Por Dirceu Vieira

… com produção de Luís Firmato e direção de Paloma Arantes e Mariana Barbosa, o espetáculo teatral “Ensaio para o fim” (2023) integra e continua o projeto MAPA Teatro e outras linguagens, que surge em 2020 com criações como “Sob o mesmo teto” (2020), “mormaço” (2021) e “ainda estamos aqui” (2021), buscando experienciar vivências artísticas que rasurem ou borrem fronteiras entre diferentes fazeres artísticos e que explorem construções criativas em uma cartografia que integra e amplifica diferentes linguagens. O texto escrito por Paloma Arantes dialoga com obras de escritoras como Clarice Lispector e Virginia Woolf e apresenta discussões e reflexões sensíveis sobre vida, existência, tempo, movimento, memória, amor e morte, convidando o espectador a tomar parte naquilo que pulsa e irrompe dos interstícios em relação aos quais a vida em si é arbitrário movimento imprevisível contínuo.  

, em “Ensaio para o fim”, as atrizes Paloma Arantes e Mariana Barbosa protagonizam Julieta e Julieta em um texto circular por meio do qual a fugacidade enreda aquilo que escapa como movimento e rastro, conferindo ao argumento da peça um espelhamento em que atrizes e público intercalam percepções compartilhadas em um jogo cênico polifônico e transubjetivo. Nesse sentido, as complexidades humanas, a brevidade da vida e os momentos efêmeros são pautados na tentativa de desafiar a linearidade do tempo, posto que, como é ressaltado pelas atrizes: “todo começo é uma vírgula”. Metalinguagem, metateatro e metadiscurso são engendrados como aspectos constitutivos das dinâmicas cênicas que coadunam recomeços e pulsão de vida como premissas dramáticas. 

_ _ _ _ _ _ como uma “pequena coreografia do adeus”, as atrizes se movimentam no cenário que não precisa de subterfúgios, uma vez que a própria cena se impõe pelo texto e pelos corpos/presenças como uma “aprendizagem ou o livro dos prazeres”, por meio da qual “as ondas” vertiginosas daquilo que interiorizamos nos transcendem em outros de nós no espaço intangível daquilo que nos escapa.

 

Assim, Clarices, Macabéas, Loreleys, Virginias, Clarissas, Júlias, Julietas, Palomas, Marianas e tantas outras são reverberadas como ecos de nós mesmos e de nossos questionamentos sobre a vida e seus porquês, convidando o olhar sensível e atento a dizer sim, já que “Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida.”