2012, na Spasso Escola Popular de Circo e traz em seu elenco Clarice Panadés, Pedro Guerra, Philippe Ribeiro, Liz Braga, Rafael Rocha e Roberta Mesquita.

Na manhã de domingo (6), a programação teatral teve início, com a montagem “Chapeuzinho Vermelho” exibida no Largo das Mercês. Releitura do clássico da literatura infantil, o espetáculo abordou temas e discussões contemporâneos, apresentando o ponto de vista de cada um dos personagens. Texto e direção são assinados por Lívia Gaudêncio, sendo o elenco formado por Deinha Baruqui, Fabi Loyola, Leo Campos e Lucas Chiaradia.

Às 11h, no Yves Alves, mesa de debate com o tema “A Representação da Mulher Negra nas Artes Cênicas: Diálogos e Liberdade” reuniu as atrizes Zezé Motta e a mineira Aruana Zamby, do Grupo O Negro Conta, que acumula 40 anos de carreira em teatro e televisão.

Às 16h, a reapresentação do inusitado mix de artistas “Na Esquina”, dessa vez privilegiando a população de São João del-Rei, embelezou ainda mais o fim de tarde na Praça do Carmo. Nesse mesmo horário, em Tiradentes, foi apresentado “Trombo, um Solo de Carolina Correa”. O espetáculo é realizado pelo “Grupo de Dois” e é encenado pela atriz de mesmo nome. Sua trilha sonora tem autoria de Marcos Frederico e figurino assinado por Graça Ottoni.

Abrindo a programação noturna, às 18h, o Centro Cultural Sesiminas Yves Alves apresentou “O Negro Conta”. Inspirado nas memórias de dois artistas negros mineiros Aruana Zamby e Evandro Passos, os mesmos protagonistas em cena, o espetáculo teatral tem a música executada por Robert Moura. Finalizando a programação de domingo, o show “Zezé Motta em Divina Saudade”, realizado na Igreja Matriz de Santo Antônio, foi precedido por um texto interpretado pelo ator Paulo Goulart que, em meio a um jogo de luzes ilustrando a narrativa, contou de forma solene a história da Matriz, de alguns dos santos expostos e outras curiosidades.

           A mostra Tiradentes em Cena se estende até 12 de maio, trazendo várias outras atrações artísticas e eventos diferenciados em todos os dias. Durante a semana, os espetáculos teatrais acontecerão em diversos espaços da cidade, caso de “O Julgamento de Sócrates”, monólogo de Ivan Fernandes, com atuação e direção de Tonico Pereira, a se realizar no dia 9, no Teatro do Século XVIII – Uai Thai Restaurante Tiradentes.

Paralelas à homenagem prestada à vida e carreira de Zezé Motta, outras exposições também podem ser apreciadas no Centro Cultural Sesiminas Yves Alves, como: “Esculturas”, de Elis Machado Dias; “Tramas e Dramas”, de Gina Mesquita; “Noite de Reis”, de Zélia Mendonça, além de algumas das obras produzidas durante a performance “ Pintura ao Vivo”.

            O Festival de Edição “Cenas Curtas”, organizado pela mostra Tiradentes em Cena em conjunto com a Rococó Produções, exibirá as cenas vencedoras da 1ª edição (promovida em 2017) em dois momentos: no Teatro Municipal de São João del-Rei, das 18h às 22h da sexta (11) e no Sobrado Cultural Aimoré, em Tiradentes, às 15h do sábado (12).

Serão também oferecidas ao público oficinas e rodas de conversa, valendo conferir as muitas instalações artísticas espalhadas pela cidade, estimulando descobertas e novos olhares para as características e nuances históricas de Tiradentes.

Conheça toda a programação da mostra de artes cênicas de 2018 no endereço  http://www.tiradentesemcena.com.br.

 

Texto\VAN: Lorene Souza

Colaboração: Rafael Nascimento

Imagens: Lorene Souza, Rafael Nascimento

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