Central Única das Favelas: A voz que ecoa nas comunidades chega a São João del-Rei
CUFA se estabelece no bairro Araçá
Por Ana Luiza Fagundes e Késsia Carolaine
A Central Única das Favelas (CUFA) é uma organização não governamental fundada em 1999 por Celso Athayde, na Cidade de Deus. A instituição social, que gerou e ainda gera a mudança de vida e sonhos de jovens periféricos, está presente em todo o Brasil e em 15 países ao redor do mundo, promovendo atividades nas áreas da educação, lazer, esportes, cultura e cidadania. Através de projetos, milhares de assistidos têm contato com elementos culturais distintos, como o grafite, o break, o rap, produções audiovisuais, basquete de rua, literatura, e outros.
No dia 06 de junho de 2024, a CUFA se estabeleceu em São João del-Rei através de Denis Silva, Sandro Nascimento e Patrícia Alves. Na visão dos habitantes e turistas, a cidade não tem favelas, porém na visão de Denis, um dos coordenadores, a estrutura organizacional da cidade faz com que bairros semelhantes ao do Araçá, onde se localiza a sede, tenha as principais características – com crianças e jovens sem espaço de lazer e atividades, estimulando a passarem mais tempo nas ruas e expostos a diversas realidades. O objetivo é dar um sentido na vida desses jovens e oportunidade, como destaca Sandro: “As pessoas ainda veem moradores da favela como subprodutos, quando precisam de alguém para trabalhar buscam na periferia. Porém, essa é a única oportunidade que é dada para esses jovens, queremos expandir o leque”.
O projeto se move pela cidade, o foco é se estabelecer em um bairro e caminhar para o próximo, além de causar impacto em toda a estrutura do município. Denis relata que essa forma de agir do projeto se deve muito à história de um dos idealizadores. Celso Athayde passou por um período difícil em sua vida, morando na rua com sua família e, posteriormente, trabalhando em subempregos até se engajar em projetos sociais voltados para as crianças e adolescentes em sua comunidade, e conseguir apoio, expandindo para outros lugares. A sua trajetória, e a da CUFA, não está ligada à ideia de meritocracia, mas à de que a transformação da vida desses jovens tem um impacto positivo na cidade em que vivem, no estado e no país.
A abertura da CUFA em São João del-Rei já era um desejo antigo de Sandro. Ele comenta que não houve grandes dificuldades para a organização se estabelecer na cidade, e que a CUFA foi abraçada com muita esperança pelos moradores, principalmente na área cultural pois, segundo ele, “Muita gente não é assistida por nenhum órgão da cidade, que já foi muito importante para a cultura brasileira”. Apesar de haver uma hierarquia na organização, para Sandro, a CUFA é de todos e todos devem se sentir pertencentes à organização.
A periferia tem uma imagem que, constantemente, é vinculada a coisas pejorativas, como a criminalidade. Outra ideia, fortemente reforçada, é que há apenas moradores pretos. Denis diz que também há pessoas brancas, e que, por residirem na periferia, há um preconceito que atravessa essas pessoas. Patrícia, que também é uma das coordenadoras da organização em São João del-Rei, comenta que, apesar das atividades voltadas para pessoas negras, a CUFA trabalha e abraça a todos.
Realidades diferentes não podem impedir o senso de comunidade e empatia pelo próximo. O resultado de ver uma pessoa conquistando seus sonhos, a trajetória e evolução do CUFA e o poder de transformação que as pessoas têm na mão, são os motivos que fazem Sandro, Denis e Patrícia continuarem realizando um trabalho que leva perspectiva, esperança e oportunidades para a periferia.
Serviço
Acompanhe o trabalho a CUFA em São João del-Rei pelo Instagram: @cufasjdr