Início das aulas no Cursinho Popular Edson Luís: O começo de uma jornada até o ENEM
Por Ana Julia Barbosa e Lídia Oliveira
Em abril, o Cursinho Popular Edson Luís (CPEL) iniciou o período de aulas com duas salas de 30 alunos, uma ampliação significativa, visto que, em anos anteriores, o curso ocupava apenas uma sala do campus Dom Bosco da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). O projeto, uma iniciativa do Levante Popular da Juventude, tem como maior objetivo auxiliar os filhos da classe trabalhadora a entrarem na universidade pública e transformar a realidade do ambiente acadêmico, que ainda não abarca a totalidade da juventude estudantil.
A organização do curso é coletiva e horizontal, sem cargos fixos ou hierarquias. Os próprios participantes são responsáveis pela construção e manutenção do projeto, de forma colaborativa e democrática. Os educadores são estudantes da UFSJ que, para conduzirem as aulas, passam por uma seletiva e uma preparação.

Educadores
Um dos educadores do projeto é o estudante de Letras Lucas Martins Pereira, que retornou este ano para o cursinho após um ano afastado. Do início de 2023 a 2024, Lucas lecionava no cursinho, mas por muitas demandas, entre elas o encerramento do seu TCC, preferiu afastar-se das aulas, conforme relata: “Para não correr o risco de não dar uma aula boa, não fluir muito bem para os alunos e afetar eles negativamente.”
O universitário ressalta que voltou para as salas por gostar de dar aula e por querer encontrar sua forma de lecionar: “Minha meta era me conhecer como professor, como educador, e saber como conciliar um ensino crítico com o conteúdo.”
No CPEL, Lucas ensina literatura e trabalha com seus alunos, além de leituras, o desenvolvimento do senso crítico. “É muito bonito esse ensino crítico, pensar a sociedade, pensar como as coisas são[…] auxiliar com que a mente deles trabalha por si só, pensando de uma forma mais autônoma”, relata.
O professor evidencia, ainda, como o cursinho popular é um espaço de construção coletiva de conhecimento e um lugar de liberdade metodológica: “nós podemos auxiliar com a nossa própria metodologia, nós podemos trabalhar por nós mesmos com o auxílio de um maior.”, expõe. Segundo o educador, sua experiência com o ensino público pode ser ampliada na participação do projeto, pelo qual é possível a leitura de textos críticos, complexos e que tratam de questões relativas ao ENEM e, ao mesmo tempo, sociais.
O cursinho foi um divisor de águas na minha vida, como universitário, como professor, minha vida acadêmica por inteiro.
Lucas discorre sobre sua relação com a literatura e sua descoberta profissional, motivos que o levam a ser um educador hoje e a participar ativamente do CEPEL. Segundo o docente, a relação com o ensino vem de família e das leituras que fazia com os avós, além de ter tido contato com o ensino quando auxiliava os primos nos estudos. Desde então e, a partir da ligação com os textos literários, os quais o fizeram se sentir pertencente, sua vida se transformou pela prática docente de literatura. Nas palavras do professor: “quando[…], no curso de letras, que eu fui pra sala de aula, que eu peguei o estudo pra literatura, tá brilhando mais que o sol agora na minha vida”.
Da mesma forma, a educadora Lívia da Silva Leite enxerga o cursinho popular como uma grande oportunidade de explorar sua docência e proporcionar aos educandos uma visão diferente acerca da educação. A mestranda de Letras é professora do projeto desde agosto de 2024 e dá aulas de redação, a prova de maior peso no ENEM.
Lívia conta que sempre sonhou em ser professora, e o caminho da licenciatura foi natural para ela. “Sempre tive essa vontade de ser professora. Principalmente de língua portuguesa, que é uma coisa que eu gosto”, assim ela relata.
Ela entrou para o cursinho com a vontade de ajudar os alunos a conseguirem suas vagas na universidade pública. “Achei muito interessante poder contribuir com esses jovens que realmente querem estudar. E contribuir com a formação deles para entrar na universidade pública.” Além disso, essa foi a oportunidade que encontrou de estar em sala de aula enquanto termina seu mestrado.
A prova de redação do Enem, sem dúvidas, é a mais temida entre os alunos. A prova se caracteriza por sempre tratar de temas atuais e sociais. Dessa forma, Lívia prepara seus alunos trazendo debates sobre questões de minorias e temas sociais, e a educadora já observa os resultados: “Foi bem interessante ver que o trabalho tem dado resultado. Que eles se sentem mais críticos para escrever. E têm mais domínio do que vão falar.”
O Cursinho Popular Edson Luís não só proporciona esses aprendizados aos educandos, mas também aos educadores. Todos os anos são abertas inscrições para os universitários que desejam dar aulas ou entrar para algum núcleo do projeto. Esses profissionais lidam diretamente com os sonhos de jovens que desejam entrar na faculdade pública, lugar esse que ocuparam há pouco tempo atrás.
Educandos
Entre os alunos deste ano, Pedro Henrique Nogueira entrou com o objetivo de migrar de curso. Hoje ele faz Engenharia Elétrica, mas gostaria de mudar para Psicologia. Ele nos conta que descobriu o cursinho através de um amigo, que viu sua dificuldade em encontrar um cursinho acessível financeiramente, e então indicou o Cursinho Popular Edson Luís.
Para o educando, uma das maiores qualidades do cursinho é a assertividade dos conteúdos. Ele comenta que os professores mostram o que realmente cai na prova e direcionam melhor os estudos: “Todas as matérias, a gente sempre vem fazendo questões que caem nos Enem passados, trabalhando temas que podem cair no Enem desse ano.”
Pedro comenta que se surpreendeu com a qualidade das aulas que o projeto oferece: “Tem aula que eu tenho no cursinho que é melhor que as aulas que eu tenho na faculdade.”
Além disso, algo que chamou sua atenção foi a dedicação dos educadores, voluntários que estão ali por amor e pela crença na transformação pela educação. “Os professores que estão lá não recebem bolsa, eles estão lá porque gostam mesmo de dar aula, porque têm paixão por isso.”
Para ele, o CPEL é uma porta que se abre para um futuro melhor, onde é possível cursar uma universidade pública, fazendo questão de divulgar essa iniciativa: “É importante informar que a faculdade pode ser acessível para todo mundo.”
Na mesma jornada, a educanda Nicole Alice Ribeiro, natural de São João del-Rei, é uma jovem de 19 anos que sonha em cursar Medicina. E foi através do projeto que ela teve a oportunidade de estar em um cursinho de preparação para o Enem.
Nicole nos conta que já conhecia o cursinho pelas redes sociais e por um primo que fez parte anos antes. Assim que soube das inscrições, ela realizou o questionário e comenta que não sentiu dificuldade em se inscrever: “Foi muito fácil, foi acessível pra mim.”
Assim como Pedro, a educanda também ficou impressionada com a qualidade e dedicação dos professores. Ela conta que, por ser tímida, sempre teve receio de perguntar, mas que no cursinho ela não sente essa dificuldade: “Os professores são muito atenciosos… e eu tô achando excelente.”
Além disso, segundo ela, o material disponibilizado é organizado e acessível para todos os alunos, o que facilita os estudos: “Eles têm o material organizado no Drive… o que é uma ajuda de extrema importância.”
Nicole foi aluna da rede pública a vida toda e encontra desafios para entrar em uma universidade pública, concorrendo com alunos que tiveram uma melhor formação: “O aluno da escola pública para a escola particular já não tem o mesmo ensino… é inútil, na verdade comparar.” E, através do cursinho, ela vê que é possível realizar seu sonho de ser médica.
Por isso, a estudante é muito entusiasta do projeto. Ela acredita que mais iniciativas como essa seriam a porta de entrada dos filhos da classe trabalhadora para o ensino superior: “Eu acho que o CEPEL é uma iniciativa que deveria ter no Brasil inteiro.”
Cursinho Popular Edson Luís
Esse projeto, fundado pelo Levante da Juventude, é muitas vezes a única oportunidade de um jovem entrar para um cursinho e, assim, ter a chance de chegar à graduação. Esse é só o começo de uma jornada de muita dedicação e estudos, mas os resultados sempre são muito satisfatórios para todos do Cursinho Popular.