manifestam contra a suspensão.

Escrito por: Maria Luiza Valuar Cordeiro e Cássia Resende

Revisado por: Samantha Ellen de Souza

            O presidente Jair Bolsonaro sancionou em 04 de agosto a lei que fixa pisos salariais para enfermeiros, técnicos de enfermagem, auxiliares de enfermagem e parteiras em todo o país. O projeto foi aprovado pela Câmara e pelo Senado, os enfermeiros vão receber R$ 4.750. Esse valor será a referência para o cálculo dos vencimentos de técnicos (70%) e auxiliares de enfermagem (50%) e das parteiras (50%). O autor da proposta, senador Fabiano Contarato, do PT do Espírito Santo, lembrou que esses profissionais lutam pelo piso salarial há muito tempo.

Profissionais da Saúde merecem reconhecimento: salvam vidas - Fonte Freepik
Profissionais da Saúde merecem reconhecimento: salvam vidas – Fonte Freepik

            Porém, na quinta-feira (15) o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu manter suspensa a lei que estabelece o piso salarial da Enfermagem. A decisão ocorreu após instituições do setor indicarem o risco de demissão em massa e sobrecarga na saúde devido a implementação do piso.

            Em São João del-Rei, profissionais da enfermagem se reuniram para manifestar contra a suspensão do Piso Salarial dos enfermeiros na manhã de quarta-feira (21). O movimento começou na Avenida Presidente Tancredo Neves, seguindo para o centro histórico e contou com a presença de profissionais da saúde e estudantes de enfermagem. Ana Carolina é enfermeira e exerce a profissão em São João del-Rei há 8 anos: “- me sinto revoltada, indignada, achei excelente a ideia da manifestação, acho que pode ser o começo, mas não a resolução do problema em si”.

Profissionais de São João del-Rei manifestam contra a suspensão do piso salarial da categoria
Profissionais de São João del-Rei manifestam contra a suspensão do piso salarial da categoria

De acordo com os dirigentes do sindicato dos trabalhadores da saúde: “- Ter um movimento nacional é necessário. Existe o Fórum nacional onde se reúnem nove entidades, entre elas a COFEM (Conselho Federal de Enfermagem), CNTS (Confederação Nacional dos Trabalhadores de Saúde), CNTSS (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social), entre outros órgãos. Este fórum fez uma reunião com essas organizações e foi definido que era necessário chamar a atenção no congresso, e também fazer uma paralisação de 24 horas.”

A área da Saúde é conhecida pela rotina de trabalho árduo e estressante e pela contínua pressão de reduzir sofrimentos e salvar vidas. Os enfermeiros são aqueles que estão em contato direto com os pacientes. Desde o início da pandemia, diversos profissionais da saúde se mobilizaram, trabalhando no limite da exaustão física e emocional para salvar o maior número de vidas.

Em meio a uma crise sanitária sem precedentes, umas das áreas que mais ganharam relevância e protagonismo foi a Enfermagem. “-Achamos que finalmente iríamos ter reconhecimento, já que com a pandemia todos os olhos voltaram para a enfermagem, e no final foi somente uma ilusão”, apontou a técnica de enfermagem que prefere manter sua identidade em anônimo.

            “- Foram duas questões, primeiro: um sentimento de alegria, a emoção de realizar um sonho que estamos lutando há 22 anos. Logo em seguida, sentimos muita tristeza, pois foi muito rápido. Ficamos decepcionados em ver a falta de reconhecimento desses profissionais. Quer seja na pandemia ou fora dela, a enfermagem passa 24 horas com o paciente, sete dias por semana, e durante a pandemia a quantidade de óbitos que ocorreram com os profissionais da saúde foram em maioria da enfermagem: 787 profissionais da área perderam a vida neste período. Pelo menos 50% destes foram da enfermagem. Foram privados de ter contato com suas famílias, dormiram em hotéis ou até mesmo nos hospitais, para não correr o risco de levar o vírus para casa.

Quando você percebe a necessidade de reconhecimento desses profissionais, eles ganharam muitos aplausos, muitas homenagens, mas a melhor seria a valorização e reconhecimento do seu trabalho. Foi frustrante e triste em relação a essa questão, mas também não desistimos, vamos continuar lutando. Queríamos que essas propostas de financiamento pudessem ocorrer antes das eleições e infelizmente não vai ser possível, o que se torna uma preocupação, pois pode ocorrer uma nova configuração no congresso. A gente tentou de todas as formas pra ser antes, mas não teve jeito. Agora ficamos com a indagação: depois da eleição, vai se viabilizar ou não?” relataram os dirigentes do sindicato dos trabalhadores da saúde.

A manifestação organizada pelos profissionais de São João del-Rei representa a luta por valorização e melhores condições de trabalho dos profissionais da cidade e região. “- Estamos fazendo abaixo assinados virtuais e precisamos encaminhar para o congresso nacional. Além desse contato com as entidades que fazem parte do fórum nacional de enfermagem, precisamos fazer contato com outras cidades, estamos propondo reuniões periódicas com as entidades e todos os atores envolvidos na representação desses profissionais para tentar ver se conseguimos avançar e implementar isso no menor espaço de tempo.” acrescentaram os dirigentes do sindicato dos trabalhadores. “- A nossa esperança é que o que foi acordado, seja colocado em vigor. E espero que seja rápido“, declarou a enfermeira Ana Carolina.

Sindicato dos trabalhadores da saúde em São João del-Rei - Fonte: Google
Sindicato dos trabalhadores da saúde em São João del-Rei – Fonte: Google

Quando perguntado sobre o que poderia acontecer, caso a situação não fosse resolvida logo, o sindicato respondeu: “Eu acredito inclusive na possibilidade de uma greve nacional, por enquanto estamos aguardando os sessenta dias, e é necessário dizer que a enfermagem não está contra o congresso, o supremo está no papel dele de ser razoável no ponto de vista da indicação das fontes de recursos. A nossa preocupação é no sentido do piso não se viabilizar por falta de talvez indicação de fonte de custeio. É claro que se acontecer, vamos garantir o atendimento de urgência e emergência, e de quem tiver internado. Mas acho que se chegarmos nesse patamar, é porque todas as outras tentativas não deram certo, porque vai ser a nossa forma de pressionar”.