Texto: Louise Zin

De acordo com a Agência Minas, em Minas Gerais, 30% do público infantil já foi vacinado, pelo menos com a primeira dose contra a covid-19. Foram aplicadas mais 558 mil vacinas em todo o estado. Apesar de bons números, muitos pais não vacinaram seus filhos, pois se sentem inseguros quanto a confiança da vacinação infantil.

Nívia Brant Lemos, pediatra pelo Hospital Infantil João Paulo II, com residência médica em pneumologia pediátrica, mestranda em Saúde da Criança e do Adolescente pela Universidade Federal de Minas Gerais conta como atuou na pandemia. Ela explica que atuou diretamente com casos de Síndrome Gripal e Síndrome Respiratória Aguda Grave, tanto no pronto atendimento, quanto na residência de pneumologia infantil. 

O ritmo da vacinação infantil contra covid-19 ainda é incerto, pois pais e responsáveis estão sendo bombardeados por notícias falsas sobre a segurança da vacina. Um dos argumentos que deixa os pais em dúvida é que a vacina ainda está em fase experimental. Nívia explica que para que qualquer vacina seja aprovada, ela passa por uma série de etapas de estudos e testes de segurança e eficácia.  

Foto por Shahhosseini no Unsplash

A pediatra deixa claro que a vacina é segura: “A vacina, antes de ter seu uso aprovado na população em geral, passa por várias fases de estudo, como estudos pré-clínicos e também os estudos clínicos que ainda são divididos em várias fases. Baseado no resultado desses estudos, a vacina infantil contra a Covid-19 foi considerada segura, imunogênica (capaz de produzir defesas) e eficaz na fase 3 para a faixa etária de 5-11 anos. A Anvisa e os demais órgãos regulatórios mundiais, antes de aprovar o uso da vacina para Covid-19 em crianças revisaram todos esses estudos realizados, todos os documentos técnicos e regulatórios, para justamente verificar o grau de segurança, a qualidade e a eficácia da vacina.”

Quanto aos possíveis efeitos colaterais do imunizante, a médica explica que “Os Estados Unidos começaram a vacinar a faixa etária pediátrica com a vacina da Pfizer antes do Brasil e o CDC (Centro de controle de Doenças), constatou uma baixa notificação de eventos adversos relacionados a vacina e que mais de 95% desses efeitos adversos relatados foram leves, como dor local, fadiga e dor de cabeça após a aplicação. Com relação a Coronavac, segundo dados do próprio Instituto Butantan 86% dos casos de reação a vacina registrados em crianças também não são graves.”

Foto por Aditya Romansa no Unsplash.

Uma grande preocupação é com possíveis casos de miocardite, que podem ocorrer tanto como efeito da vacina, quanto sequela do próprio coronavírus. “Um dos efeitos mais comentados realmente é a miocardite, que é uma inflamação no músculo cardíaco e é uma das manifestações observadas de Covid-19 na infância, especialmente quando esta se manifesta como Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P). O CDC também constatou apenas 11 casos de miocardite após a vacina e todos tiveram uma evolução favorável sem nenhuma ocorrência de morte. Quando comparamos o risco de miocardite pela vacina com o risco de miocardite pela Covid-19, o risco pela doença é muito mais significativo.” 

O medo de algum efeito colateral combinado com ocorrências de sintomas leves em crianças leva os pais a optarem por acreditar que a vacina não é necessária para crianças, porém a pediatra explica um pouco mais sobre os números: “Quando pegamos em números percentuais, e quando comparamos com os casos na população adulta, realmente a maioria dos casos de Covid-19 em crianças são leves, mas isso não quer dizer que não tenha casos de criança com quadros graves de Covid-19.”

Foto de Los Muertos Crew no Pexels

Ela ainda explica que com o avanço da variante Ômicron houve um aumento na positividade dos casos em todas as faixas etárias, incluindo as crianças. “Logo, como estamos tendo mais crianças infectadas, o número de quadros graves nessa faixa etária também aumentou. Inclusive, atualmente a Covid-19 é a doença prevenível por vacinação que mais mata crianças no Brasil.”

Recentemente a aparição de vídeos na internet com médicos afirmando que as novas vacinas contra covid-19 que usam uma técnica chamada mRNA pode causar defeitos genéticos e mudanças no DNA de quem tomasse assustaram muitos responsáveis. Porém isso tudo não passa de um mito e essa não é uma nova tecnologia, ela tem na verdade, sido estudada por muitos anos. Nívia explica um pouco mais sobre a técnica utilizada:

Nature/University of Pennsylvania/Pfizer/Moderna/BBC

“Vamos dizer que temos no nosso corpo um “manual” com instruções para a produção das milhares de proteínas necessárias para construir e operar o nosso organismo. Esse manual seria o que chamamos de genoma, que fica armazenado em moléculas de DNA.  Fora do núcleo celular, temos os ribossomos, que são os responsáveis de fato pela produção das proteínas.  O RNA mensageiro por sua vez, traduz as informações do nosso código genético para os ribossomos, uma leitura que é feita no citoplasma, fora do núcleo celular, onde fica o nosso DNA.”

“O que acontece com a vacina da PFIZER e similarmente com outras da mesma tecnologia, é que existe um RNA mensageiro já pronto com instruções para fabricar uma proteína do coronavírus, a proteína Spike (S). Em meio aos RNA mensageiros do nosso próprio corpo, esse RNA se camufla e a célula produz uma proteína do coronavírus, como se fosse uma proteína do nosso organismo, que é então detectada pelo nosso sistema imunológico. O RNA é despejado no citoplasma das células e ali ele fica, ele não entra no núcleo celular e consequentemente não tem como mexer com o nosso DNA. Sem contar que assim que a célula reconhece o RNA mensageiro para sintetizar a proteína, ele é rapidamente degradado.”, conclui.

Foto de CDC no Unsplash.

A mestranda ainda faz um apelo a população: “deixo meu apelo aos pais e a população para que tomem cuidado com a origem e com a verdade das informações divulgadas e para que busquem fontes confiáveis de referência. A Sociedade Brasileira de Pediatria, a Sociedade Brasileira de Infectologia, a Organização Pan Americana de Saúde, o CDC, a Anvisa, o FDA e tantos outros órgãos institucionais que possuem especialistas renomados, estudando diariamente sobre a Covid-19 já se posicionaram favoráveis a vacinação infantil e até agora, só a vacinação em massa se mostrou realmente eficiente para conter a pandemia e seus efeitos. Vacinas salvam vidas!”

Essa matéria é uma parceria com o projeto de extensão “COVID 19: informação científica, desmistificação de fake news, incentivo a vacinação e promoção a saúde” da Faculdade de Medicina de Barbacena.