Eu acordei e você já tinha ido, você havia me avisado que iria cedo. Procurei na gaveta o cigarro que você sempre deixava pra mim para quando eu acordasse e ele estava lá. O acendi com o último fósforo da caixa e saí andando pela casa.

A cozinha estava organizada, como sempre. Preparei a torrada com queijo e o café com leite. Mais uma fruta. Você sempre deixava a maçã na porta da geladeira para eu não ter que me abaixar até a caixa de frutas. Você sempre foi um doce de mulher, desde o inicio até o final.

Algumas horas se passaram. Voaram. Correram. Brinquei com o gato e li o jornal. Mas quando entrei no computador, li mensagens de consolo. Por que? Algo havia acontecido que eu não sabia? Liguei para minha mãe. Ela me disse que nada de mais havia acontecido, mas que tudo ia ficar bem.

Desliguei o telefone e fui assistir um filme. Mas qual? Havia um que você sempre me dizia que era ótimo, mas eu nunca tive tempo para isso. Ou vontade. Assisti o filme como quem vê uma reprise de novela. Algumas cenas me eram estranhamente familiares.

Saí para a rua. Queria mais um cigarro. Você deve ter levado o maço junto contigo, para o trabalho. Como estava sem dinheiro, comprei dois avulsos. Um eu acendi na hora que cheguei em casa, já estava entardecendo, o outro eu coloquei na gaveta. Peguei a maçã, coloquei na porta da geladeira, lavei a louça, desliguei o computador e as luzes da casa. Dormi e não sonhei.

Eu acordei e você já tinha ido. Você havia me avisado que iria cedo. Procurei na gaveta o cigarro que você sempre deixava pra mim para quando eu acordasse. Estava lá. Não havia mais fósforos.

cigarros

TEXTO: Talita Tonso

ILUSTRAÇÃO: Laila Zin

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