O assunto não é novidade: as doações são tão poucas que a unidade chega a obter o que precisaria para um dia ao longo da semana

FOTO: Divulgação/Unimed
FOTO: Divulgação/Unimed

A doação de leite é um nobre gesto de mães que abrem o peito e o coração para ajudar em uma fase tão importante e essencial na vida dos bebês. Por isso, a Santa Casa da Misericórdia de São João del-Rei criou, há pouco mais de três anos, o posto de coleta de leite materno para atender aos recém-nascidos em tratamento na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da cidade. Mas o posto de coleta tem passado por dificuldades em atingir sua meta necessária para a alimentação dos bebês.

“Na verdade, poucas vezes, a gente teve o número suficiente de doadoras para suprir a necessidade da UTI”, conta a enfermeira coordenadora da UTI neonatal da Santa Casa, Marcela de Carvalho. A unidade pode receber até dez recém-nascidos. Para alimentá-los, seria preciso pelo menos um litro de leite humano doado diariamente, mas a situação está tão precária, que o total das doações chega a arrecadar essa quantidade apenas durante toda a semana.

Segundo a enfermeira, o estabelecimento de saúde está contando, atualmente, apenas com seis mães doadoras. Ela informou que o número de cadastros é até alto, mas as mães acabam não concretizando as doações.

 

Experiências

Toda mãe interessada pode se tornar doadora e ajudar os bebês a se recuperarem e se desenvolverem com saúde. A doação de leite humano é capaz de salvar vidas, e o processo é bem simples.

Juliana Souza é uma das mães que estão colaborando com o banco de leite humano e sabe bem a importância de doar. Ela contou que seu bebê, quando recém-nascido, precisou ficar 14 dias na UTI até conseguir ser amamentado.

Nesse tempo, ele foi alimentado pelo leite humano, fruto de doações. “No começo, eu não tinha leite suficiente para ele, porque eram oito dietas, mas ele não chegou a mamar fórmula. Eu só tinha [leite] para quatro [dietas] e, graças a Deus, tinha leite humano [na UTI]”, lembra.

 

O poder do leite materno

A qualidade do leite materno garante ao bebê diversos benefícios que as fórmulas não oferecem. Sendo, por isso, recomendado que, durante os seis primeiros meses de vida, a alimentação do bebê seja exclusivamente de leite materno.

A pediatra Tatiana Sales, explica que a composição do leite humano é mais adequada em relação à fórmula. Ela disse que a principal diferença é que o leite materno é constituído a partir de proteína humana, e a fórmula é feita da proteína do leite de vaca. A fórmula, também conhecida como leite em pó, não é um leite preparado para um bebê, já que a proteína de vaca é constituída para alimentar uma outra espécie de mamífero, não sendo, pois, a fonte mais adequada de alimento para um recém-nascido.

Segundo Tatiana, o leite humano é essencial, pois ajuda na produção de anticorpos, aumentando a imunidade do bebê contra infecções – principalmente quando ainda estiver na área hospitalar – além de possuir nutrientes responsáveis pelo desenvolvimento cerebral da criança. Os bebês que não são amamentados com leite materno podem receber uma quantidade inadequada de proteínas, de sódio e ainda aumentar as chances de terem pressão alta e obesidade na vida adulta, explicou Tatiana.

Ela lembra que, como a proteína do leite materno e a da fórmula são diferentes, o bebê pode também sofrer de infecções intestinais no período neonatal, por isso, o aleitamento materno exclusivo é essencial, sobretudo nos seis primeiros meses.

A relevância do leite materno é tanta que, todo ano, acontece a Semana Mundial de Aleitamento Materno, no início de agosto. O objetivo é incentivar e promover a amamentação, pois o leite materno contribui para o desenvolvimento saudável da criança, como o ganho mais rápido de peso e a prevenção de infecções.

O tema deste ano foi “Aleitamento Materno: A Chave para o Desenvolvimento Sustentável”. Com isso, a campanha ao ressaltar a importância do aleitamento materno, reforça um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), estipulados pelas Nações Unidas (ONU), em 2015, com meta para 2030; entre eles, acabar com a fome e proporcionar boa saúde e bem-estar.

 

As fases do leite materno

A médica pediatra explica as características do leite materno em suas fases e a tamanha importância para o bebê, pois em cada etapa de crescimento, ele se adequa às necessidades da criança. “O leite materno, ao longo de todo o período de amamentação, vai modificando e adaptando-se à necessidade de cada bebê”, específica Tatiana.

As três fases do leite materno são:

ARTE/VAN: Laila Zin
ARTE/VAN: Laila Zin

 

Como doar e se cadastrar

A enfermeira Marcela explica que doar é simples: quando a mãe termina de amamentar a criança e ainda continua com o peito cheio, ela irá tirar esse excesso para doação. Ela afirma que esse processo também é benéfico para a mãe e o bebê, pois a ordenha permite que o peito seja amaciado, melhorando a sucção na hora da amamentação e estimulando o aumento da produção de leite.

A retirada do leite não precisa ter horário, nem dia, contanto que a mãe siga as orientações passadas adequadamente e congele o leite, anotando apenas em uma etiqueta o dia e o horário da coleta. Depois, uma vez por semana, um responsável passa recolhendo de casa em casa os frascos com o leite humano para ser encaminhado para análise. O exame e a pasteurização acontecem na cidade de Juiz de Fora.

Para se tornar uma doadora, a mãe precisa apresentar seu cartão de gestante, os últimos exames de sangue realizados, documento com foto e comprovante de residência. O cadastro é feito na Santa Casa da Misericórdia, na Av. Tiradentes, 289 – Centro. A mãe recebe instruções de como fazer a ordenha e também todo o material necessário. Para obter mais informações, o telefone é 3379-2000.

 

TEXTO/VAN: Vanessa Vicente

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