Os Três Porquinhos, dos livros para o palco: Rascunho Coletivo se apresenta gratuitamente em São João del-Rei
Por Ana Julia Barbosa, Gabrielli Caldeira, Rafaela Nery e Rafaela Tarsitani Reis

Nascido em 2023 no seio do curso de teatro da Universidade Federal de São João del-Rei, o Rascunho Coletivo surgiu do encontro entre Diego Fernandes, Henrique Fid, Isabela Andrade e Marcela Lemos. O grupo nasceu da inquietação de seus membros com os limites do teatro universitário e da vontade de levar a arte cênica para a sociedade são-joanense. “Eu gosto de falar que o Rascunho surge desde a necessidade de fazer teatro”, relata Diego.
O clássico infantil ganha uma nova versão neste espetáculo, Pururuquinha, Baconzita e Presentinho Pig passarão por momentos desafiadores ao lado do Lobo Mau, sem perder sua essência mas com um toque de modernidade. “O mais legal é realmente dialogar com a criança da forma que ela entenda. Eu consigo transformar a minha forma de falar em uma que chegue a elas”, relata o diretor do espetáculo.
O intuito principal do coletivo é levar o teatro para a população marginalizada (escolas públicas, principalmente as periféricas, e instituições de assistência social, como APAE e Casa Lar), dando oportunidade de uma experiência nova para essas crianças. “Nós do Rascunho, também viemos de uma realidade periférica e invisibilizada. Eu, por exemplo, fui tocada por essas ações. Acho então que é um pouco de dar continuidade”, expôs Isabela.
O transporte público, para levar as crianças ao teatro, segue sendo o maior desafio que o grupo encontra. O espetáculo é montado para o público infantil mas a própria instituição não pode comparecer por falta de suporte à locomoção. “Estamos enfrentando muita dificuldade de levar as crianças da escola, porque como é que as crianças vão? É difícil levar elas de fato, mesmo com o incentivo e com a prefeitura apoiando, não está sendo fácil”, relata Henrique Fid.

Pela primeira vez o coletivo recebe uma verba para montar o espetáculo, através da inscrição na Lei Aldir Blanc, que tem como objetivo fomentar a cultura nacional. “É a primeira vez que a gente recebe alguma “grana”. Porque de resto, desde que surgiu em 2023, investimos do próprio bolso”, comenta Henrique Fid.
O coletivo, desde seu princípio, prioriza democratizar o acesso ao, algo, muitas vezes não visto como necessário. Para Isabela, a arte não é só um ramo profissional, mas sim uma forma de expressão que lida com sentimentos e que, por isso, faz sentido. O coletivo, assim, se faz presente para implementar essa mentalidade. “As pessoas não conseguem ver que a arte é tão necessária e tão presente na nossa vida, não só como estética mas também como aprendizado, como expressão, como uma medida terapêutica. A arte é muita coisa” afirma. Diego, nesse viés, complementa de modo sincero: “Vai muito além do que a gente vai ganhar com isso, porque se fosse para ganhar dinheiro, eu não estava fazendo teatro”
APAE
A APAE de São João del-Rei recebeu o convite do coletivo para levar suas crianças para a apresentação. Em conversa com a diretora da instituição, Dorinha Teixeira, a importância de seus alunos fazerem parte de eventos como esse é ressaltada. “A gente faz todo o esforço para estar participando, porque eu acho que é legal propiciar esse tipo de atividade para as crianças, visto que a grande maioria não tem essas possibilidades no dia-a-dia, enquanto família”, afirma.
Para que os assistidos da instituição aproveitem melhor o espetáculo, os professores já estão desenvolvendo a temática em sala de aula: “Os professores estão contando a história e trabalhando algumas atividades relacionadas ao (livro) Três Porquinhos. Por que isso? Para que eles cheguem lá já entendendo melhor o enredo como um todo, o que está acontecendo”. Explica Dorinha que a previsibilidade é essencial para que as crianças se preparem para sair da rotina.
A saída da instituição também é uma forma de reforçar a presença das crianças da APAE na comunidade, muitas vezes negligenciada. Mais que isso, é uma atividade que desperta o interesse real delas: “Crianças gostam de sair um pouquinho também da sua rotina escolar. Só de estar pegando um ônibus, ir para um momento, um lugar diferente, é ótimo. A gente também vai fazer um lanche diferenciado, um horário diferenciado”, relata a diretora.
Conforme mencionado pelo Rascunho Coletivo, um dos obstáculos sempre presentes nessas situações é a falata de transporte adequado. Atualmente a APAE utiliza o transporte do município para buscar e levar as crianças, porém não contempla passeios. Nesse evento em questão, só será possível levar os alunos, pois a instituição pediu ajuda a um parceiro que cedeu o ônibus. A APAE só se responsabilizará com o gasto com combustível.
Apesar dos desafios, a expectativa da equipe é alta, segundo Dorinha. Com base em experiências anteriores, o encanto dos alunos é algo certo: “É incrivel isso, eles voltam super felizes, voltam cheios de inspiração”, diz.
SERVIÇO
Data: 29 e 30 de maio
Horário: 15h
Local: Teatro Municipal
*Acessível em Libras
Garanta seu ingresso pelo Sympla (acesse o site ou o link na bio do Instagram @rascunhocoletivo).
Arrecadação voluntária: leve 1kg de alimento não perecível na entrada.