Abordando a homofobia, o racismo, e a hipersexualização do corpo negro, documentário rompe preconceitos ressignificando discursos

 

O então formado jornalista, Lucas Porfirio, apresentou neste domingo (21), seu curta “Além de preto, viado”. Resultado de um projeto de Trabalho de Conclusão de Curso-TCC, a obra foi uma das 72 selecionadas dentre mais de 700 curtas inscritos para serem exibidos na 21ª Mostra de Cinema de Tiradentes. Carregando a temática do “chamado realista”, o evento mostrou interesse em reforçar a representatividade midiática dos grupos LGBT, mulheres e negros. Ademias, mantendo a proposta das edições anteriores, abriu espaço para profissionais em ascensão no meio.

O curta é um documentário composto por depoimentos de seis homosexuais negros, inseridos em diferentes contextos sociais. Conforme a experiência de cada um  são abordadas questões e problemáticas das vivências do homem gay negro na sociedade e dentro do movimento LGBT. A discussão de temas como a hipersexualização do corpo negro, racismo e homofobia, norteiam a obra. A escolha do nome “Além de preto, viado”, propõe uma ressignificação de um discurso pejorativo, mostrando que a pele negra e a preferência sexual nunca foram problemas. A única questão é o preconceito ligado a tais características, transformando, assim, esses termos em expressão de empoderamento e de autoafirmação enquanto sujeito.

Porfírio acredita que a aprovação da Mostra de Cinema foi devido ao comprometimento com o documentário, do fato de ter aplicado técnicas de audiovisuais e jornalísticas aprendidas ao longo do curso, além da temática que estava dentro da proposta do festival. Explicou também que outro fator que possibilitou os resultados positivos foram os diversos amigos que o apoiaram.   “Apesar de assinar sozinho, este foi um trabalho coletivo.” Prossegue. “Não queria que fosse apenas mais um TCC, mas um trabalho que pudesse impactar outras pessoas e fazer com que as mesmas refletissem.”

Para Vicente Belmiro, um dos entrevistados, participar do projeto foi algo positivo. “Foi uma experiência diferente, pois esse é um espaço em que não imaginava ter voz para poder falar. Eu nunca tinha falado abertamente sobre tais temáticas e gostei do modo como o Lucas elaborou o documentário.” Concluiu. Além disso, pontuou a dificuldade de revelar traumas ressaltando o “desconforto de falar sobre fraquezas em uma sociedade na qual o que é bom é só o sucesso”. O ator faz questão de demonstrar, ainda, que “somos feitos de derrotas, frustrações e injustiças”, destacando que “expor esse lado foi muito marcante e me atingiu bastante já que não são assuntos que eu retrato usualmente”.

O jornalista afirmou que sempre identificou-se com o audiovisual devido a sua forma fácil de comunicar com todos e seus diversos recursos estéticos para conta uma história. Além disso, contou que desde o início do curso de Comunicação Social, sabia que seu TCC seria um documentário, trabalhando durante toda sua formação acadêmica para tal realização. “É importante ressaltar que antes de entrevistar os meninos, nós mantivemos conversa durante todo o ano, debatendo o tema e falando de vivências. Foi uma forma de ficar mais próximo de cada um e tornar a entrevista mais confortável, sem inibições.” explica.

Sempre ligado a militância negra LGBT+ e enxergando a necessidade de maior representatividade, o diretor não se encaixava por inteiro na ação. “O movimento LGBT+ sempre se atentou mais pela pauta do gay branco padrão classe média”, critica Lucas. Motivado pela vontade de mostrar as dores do homem negro que passa pelo racismo, homofobia, sexualização e objetificação do corpo, classicismo e dificuldades de se relacionar, Porfírio deu vinda ao filme que retrata seu dia a dia. Após a realização das entrevistas, Lucas realizou a edição sempre se preocupando em manter uma linha narrativa no documentário. Passando pela banca depois de apresentado, o produto foi aprovado com nota máxima. Com feedbacks positivos, um diploma e uma vaga em um dos maiores festivais de cinema do país, o jornalista encerrou a sua jornada universitária com chave de ouro.

 

Texto/VAN: Victória Souza, Yasmim Nascimento
Foto/VAN: Sarah Evelyn

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