Por Ana Cláudia Almeida e Igor Chaves

Em 13 de julho de 1985, aconteceu simultaneamente em Londres (Inglaterra) e na Filadélfia (Estados Unidos) o lendário festival beneficente Live-Aid, marcado por apresentações de artistas consagrados no meio do rock. Levando ao êxtase milhares de presentes e bilhões de telespectadores, esse dia se tornou um marco na história da música e, mais precisamente, do rock’n’roll. Atualmente, o dia 13 e o mês de julho carregam um significado especial para os fãs deste estilo de intensa energia.  

Bowie no Live-Aid
David Bowie no palco do Live-Aid (1985). Foto/Reprodução: Pictorial Press Ltd

A origem do rock’n’roll está ligada aos Estados Unidos dos anos 1950. Caracterizado por um som marcado pelo uso de guitarras elétricas, uma batida consistente e vocais energéticos, o gênero se deu por uma fusão de ritmos como jazz, blues, country, folk e gospel. Então inserido em uma sociedade extremamente conservadora, essa quebra de paradigmas sonora já representava um potente impacto cultural.

Em síntese, com letras voltadas para amor, questões sociais e diversão, as canções refletiam uma vontade e necessidade de mudança. Para o são-joanense ouvinte e músico do gênero, Manoel Reis, 28, o clichê da rebeldia atrelada ao nascimento do estilo se justifica pela transição de pensamento e comportamento observada nesta época: “É isso, a galera queria se expressar. A juventude queria se expressar […] Colocaram isso em música, em atitude, em roupas, o rock’n’roll veio disso.”

Rock’n’roll na veia

Tratando-se de um gênero musical diversificado e com elementos típicos marcantes, a atração e identificação com o rock é algo que atinge facilmente diversas gerações, principalmente a dos jovens. Foi o caso de Theo Mendes, 25, vocalista das bandas Atlantis e Theo Jess & the Blacksheeps, além de parceiro no duo Theo Mendes e Jess Rio: “Não tem muito segredo, o rock abrange uma variedade de músicas que outros gêneros não abrangem, então foi muito fácil gostar desse estilo. Nem todos são do rock, mas o rock é pra todos”. 

Para Manoel, ou “Nenel” para os íntimos, um caminho inusitado o encaminhou ao gênero agitado. Surpreendentemente, ao começar a frequentar uma igreja evangélica, sua admiração pela bateria surgiu. Durante o aprendizado do instrumento, induzido a escutar rock, influências diretas passaram a preencher a sua vida: “A gente via muito rock na televisão, mas quando eu tinha meus 15 anos o que me pegou foi aquela febre do Restart (…) Eu tinha calça colorida, enfim, era um fã de Restart. E dali, eu fui conhecendo o emo que estava fazendo sucesso na época, tipo o NX Zero, o Fresno “. 

Os rocks do rock

Tendo sido o Movimento do Rock alavancado por vocalistas ousados e talentosos, como Elvis Presley e Little Richard, a popularização global do gênero gerou inúmeros subgêneros ao longo das décadas, como punk rock, hard rock, heavy metal, grunge, e muitos outros. Cada um possuindo características próprias bem definidas, ocasionou a atual a existência de nichos sociais ligados ao gênero. 

Manoel diz considerar as fases da vida e as companhias fatores determinantes para a inserção em determinada subcultura do rock. Confessando ter sofrido influência musical de conhecidos ao adentrar no universo do skate, o entusiasta do estilo há pelo menos 10 anos citou sua transição de encanto passando por grupos clássicos de heavy metal, depois punk e, por fim,  grunge. Além disso, atualmente atuando por trás dos palcos, uma participação em banda foi outro momento especial atrelado ao gênero que ele relatou. 

Manoel tocando na banda Dedo do Meio.
Manoel integrou o grupo Dedo do Meio de 2014 a 2016. Foto: Arquivo pessoal/Manoel Reis

A banda Dedo do Meio, originária de Santa Cruz de Minas e formada em 2012, já teve algumas formações diferentes e foca em músicas autorais e covers em seus shows. “Quando eu comecei a andar de skate eu conhecia os caras que tinham uma banda totalmente de rock and roll, zona raiz, skate puro, e eu fiquei doido, ia no show dos caras e curtia muito. Aí, um deles saiu da banda, me chamaram e deu certo. (…) Muito legal, foi uma época que a gente fez alguns shows em São João, a galera nos conheceu bastante e nisso a gente se organizou para gravar uma demo”, conta animado. 

Para Jessyca Rio, 27, integrante da banda Theo Jess & the Blacksheeps, e também do duo Theo Mendes e Jess Rio, são essas ramificações que tornam o rock tão especial. O próprio gênero alcançou gerações mais novas no apogeu dos anos 2000, quando se popularizou através do  happy rock e do power pop. Segundo a cantora, nas últimas décadas o rock’n’roll se viu em caminhos antes inimagináveis. Sobre essa amplitude, Jess Rio comenta: “O que mais me atrai no rock é a versatilidade em poder cantar e compor sobre diversos assuntos, e explorar o gênero mediante diversos subtipos.”

O rock no Brasil e em São João del-Rei

No Brasil, nomes como Paralamas do Sucesso e Titãs aparecem quando falamos de rockwave. No mais, o pop rock nacional consagrou artistas, como Rita Lee e Cazuza. Em suma, a ascensão do estilo marcou gerações, porém atualmente, seus subgêneros estão cada vez mais independentes, se distanciando de sua origem e assumindo locais antes preenchidos pelo clássico rock’n’roll. Jessyca Rio classifica esse processo como natural: “O rock teve sua época de auge. Hoje em dia, outros gêneros musicais dominam. No futuro, é possível que ele tome novamente um lugar de destaque. O mundo está em constante evolução e os gêneros musicais precisam disso também”.

A compositora e musicista, junto de seu irmão, o já mencionado Theo,  começaram sua jornada musical bem novos. Juntos, eles encontraram na arte um espaço de afinidade e liberdade e enxergaram esse ambiente de conforto como uma oportunidade de negócio nos palcos de São João del-Rei. “Foi difícil no começo mas hoje já posso dizer que consigo viver fazendo apenas o que amo”, Theo confidenciou.

Irmãos Theo e Jessyca.
Os irmãos Theo Mendes e Jessyca Rio. Foto: Arquivo pessoal/Reprodução

Ao longo do último ano, os irmãos se apresentaram em diversos bares, pubs e eventos da cidade. Na frente do público, conseguem ter a certeza de que trilham o caminho certo, agora no backstage, a situação é um pouco diferente. Tanto Theo quanto Jessyca sentem que o apelo cultural movido por São João del-Rei deixa a desejar quando o assunto é rock e espaço: “Para os músicos, principalmente do pop e rock, não há muitos eventos públicos que nos beneficiem. O setor privado, como bares e casas de shows, são os que mais geram oportunidades para nossa área”. 

Novos caminhos

Esse momento do rock não é exclusivo da região das Vertentes. Nas últimas décadas, assistimos um movimento contrário àquele que acendeu o gênero no século passado. No Brasil, festivais consagrados graças aos músicos do rock’n’roll tentam encontrar novos rumos, buscando se reinventar. Sobre esse tópico, Theo Mendes cita o famoso Rock in Rio, lançado na década de 1980: “No Brasil o rock e a evolução não andam juntos, nem no mundo. Hoje em dia, esse estilo musical está ficando escasso […]. Um exemplo disso é o Rock in Rio estar repleto de artistas do pop e do funk, um local que antes era o epicentro do rock”. 

Contudo, embora esteja em conflito com o passar do tempo, em São João del-Rei especificamente, “aos trancos e barrancos”, o rock’n’roll ainda se faz presente: “O público ama o rock […]. O rock em SJDR diminuiu em relação aos músicos, mas a aceitação ainda é sempre boa, até porque o que é bom, pode passar o tempo que for, vai continuar sendo bom”, reforçou Theo. Para ele e Jessyca, uma solução seria desenvolver mais iniciativas que dessem oportunidades para artistas e bandas regionais.

Assim, o mês do rock celebra os músicos, os fãs e todos os outros que fazem e fizeram parte do movimento. Manoel, Jessyca, Theo, as bandas Dedo do Meio, Atlantis e os Blacksheeps, assim como o cenário cultural de São João del-Rei, Minas e do Brasil, se unem para reforçar a história do rock’n’roll e marcar as páginas dessa jornada. Do indie rock ao punk, no fim do dia, o que vale focar, nas palavras de Jess, é “acreditar, se permitir e sempre seguir em frente.” 

SERVIÇO 

Para acompanhar e aproveitar o trabalho de artistas do rock da região, acesse:

Instagram

Dedo do Meio – @osdedodomeio

Theo Jess & the Blacksheeps – @bandablacksheeps

Rock SJ – @rock_SJ

SoundCloud 

Demo da Banda Dedo do Meio: https://m.soundcloud.com/kakko-j-sef-wojtylla/5-dedo-do-meio-sexta-feira-13