Persistência do acúmulo e descarte inadequado de lixo reflete desigualdade social em São João del-Rei
Por Rafael Salviano e Yuri Henrique
O descarte de lixo de forma inadequada é uma problemática persistente no cenário urbano de São João del-Rei. Ao longo do processo de apuração da matéria, ficou evidente que o acúmulo de lixo é mais recorrente nas regiões periféricas e afastadas do centro, o que ressalta o abismo de desigualdade social existente na cidade. A falta de cuidado com o lixo, também impacta a saúde pública, expondo os moradores dessas regiões ao contato com espécies transmissoras de doenças contagiosas.
No processo de apuração e preparação da entrevista, notamos uma certa insegurança por parte dos moradores de alguns bairros periféricos, como o bairro São Geraldo, que preferiram não conceder entrevistas. Muitos alegavam receio em denunciar o acúmulo de lixo na região.
No entanto, após uma busca pelas ruas, nossa equipe encontrou uma fonte que abordou a problemática e enfatizou a importância dos órgãos públicos na luta contra o acúmulo e descarte inadequado de lixo. A entrevista foi realizada em uma praça pública na Avenida Leite de Castro, permitindo que o entrevistado compartilhasse sua experiência com o tema.
A fonte consultada foi Hugo Silva, de 26 anos, morador do Centro, e auxiliar de laboratório de computação em uma escola pública. Hugo compartilhou sua opinião sobre a grande presença de lixo descartado de forma incorreta.
A principal relação do entrevistado com o tema é a percepção da diferença na atuação dos órgãos públicos quanto à coleta de lixo. Isso porque, o auxiliar de laboratório morou durante muito tempo no bairro do Tijuco, que é afastado do centro da cidade, e atualmente reside próximo à Avenida Leite de Castro.

Confira a entrevista na íntegra!
Olá, boa tarde! Queremos fazer algumas perguntas em relação ao descarte inadequado de lixo na cidade, o que caracteriza uma grande problemática. Qual é seu nome, sua idade e sua profissão?
Hugo Silva (HS): Meu nome é Hugo Silva, tenho 26 anos e atuo como auxiliar de laboratório de computação em uma escola pública.
Para você, como essa questão afeta no seu cotidiano? E no das outras pessoas?
HS: Eu acho que, além do próprio mau cheiro que o lixo acaba gerando, existe ainda a proliferação de alguns insetos e alguns animais que não deveriam estar presentes. Então, acho que vai afetar, principalmente, a questão de doenças, envolvendo a saúde pública.
Para você, quais fatores influenciam o descarte inadequado desse lixo?
HS: Acho que primeiro uma certa questão de educação. Aqui nessa região passou a ter uma quantidade de lixeiras maiores. Só que não era assim. Mas acho que a questão de não ter lixeiras para o descarte de cada tipo de resíduo, favoreceu um certo acúmulo de lixo.
Existe algum ponto legal de descarte de lixo aqui em São João? Já que foi apurado que a presença de lixões na cidade é muito comum e que a prefeitura está tentando acabar com isso, mas ainda não o fez.
HS: Eu conheço alguns locais que, por exemplo, recolhem pilhas, para fazer um descarte correto de materiais eletrônicos. E eu só conheci um local aqui que foi logo quando eu mudei pra cá, que fazia a coleta do lixo, mas não sei dizer se ele ainda existe.
O número de doenças contagiosas aumentou com a presença do lixo mal descartado na cidade?
HS: Como eu não sou daqui, não posso falar com propriedade. Mas, o que sei é que, em épocas de chuva, o lixo se espalha com mais facilidade, o que propicia o aumento de doenças contagiosas, principalmente, pela presença de animais contagiosos que se espalham junto com o lixo.
Por que você acha que é importante que a comunidade proteste por melhorias na questão do descarte inadequado do lixo?
HS: Porque se você também não se mexer, nada vai mudar. Se você se acomodar, não haverá nenhum resultado. Acho que todos nós devemos protestar, já que é obrigação da prefeitura garantir que o lixo seja coletado de forma correta.
Com que frequência os veículos de coleta de lixo passam em sua rua?
HS: Atualmente, moro no Centro. Na minha rua, passa todo dia.
E como funciona a coleta seletiva onde você mora?
HS: Lá não tem coleta seletiva, é tudo no mesmo lixo.
A questão da coleta inadequada do lixo também pode ser discutida como questão de desigualdade social. Em sua opinião, um bairro nobre aqui da cidade teria esse problema de coleta irregular como, por exemplo, em bairros periféricos?
HS: Provavelmente, não. Desde que eu mudei pro Centro, a coleta de lixo é feita diariamente e quando eu morava no Tijuco era duas vezes na semana. Então, acho que isso reflete muito a questão da desigualdade social.
Em sua opinião, existe uma falta de conscientização dos moradores em relação ao descarte inadequado do lixo? Se sim, qual a relação dessa questão com o aumento da problemática?
HS: Com certeza. Geramos muito lixo, mas não sabemos lidar com ele e nem reciclar. Acho que as pessoas não tem muita educação ambiental e isso acaba influenciando no aumento do lixo acumulado.
Pra você, qual o papel da prefeitura na gestão do lixo?
HS: É a prefeitura que vai fiscalizar e organizar a questão da coleta seletiva. Acho importante que ela não deixe de lado os bairros mais pobres, que lá também haja uma atenção em relação ao lixo e que isso não seja feito somente no centro ou em lugares turísticos da cidade.
Quais medidas podem ser tomadas para que esse problema seja solucionado? Quem poderia realizá-las?
HS: Acho que programas de conscientização e de educação ambiental,para que os moradores possam se conscientizar. A prefeitura vai ter uma função importante nisso, tanto nos programas educacionais quanto na questão da coleta do lixo.

Foto: Yuri Henrique