Paulo Veloso 

João Murad 

João Gabriel Gusmão

 – graduandos em Comunicação Social/Jornalismo na UFSJ

Aquele dia 31 de março marcava meu retorno ao Auditório do Campus Dom Bosco. Havia estado ali, última vez,  na minha cerimônia de formatura há 20 anos. Como daquela vez, tínhamos o espaço lotado, apertado, com gente saindo pelo ladrão (expressão de 20 anos atrás?). O público majoritário, porém, era muito diferente em suas vestimentas, comportamentos e, por que não dizer, faixa etária. Não estavam ali para mais uma enfadonha cerimônia de formatura, com seus discursos intermináveis, homenagens ídem e aquela velha sensação de “já vi este filme”. A moçada (moçade?) versão 2023 estava ali para ver e ouvir um ídolo, próximo aos astros do cinema ou do rock. Estavam ali aguardando a deputada federal Duda Salabert, um dos símbolos da luta LGBTQIA +. 

O atraso, de mais de meia hora, foi digno dos grandes eventos brasileiros onde se apresentam celebridades. Havia transmissão da TV UFSJ.  No intuito de ter uma visão melhor do que estava acontecendo, acessei o canal. A transmissão não estava uma TV Globo, com sons e imagens impecáveis, mas cobriu o evento. Deixo minha rabugice de lado e agradeço à TV por registrar a chegada da professora Duda Salabert que se sentou  junto ao povo, na primeira fileira de cadeiras. Confesso a vocês que a silhueta de Duda Salabert impressiona: esguia, alta, postura clássica das antigas professoras, é uma pessoa muito bonita e simpática. O seu gestual com as mãos comunica tão bem quanto suas palavras. Ops, a cerimonialista anuncia a presença de Duda! Êxtase total. Coisa linda de se ver!

Lembra dos discursos que pareciam intermináveis das cerimônias de formatura? Não faltaram. Entre eles o do reitor da UFSJ, que aproveitou para alfinetar o ex-presidente e “ganhar o público”. Pensava eu que a rabugice era Velosiana (brincadeira de minha esposa), mas, ao lado e atrás de mim havia muita gente como eu querendo ouvir o que a Duda tinha pra  dizer. Até entendo que se tratava do lançamento oficial da comissão que iria discutir a temática da diversidade  sexual e de gênero na educação superior na UFSJ. Mas o que queríamos, de verdade? 

A deputada federal Duda Salabert debatendo sobre diversidade sexual e de gênero na educação superior no CDB da UFSJ - TV UFSJ - 31 de março de 2023
A deputada federal Duda Salabert debatendo sobre diversidade sexual e de gênero na educação superior no CDB da UFSJ – TV UFSJ – 31 de março de 2023

Ouvir a Duda Salabert falar sobre os altos índices de assassinato da população Trans/Travestis foi doloroso e importante. Doloroso saber que não só se mata, mas usa-se de crueldade para matar. Ódio. Ouvir Duda falar dentro de uma universidade pública que a maioria das Trans/Travestis não possuem sequer o ensino médio foi impactante. Saber que a atuação parlamentar de Salabert vai além da temática de gênero é reconfortante. Perceber que a fala da deputada, empodera, encoraja, move estruturas (como a da UFSJ) para os grupos historicamente discriminados, faz com que passemos a acreditar mais nas lutas sociais. Não sei se concorda o leitor, mas nos parece que a sociedade (e até setores reacionários) já passaram a normalizar a atuação/presença dos homossexuais após uma luta bonita e difícil. Agora é a vez das trans/travestis. Voltando à fala da Duda, quando conta sua experiência pessoal como professora, em colégio famoso de BH, faz-nos repensar no modo como tendemos a ver o outro: ela conta que poderia ser professora do ensino médio, nunca trabalhar com crianças porque o comportamento trans é relacionado à pedofilia, zoofilia e outras aberrações sexuais. Ali quis fazer um exame de consciência (tempos de quaresma católica) e resolvi confessar pra vocês que a primeira coisa que imagino em uma pessoa não hétero é o seu lado sexual. Redução pouco inteligente, admito.

Valeu ter ido ver e ouvir a Duda falar. Valeu saber que há pessoas na UFSJ que se interessam em tornar o ambiente de convivência universitária mais rico, diversificado e humano. 

Se após o evento a deputada Duda Salabert  utilizou o banheiro feminino? Não sei. O que sei é que esta discussão tenderá a sair do terreno do ódio ideológico e ir para o da compreensão, do conhecimento e empatia, após o estabelecimento da política institucional que promova a equidade e igualdade de gênero e o combate às violências contra as mulheres e as pessoas LGBTQIA + na UFSJ. A revolução começou neste 31 de março.