Por Isabela Barbosa, Igor Chaves e Raila Biaggio

4ª FLITI – Foto: Raila Biaggio

Tiradentes viveu uma semana repleta de literatura e arte durante a 4° edição da Feira Literária de Tiradentes (FLITI). De 25 a 29 de outubro, a FLITI trouxe para os visitantes uma programação diversificada que homenageou o centenário do renomado autor mineiro, Fernando Sabino. Sua obra e legado foram celebrados com várias atividades, incluindo mesas de conversa, apresentações infantis e ‘easter eggs’ pelas ruas tiradentinas, como a personagem Galinha do conto “Galinha ao Molho Pardo”, que chamava a atenção de todos que passavam pela praça central. 

 Além de reunir nomes da literatura, como Madu Costa, Thalita Rebouças e Martha Medeiros, esta edição contou com humoristas, roteiristas, musicistas e outros artistas para compor as rodas de conversas de temáticas variadas, com foco principal para a literatura em suas diversas formas.

Ana Lee em “O que querem as mulheres” – Foto: Isabela Barbosa

Mediada por Sylvia Palma, Morgana Kretzmann (escritora de “Ao Pó”) e Ana Lee (criadora e head writer de “Tarã”) apresentaram a roda “O que querem as mulheres?”, onde abordaram alguns pontos importantes em relação ao tema. Morgana, ao apresentar o desejo de preparar o mundo para uma nova geração de mulheres, ressaltou um de seus quereres:  “Como mulher, eu gostaria de não sentir medo, mas eu ainda sinto”. Enquanto isso, Ana Lee, ao defender que se o espaço não se abre, ele deve ser aberto de alguma forma, ressaltou: “Eu grito porque vocês não me escutam”. Seu desejo é que as mulheres possam ser e fazer tudo o que imaginarem, sem que precisem gritar para serem ouvidas.

Além disso, a FLITI deste ano foi a segunda edição aberta para autores independentes, com cerca de 130 inscritos, e recepcionou 24 desses autores, incluindo Heitor de Oliveira, 14 anos, e Nina Falcão, 12, que apresentaram seus primeiros projetos. Volnei Canônica foi o responsável por essa curadoria, e mediou diversos lançamentos e rodas de conversas com esses escritores. Volnei destacou a importância de se abrir esse espaço de apoio e divulgação para os autores independentes como forma de incentivo à escrita e à arte. É válido ressaltar, também, a presença de editoras independentes no evento, como as representadas por Kin Guerra: Solisluna, Ozé e Cai Cai. 

Editoras independentes – Foto: Igor Chaves

Apesar de aspectos adversos na organização, a Feira trouxe grandes nomes para Tiradentes e temáticas de importante discussão, como “Construção e Resgate da identidade étnico-racial na literatura infantil”, com mediação de Madu Costa ao lado de Monique Pacheco e Bruno Rodrigo. Em contraste à programação, as faxineiras que trabalharam na FLIT, em sua maior parte, mulheres negras, foram colocadas para trabalhar fantasiadas, resultando em grande hipocrisia por se tratar de uma feira literária. A  FLITI vem crescendo a cada edição, todavia, vale alguns alertas à organização, para que o ambiente seja igualmente acolhedor, oportuno e repleto de cultura.

Fantasia das faxineiras – Foto: Madu Costa

No último dia da Feira, a Arena I recebeu Lavínia Rocha e Madu Costa para a mesa com tema “Mamma África”, em uma conversa recheada de discussões acerca da temática racial na literatura e no ensino brasileiro. Essa última roda foi interrompida por uma tempestade que cortou a luz de toda a cidade de Tiradentes, mas trouxe belas palavras do mediador Alex Borges, ao ressaltar que as águas vieram para renovar e despertar após uma roda de bate papo construtiva sobre a luta contra o racismo nas escolas, na literatura e na FLITI. Por fim, a Feira apresenta grande potencial de crescimento como forma de reunião literária, mas, para isso, é esperado que a mesma exerça as devidas mudanças, afinal, se há racismo, não há oportunidade, acolhimento ou cultura.

Apagão na roda final – Foto: Igor Chaves