Por Lara Reis

Fuga da inspiração - lâmpada acesa subindo entre nuvens.
Imagem: Lara Reis

Dias atrás, eu cheguei a pensar que nenhuma surpresa iria surgir para movimentar a minha semana, mas logo dei de cara com uma serenata e, definitivamente, “romântico”  não é um bom adjetivo para descrever este caso. Afinal, eu recebi um belo de um “adeus”, o qual me foi dado com a ajuda de uma canção (a antiga: “estou indo embora, a mala já está lá fora”), sem qualquer aviso prévio.

Dito isso, é agora que você me pergunta: “Quem te dedicou essa serenata?” e, prontamente, eu te respondo: não foi uma pessoa (acho até que seria melhor se fosse)…foi a inspiração!

É incrível o modo como a fuga da criatividade pode se mostrar terrivelmente deprimente aos olhos de um escritor. Inicialmente, todo um universo ocupa a sua mente e, de repente, um quadro branco se faz presente, ou pior, há uma diversidade de ideias compondo uma bagunça onde nada rende.

A cabeça chega até mesmo a soltar fumaça, afinal, tamanho foi o esforço depositado para que as engrenagens do cérebro pudessem funcionar, inclusive, infelizmente, eu me vi nessa situação há pouco.

Enfim, eu tinha um prazo para entregar um bom trabalho e a tão maravilhosa inspiração, sem empatia nenhuma para com a minha urgência, resolveu agir tal qual minhas chaves, desaparecendo na hora em que mais precisei. Mas a lamentação não ajuda ninguém, certo? Certo!

Em dado momento se percebe que apenas mergulhar nos próprios pensamentos não vai bastar, assim, é hora de observar o mundo.Olhos atentos, ouvidos abertos e foco total.

Olhar o ônibus lotado, a rua repleta de luzes e as pessoas que, incessantemente, vão de lá para cá me pareceu uma boa, no entanto, não houve rendimento algum. Pesquisar alguns ditados populares também não surtiu efeito e, por fim, não consegui achar uma única canção que me inspirasse, logo eu, apaixonada por música como sou.

Aparentemente, a inspiração estava decidida a tirar umas férias bem longas, sendo que, certamente, só voltaria no instante em que meu prazo acabasse. 

Contudo, todavia, porém, a “sumida” deve ter deixado alguma coisa escapar de suas malas no meio da fuga, porque, após um longo período marcado pelo desespero, uma minúscula fagulha iluminou as engrenagens da minha mente, refrescando-a com um conhecido ditado: “Se a vida te der um limão, faça uma limonada”. Pois bem, é isso que eu resolvi fazer.

Peguei a linda serenata que recebi e a transformei em algo útil (se este algo é belo já é outra questão), dando fim ao meu desespero causado pelo temido bloqueio criativo. O resultado da transformação mencionada, ou, em outras palavras, a limonada, está sendo processada pelo leitor desta crônica.

Por último, sugiro a você, meu caro ouvinte, que aplique o referido dito popular na sua vida e comece a  transformar as suas “serenatas” em “limonadas”. É uma boa, garanto.