30 anos após a morte de Ayrton Senna: qual o legado deixado pelo piloto no Campo das Vertentes?
Por Ana Messias, Clara Damasio e Giulianna Andrade
Relembrando o cenário da Fórmula 1 nos anos 90, quando um brasileiro estreou a década conquistando 2 títulos e fez o país vibrar, Ayrton Senna, tricampeão mundial de F1, tornou-se símbolo do esporte no mundo todo.
Ayrton Senna da Silva, também conhecido como Beco, nasceu em 21 de março de 1960 e foi um piloto, empresário e filantropo paulistano. Dentre todo o glamour no mundo do automobilismo, a personalidade de Senna marcou muito mais que apenas os padoques e as pistas, mas também os corações brasileiros, inclusive, os mineiros.
A carreira de um piloto começa muito antes da Fórmula 1, da Indy, ou da Nascar. Os karts recebem os futuros grandes talentos das categorias internacionais quando ainda eram apenas talentos mirins, e com Ayrton não foi diferente. Antes de se tornar a estrela do automobilismo mundial, Ayrton Senna iniciou sua história nos kartódromos do Brasil, e conquistou seu bicampeonato de kart em Uberlândia (MG) em dezembro de 1978. O mais impressionante foi a forma que ele conquistou essa vitória: na chuva, com uma mão no volante e outra na bomba de combustão.
Já em São João del-Rei, a história é diferente: enquanto o Brasil comemorou a primeira vitória de Senna na Fórmula 1, a famosa cidade dos sinos chorou.
Tancredo Neves foi uma figura importantíssima na história política do país, o único presidente eleito e não empossado. Nascido em São João del-Rei, em março de 1910, Tancredo e sua família criaram laços com a comunidade são-joanense e mineira, tendo uma participação política muito ativa na região. O dia de sua morte, 21 de abril de 1985, marcou o luto na cidade, que, até os dias de hoje, possui diversas homenagens para a família Neves, em especial, para Tancredo.
O que muitos não sabem, é que no mesmo dia da morte de Tancredo Neves, 21 de abril de 1985, Ayrton Senna conquistou a pole position do GP de Portugal e, pela primeira vez, levou o troféu de primeiro lugar para casa. Em uma Lótus preta e dourada, a vitória na chuva foi mais que bem vinda para o piloto, iniciando o ciclo de 41 vitórias, 80 pódios, 65 pole positions e 19 voltas mais rápidas dentro de 161 grandes prêmios.
Mas, não seja por isso que as memórias com Ayrton Senna no Campo das Vertentes são todas ruins, muito pelo contrário. Hoje, 30 anos após a morte de Senna, a região ainda guarda boas lembranças e transmite o seu legado de geração para geração.
Em uma entrevista com Luciano Mota Lopes, dono do Kartódromo LML, com 26 anos de pista, localizado em Perdões (MG), afirma-se que o kart ainda é uma atividade muito praticada, e grande parte disso deve-se ao legado de Ayrton. O entrevistado conta que uma de suas motivações para a construção de sua pista foi uma reportagem sobre o Senna, na revista “Caras”, a qual retratava a nova pista na fazenda do piloto, e se deu como um marco inicial importante para Luciano.
Ele acredita que Ayrton foi, com certeza, um dos maiores responsáveis pelo crescimento do automobilismo no Brasil, e que a notícia de sua morte foi chocante. Ele cita: “A inspiração que o Senna deixou e propagou, o número de kartódromos que temos no Brasil nestes 30 anos multiplicou muito, popularizou-se o esporte. E isto nos deixa muito felizes, porque amamos a nossa proposta de trabalho, que sempre foi mais prazer do que tudo!”.
Além disso, é relevante entender o impacto desse esporte no Campo das Vertentes como um todo. No Kartódromo LML, de propriedade do entrevistado Luciano Lopes, eles recebem pilotos de todas as cidades mineiras e, apesar de se localizarem em Perdões, há muitos praticantes de Belo Horizonte e de outros municípios, que vão conhecer e correr no clube de kart. Desse modo, observa-se tamanha influência de tal atividade ao longo de todo território de Minas Gerais.
Já tendo em vista o público local, em específico com a comunidade são-joanense, ao entrevistar o proprietário Roberto Bispo de Paula, da Pousada Kart Club, é possível ver o fortalecimento dessa prática. Sobre o surgimento da ideia de abrir a pista em São João del-Rei, Roberto destaca: “Sempre fui apaixonado em corrida de kart e queria fazer algo diferente em São João. Em uma conversa entre amigos, me deram essa ideia, pois seria algo diferente que ainda não tinha e iria trabalhar em algo distinto do que já possuía na cidade.” O entrevistado relata também que a morte de Ayrton foi triste para todos, uma grande perda de um ícone da história das corridas.
Ayrton Senna da Silva deixou um legado muito maior que o das pistas de corrida. Nas manhãs de domingo, ele trouxe esperança e felicidade para os lares brasileiros, além de, quase sempre, garantir a vitória ou o pódio. Sendo mais que um piloto, mas também um ídolo de todo o Brasil, Ayrton ficou conhecido pelos seus diversos atos de solidariedade. Em conjunto com a sua mãe, Neyde Senna da Silva, ele criou o personagem Senninha com a intenção de doar todos os lucros adquiridos com os gibis para pessoas e instituições carentes.
Após o fatídico acidente do GP de San Marino em Ímola, na Itália, no dia 01 de maio de 1994, a irmã de Ayrton, Viviane Senna Lalli resolveu levar adiante o sonho do piloto, “um país onde todos tivessem a oportunidade de serem vitoriosos no que quisessem”, e fundou o Instituto Ayrton Senna, uma fundação sem fins lucrativos que busca “criar mais oportunidades para que crianças e jovens possam desenvolver seu potencial, por meio da educação pública de qualidade”.
Em uma entrevista, Betise Assumpção, ex-assessora de Ayrton na F1, compartilhou histórias marcantes com ele, uma delas envolvendo Alain Prost, um piloto francês, tetracampeão mundial da Fórmula 1, que teve a carreira marcada por uma forte rivalidade com Senna:
“Chegou nossa vez [na fila do restaurante McDonald’s]. O atendente ficou olhando para Ayrton, depois para mim. Pro Ayrton e para mim. Então, me perguntou se ele reconhecia Ayrton se algum lugar e eu retruquei: ‘Bem, eu não sei. Reconhece?’ e aí ele disse ‘Sim, sim, eu sei! Ele é aquele piloto de corrida… O Alain Prost!’ Até hoje eu ainda consigo escutar a minha própria risada! Eu explodi de rir. A cara que o Ayrton fez… Nem ele não conseguiu segurar a cara de bravo e começou a rir junto comigo e com a Adriane [Galisteu]… Até ele achou graça e comentou ‘Caramba… Eu ganhei ontem, pela 6 ª vez. Em Mônaco! E ele me chamou logo de Prost!”
O piloto ficou conhecido como um dos mais famosos de todo o Brasil e segue influenciando até os dias atuais. Seu legado, após 30 anos de sua morte, continua impactando os pilotos de corrida e a prática do kart. Ayrton Senna nunca sairá dos corações brasileiros!