Por Antônio M. Dias

As noites barbacenenses ganharam uma nova fonte de entretenimento cultural e uma visão cinéfila única. O “Corta!” é um projeto independente, que tem como objetivo alcançar pessoas que apreciam o cinema. Ele surge de uma parceria entre sua idealizadora, Clara Lemuchi, com a Tecer Cultural e o Rebobinando. 

O projeto foi desenvolvido com o propósito de disponibilizar o acesso à cultura cinematográfica e audiovisual na cidade de Barbacena. A ideia surgiu da necessidade sentida de criar um ambiente para que as pessoas, que possuam esse interesse em comum, possam conversar. 

Para entender melhor, conversamos com Clara Lemuchi, 22. A também diretora do projeto relata que sua  história com a cultura cinematográfica começou ainda na infância, por incentivo dos pais, que lhe apresentaram esse universo através dos filmes de animação. “Com o passar do tempo, o meu amor pelo cinema e o audiovisual foi amadurecendo e ficando cada vez maior, então, iniciei meus estudos no campo da crítica de cinema através de cursos. O projeto “Corta!” nasceu com vários propósitos mas também, por um motivo pessoal, como um meio de compartilhar os meus conhecimentos e poder falar sobre algo que eu tanto amo”, afirma ela.

Participantes do projeto reunidos na segunda edição.
Segunda edição do Corta! exibiu o filme “Tio Frank”. Foto: Clara Lemuchi

O projeto “Corta!”  iniciou em 2024 e já conta com duas edições realizadas no Tecer Cultural, uma produtora fundada em 2017 pelo produtor cultural Marcus Bonato Filho, que já realizou e assinou diversos projetos nesse âmbito. Em 2021, a produtora abriu um espaço em Barbacena com o objetivo de abrigar várias linguagens artísticas, além de ser um lugar diverso e plural, especialmente voltado para as manifestações culturais locais. Em quase três anos de existência, já recebeu muitos artistas, músicos, bandas autorais e realizou vários eventos com artistas de Barbacena e região. 

Marcus em entrevista à VAN diz que o intuito é ser abrigo para quem quiser divulgar e mostrar seu trabalho, sempre preservando o respeito e o cuidado com o público e o próprio fazer artístico. Esses encontros são mensais, geralmente acontecem às quartas e se iniciam às 20h.

No mais, além do vínculo com a Tecer Cultural, o projeto conta com a parceria do Rebobinando, um casal especializado em fotografia analógica na cidade mineira de Barbacena. Esses apoiadores contribuem em apoio técnico e são de grande importância para a execução do projeto. Clara detalha como aconteceu o contato com a Tecer e a idealização dos bastidores para que o projeto visse a luz do dia: “A Tecer Cultural, com toda a sua sensibilidade, entendeu o nosso propósito e abraçou o projeto, se tornando uma de nossas principais parceiras (junto com o Rebobinando), e disponibilizando o espaço para que os nossos encontros pudessem acontecer”. 

Ao que parece, a ideia da roda cultural e de conversar sobre a temática cinéfila não é algo inédito, já que várias pessoas fazem isso, mas é um desejo antigo da Tecer. “É um momento em que a gente pode refletir sobre questões da obra fílmica e sobre a nossa própria vida em sociedade. […] O movimento cultural na cidade de Barbacena é muito potente e conta com artistas e fazedores(as) de cultura de vários segmentos. O que precisamos é de investimento e reconhecimento por parte dos agentes públicos, incentivo da iniciativa privada e espaços que abriguem as mais diversas linguagens artísticas, para que as pessoas possam viver o seu fazer cultural de maneira plena.”, diz Marcos sobre a ideia e como ela se coloca no cenário cultural.

Mensalmente, um grupo de cinéfilos se unem para assistir um filme previamente escolhido. Essa escolha se dá por sua temática, porém, como é um programa que sua individualidade se baseia na roda de conversa em grupo, enquetes no grupo oficial dos participantes e apoiadores serão disponibilizadas futuramente. “Disponibilizaremos alguns gêneros de filmes e, a partir do escolhido, indicaremos alguns que se enquadram nele. O filme com o maior número de votações será o próximo em nossa exibição”, explica Clara.

A segunda edição ocorreu no último dia 19 e foi um evento especial em homenagem ao mês do Orgulho LGBTQIA+. A ocasião contou com a participação de algumas figuras importantes na área do cinema das Vertentes. 

Hilreli é um dos grandes artistas com poder de fala na pauta, por estar envolvido com movimentos culturais em Barbacena desde 2011. Cynthia Viana é uma renomada psicóloga, graduada e mestre em psicologia pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), que já cooperou em um projeto de estudo sobre educação e cultura a partir de filmes. “Ambos chegam para agregar a abrilhantar o nosso evento, compartilhando suas experiências e seus conhecimentos. Estamos bem empolgados e felizes por terem aceitado o nosso convite e por fazerem parte disso!”, diz Clara.

Após a exibição, abriu-se uma roda de conversa que teve como foco avaliar questões técnicas do filme e debater sobre a  temática. Os eventos são sempre abertos à quem está participando, dando oportunidade de todos expressarem sua opinião. 

O cenário cultural barbacenense vem crescendo com o passar dos anos e, o mais importante,   em diferentes vertentes. Há grupos de Stand Up Comedy, artistas de rap e rodas culturais, bandas e eventos unindo a comunidade. Clara relata que toda forma de expressão artística e cultural tem a sua importância e agrega no atual cenário da cultura barbacenense. 

Tela exibindo filme Tio Frank.
Exibição do filme “Tio Frank”. Foto: Clara Lemuchi

Ao final do evento, Clara deu um depoimento mostrando sua visão acerca da inserção do projeto no cenário cultural local: “Barbacena já é uma cidade com uma enorme potência histórica, somos conhecidos por tudo e por todos os que vieram antes de nós. Além de preservar a memória dos que passaram por aqui e sofreram com as consequências do holocausto brasileiro, também podemos mostrar todo o nosso potencial artístico e cultural, dando a oportunidade de fazer com que as pessoas se sintam parte de algo, compartilhando os nossos conhecimentos e aprendendo com elas. Somos artistas com grande potencial e precisamos lembrar as pessoas de que a arte e a cultura é possível e é acessível.

Finalmente, questionada a respeito do futuro do “Corta!” e do modo do público participar e acompanhar tal evolução do projeto, Clara enfatizou a intenção de expandir o mesmo. “Nosso projeto ainda está no início, mas estamos criando um material e temos planos que vão começar a ser executados nos próximos meses, desenvolvendo e alcançando também o meio virtual. Vocês podem nos acompanhar no nosso Instagram, que é o principal meio de divulgação do projeto (@sigaocorta). Por lá, nós divulgamos todos os nossos eventos, conteúdos e novidades. Temos muito o que compartilhar com vocês e esperamos que apreciem e gostem de estar com a gente!”