Laços de amizade, meio ambiente, arte, cultura e informação. São estes os princípios fundamentais do Projeto Curupira, desenvolvido há quatro anos em Barbacena, no bairro Santo Antônio. Motivado pela questão ambiental, um pequeno grupo de amigos percebeu que uma das maneiras de estimular a conscientização sobre o meio ambiente e de se sentirem cidadãos poderia ser o teatro. Assim surgia a primeira peça, “Nossa terra, nosso mundo”. Com a colaboração de amigos e outros interessados, o projeto se concretizou e a peça foi apresentada mais de 20 vezes por toda a cidade.
      Durante os dois primeiros anos, o projeto baseou-se fundamentalmente em trabalhos teatrais. O projeto passou por um período de crise: o grupo percebeu que apenas a abordagem do aspecto ambiental nas apresentações estava repetitiva demais e que seriam importantes maiores perspectivas. Além disso, eles tinham alguns obstáculos, como a falta de apoio para divulgação dos trabalhos e falta de recursos para conter os custos de transporte e alimentação durante as apresentações. Os membros estavam desmotivados e os ensaios foram rompidos por dois meses. Como solução, o projeto retomou a sua motivação principal, a amizade, as trocas culturais, e foi considerada a necessidade de mudança de foco.
      Passada a crise, foram criadas equipes de reportagem. Um dos coordenadores do projeto, Delton Mendes, que estudou Letras na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) percebeu que poderia aplicar o seu conhecimento na área de comunicação. Durante cinco meses, o grupo se dedicou às reportagens em 12 regiões da cidade. A partir das atividades jornalísticas, os membros passaram a dominar melhor a área ambiental.
      Com o desenvolvimento das equipes de reportagem e o aprendizado conquistado nas ruas, o projeto cresceu e outra peça foi escrita. A partir de então, ganhou uma concepção mais cultural e artística. Em 2011, houve um contato com a irmã Irene, presidente da ONG das Congregações das Irmãs Vitórias, uma ONG assistencialista que auxilia pessoas carentes da cidade. A irmã, que já havia tentado algo semelhante em Portugal – sem sucesso, despertou interesse pela iniciativa do Curupira. Então surgiu a possibilidade de utilização do espaço da casa das irmãs, sob a proposta de trabalhar a iniciativa, uma espécie de comodato.
      A partir da conquista de um espaço, houve a necessidade de uma reestruturação: já não se tratava mais de apenas um grupo teatral com atividades jornalísticas, a responsabilidade era maior. Para fomentar as novas necessidades, foram criadas oficinas de música e teatro e houve grande demanda. Com o constante crescimento, hoje, o projeto oferece, além das oficinas, aulas de inglês, ciclos de debates mensais e em parceria com o Posto de Saúde e DEMASP (Departamento Municipal de Saúde Pública de Barbacena), auxilia um grupo de combate ao tabagismo. Ainda em 2012, será aberto um laboratório de produção textual, objetivando trabalhar jornalismo, mídia para novas equipes de reportagem.
      Atualmente, não há nenhum apoio financeiro ao grupo, tudo é custeado pelos coordenadores. Há algum tempo foram feitas tentativas de captação de recursos, mas por discordâncias dentro da coordenação da ONG não foi possível concretizá-las. Com a renovação dos coordenadores e efetiva caracterização legal como ONG, há condições para recebimento de incentivos de instituições públicas e privadas. Cabe lembrar que o projeto atende um número grande de pessoas: são nove na coordenação, 22 no grupo de teatro, 25 no grupo de música, 16 no curso de inglês, 60 no grupo de combate ao tabagismo, 30 no ciclo de debates e no grupo principal de teatro, incluindo membros da coordenação, são 11.
      A ONG apresenta grande relevância para a cidade, para os membros, suas famílias e para a população local. Os membros que ingressaram numa brincadeira inicial, hoje são responsáveis por suas atitudes, conscientes não apenas da questão ambiental, como também de seus papéis na sociedade. Sabem como lidar com as dificuldades da convivência, participam e conhecem a realidade de sua região. Em resumo, cresceram muito a partir do reconhecimento do poder de mudança do seu trabalho, seja teatral, artístico ou jornalístico. E suas famílias e população local, em geral, puderam apoiar, seja com palestras, aulas, troca de experiências, acompanhando as apresentações e foram também beneficiadas de alguma maneira, tendo seus amigos ou familiares envolvidos em atividades culturais, longe dos principais perigos ocasionados pela vida urbana.

      Reportagem e foto: Bruna de Faria.

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