Setembro Azul: Sinais que se tornam fonte de conscientização
Por Rafael Salviano e Rafaela Tarsitani

A chegada de setembro coloca em cena não somente a primavera com seus espectros de cores, mas também a necessidade de escutar além dos ouvidos. É Setembro Azul, mês da visibilidade para a comunidade surda, no qual o azul dos céus e dos mares ressona e destaca as diversas formas de se comunicar, de existir e de pertencer.
Nos mais diversos espaços da sociedade, multiplicam-se palestras, rodas de conversas e apresentações em Libras. Esses detalhes trazem uma atmosfera de descoberta: mãos que performam no ar, expressões que bradam por visibilidade e olhares atentos que traduzem mensagens. Em cada ato, a comunidade surda nos mostra que a língua é encontro e pertencimento e que o silêncio se personifica em uma enciclopédia de significados.
Dar visibilidade à comunidade surda é mais do que uma campanha ou data comemorativa. É reconhecer que existem barreiras estruturais que segregam e excluem: a ausência de intérpretes em serviços públicos, as legendas que faltam em programas televisivos e as portas fechadas no mercado de trabalho. Esses desafios erguem muros que poderiam ser facilmente substituídos por pontes.
Por tudo isso, é que o Setembro Azul existe. Para dizer não à permanência da exclusão, trazendo consigo o azul, que é cor de resistência e que remete a um horizonte mais amplo e mais justo. É mês de passar pela linha tênue de relembrar lutas e ao mesmo tempo, celebrar conquistas: a oficialização da Libras, o direito à uma educação bilíngue e o crescimento de uma cultura surda que anseia em transformar a realidade.
A beleza de tão imponente mês também quer nos lembrar que inclusão não é apenas aceitar: é valorizar, compartilhar, ser sinal de afeto e carinho. É fazer com que as mãos que narram o mundo possam ser tão importantes quanto a voz que ecoa e se faz ouvir. Visibilidade é ato político, mas também é ato de amor e reconhecimento.
Quando um intérprete sobe ao palco, quando uma palestra é traduzida em Libras, quando uma criança surda vê na tela alguém que fala como ela, algo se acende. É o poder da representatividade que ecoa como um lembrete da importância da comunidade surda para a construção de uma sociedade mais igualitária.
Setembro é mais do que um mês no calendário. É mês de reacender em todos que o sonho de uma sociedade mais acolhedora é possível. É tempo de reafirmar que a comunicação é um direito e que a diversidade é um verdadeiro adorno para o cotidiano. Quem escuta as mãos que falam, também aprende a enxergar com o coração.