13 Sementes
Por Ana Luiza Fagundes
A manhã está calma, as pessoas andam pelas ruas a caminho do trabalho, o padeiro está tirando os pães do forno, o dia estava estranhamente comum. Às sete horas da manhã, já estou no meu primeiro compromisso, porém minha mente hoje está dispersa devido a um sonho que tive nesta madrugada: sonhei com treze sementes caindo no chão, sendo seguidas por lágrimas alegóricas à chuva, que faziam flores retintamente amarelas brotarem. Ah, que sonho lindo! Confesso, no início senti medo, mas juntamente com aquelas lágrimas, a paz foi tomando conta de mim, me trazendo paz e me acordando logo em seguida. Ah que sonho lindo, que lindo sonho foi!
O dia foi caminhando, na mesma velocidade que aqueles lamentos do meu sonho, e quando dei por mim, o começo da tarde já vinha ao meu colo. Esses dias que estamos sintonizados em nós e não no mundo ao redor passam rápido, em um piscar de olhos. Para algumas pessoas essa sensação é incômoda, entretanto, para mim é um sentimento alegre que sempre me acompanha. O cargo que ocupo é estressante às vezes, mas saber que estou contribuindo para minha comunidade e meu povo torna essa missão leve e me coloca em transe constantemente em mim e na minha ancestralidade. Ah que bela sintonia, que bela sintonia é!
A ascensão da noite já estava chegando ao fim, e me envolvo ao acalorado ritmo da Lapa, indo em direção a um debate com jovens pretas do nosso país. Nesses momentos, por mais lindo que tenha sido o sonho, não consigo ficar dispersa daquela roda e das suas prosas, dos seus posicionamentos, das suas dúvidas e das suas dores, tão iguais a da jovem eu. Aquele momento acaba e ao olhar o relógio, sentada no banco de trás do carro, novamente já são nove horas. O trajeto se inicia, pego uma caneta e começo a rabiscar uma folha, preciso colocar isso para fora, algo tão formoso não deve se limitar a fantasia, e fervorosamente começo a desenhar, sentindo aquela paz que somente tive em sonho, voltar e antes de chegar ao seu ápice….
Treze tiros são ouvidos….
Lamentos vem logo depois….
A paz é consumada …..
A chuva chorosa cai nas sementes….
E flores retintamente amarelas brotam do chão.